Japão considera fabricar armas nucleares
O chanceler japonês, Taro Aso, disse ontem (18/10) que “não há nada de errado” em discutir se o país deveria ter armas nucleares, embora tenha observado que Tóquio não tem a “intenção” de adquiri-las.
Publicado 19/10/2006 11:01
No domingo, um dirigente do partido governista disse que o Japão, o único país a ter sofrido um ataque nuclear clássico na história, precisa discutir a conveniência de obter armas atômicas, em resposta ao teste nuclear norte-coreano da semana passada. A Constituição pacifista do Japão, adotada após a Segunda Guerra Mundial, proíbe que o país tenha essas armas.
“Quando um país ao nosso lado chega a ter (bombas atômicas), não podemos considerar, não podemos conversar, não podemos fazer nada, não podemos trocar opiniões. Essa é uma forma de pensar. Acredito ser importante ter várias discussões a respeito, como uma forma a mais de pensar”, disse Aso a uma comissão de assuntos exteriores da Câmara dos Deputados.
Na sessão, os parlamentares discutiam o que o Japão deveria fazer em reação ao teste norte-coreano.
“A realidade é que só o Japão não discutiu possuir armas nucleares, e todos os outros países discutem”, afirmou Aso.
Mais tarde, porém, ele disse em entrevista coletiva após reunião com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que o Japão não tem planos de obter armas nucleares nem a necessidade disso.
“O governo japonês atualmente não tem absolutamente nenhuma intenção de se preparar para possuir armas nucleares. Não há necessidade de ter armas nucleares, pois o marco de segurança Japão-EUA será ativado para a defesa do Japão (em caso de ataque norte-coreano), e a secretária Rice acaba de confirmar isso”, disse ele na entrevista ao lado de Rice.
O primeiro-ministro Shinzo Abe deu nesta semana garantias de que o Japão manterá os auto-impostos “três princípios não-nucleares” — não possuir, não produzir e não importar bombas atômicas. Nesta quarta-feira, Abe negou que o gabinete esteja dividido a respeito. Relatório feito por deputados republicanos dos Estados Unidos, dias antes do teste norte-coreano, alertava que tal teste poderia levar Japão, Coréia do Sul e Taiwan a criarem programas de armas nucleares, acarretando sérios riscos à estabilidade regional.
Embora negue a disposição de fabricar ou obter armas nucleares, o primeiro-ministro continuará tentando modificar o artigo 9.º da constituição do país, que é claramente pacifista e proíbe o Japaão de constituir um exército ou de participar de ações militares fora do país. O governo de seu antecessor, Junichiro Koizumi, violou o princípio constitucional ao enviar tropas ao Iraque, a mando do governo americano.