Hospital londrino aprova transplante integral de rosto
A comissão de ética do Royal Free Hospital, em Londres, aprovou a realização de quatro transplantes integrais de rosto que serão os primeiros da história. Ainda não foram selecionados candidatos para se submeterem às cirurgias.
Publicado 25/10/2006 11:51
“Agora continuaremos analisando os prontuários dos pacientes para chegar aos selecionados”, informou nesta quarta-feira (25/10) o porta-voz do hospital, Neil Huband. De acordo com ele, a elaboração da lista de candidatos para as cirurgias deverá demorar de seis meses a um ano.
O comitê de ética do hospital autorizou a solicitação apresentada pela equipe do professor Peter Butler, que diz estar “encantado” de ter esta oportunidade.
O professor Butler, um especialista em cirurgia reconstrutiva, trabalha no projeto há quase 14 anos neste mesmo hospital do norte de Londres. Em dezembro de 2005, ele havia obtido autorização para efetuar uma pré-seleção de pacientes capazes psicologicamente de suportar semelhante operação.
Até agora, dois pacientes no mundo foram submetidos a um trasplante parcial de rosto: Isabelle Dinoire, na França, em novembro de 2005, e Li Guoxing, um camponês chinês de 30 anos, em abril deste ano. Nos Estados Unidos, uma clínica de Cleveland também tem planos de promover um transplante integral.
Francesa retoma vida “normal”
Em novembro de 2005, Isabelle Dinoire se tornou a primeira pessoa a receber um transplante facial. Dez meses depois da operação, ela tenta reconstruir sua vida e sabe exatamente como se sente depois de ver-se com um novo rosto.
“Fui salva. Muita gente me escreve dizendo que devo continuar e isto é maravilhoso. É um milagre”. Dois dias depois da cirurgia, ela viu seu rosto no espelho pela primeira vez. “Tinha medo de olhar-me, mas, quando fiz, foi maravilhoso e não podia acreditar. Notei que a pele estava azul e inchada, mas era bonita”.
Os médicos do hospital Universitário Amiens, na França, que realizaram a operação em Isabelle Dinoire estão muito satisfeitos com o progresso da paciente. Apesar de alguns sinais de rejeição no início, Isabelle recuperou a sensibilidade na área transplantada.
A rejeição ao novo tecido está sob controle através do aumento da dose dos remédios imuno-supressores, que ela terá de tomar para o resto da vida. Entre os riscos para quem toma estas drogas, está uma maior probabilidade de desenvolver câncer e a redução da expectativa de vida entre 10 e 20 anos, segundo os médicos.
Apesar das críticas feitas antes da decisão dos cirurgiões de fazer o procedimento, os médicos defendem a operação. “Era possível para ela viver sem rosto?”, pergunta a médica Sylvie Testelin. “Antes ela não podia viver. Não se reconhecia e se assustava. Ninguém pode viver assim”.
O cirurgião maxilo-facial Bernard Devauchelle assinala: “existem poucas pessoas que se opõem a esta operação. Mas hoje em dia todos concordam que o resultado foi excelente e que fizemos a coisa certa”.
Quando decidiram fazer a cirurgia, Bernard perguntou se Isabelle realmente queria fazer aquilo. Isabelle respondeu que “aconteça o que acontecer, esta é uma batalha em que já tomei minha decisão”.