Washington detém Hollywood, e cinemas vetam filme anti-Bush

A Newmarket Films assumiu um desafio incomum quando decidiu lançar o polêmico documentário investigativo Death of a Presidente (Morte de um Presidente), seis semanas depois de adquirir o filme no Festival Internacional de Toronto, no último mês.

Descrito pela distribuidora como “thriller político que induz à reflexão”, o longa-metragem mescla cenas reais com segmentos encenados exibindo a morte fictícia de Bush, em 2007. A Newmarket, empresa de Los Angeles com 12 anos de atuação na área de financiamento, produção e distribuição de filmes, pretende lançar Death of a Presidente em 27 de outubro, antes da eleição de 7 de novembro nos Estados Unidos.


 


“Sim, é polêmico”, disse Chris Ball, co-fundador da Newmarket. “É um suspense político bem forte. Fala sobre a pressa de julgamento. De maneira alguma pede violência.” Pois o Regal Entertainment Group, maior rede de cinemas do país, com mais de 6.300 salas em 40 estados, rejeitou exibir o filme. O motivo é sua temática, anunciou o porta-voz do grupo, Dick Westerling. “Não estamos inclinados a programar este filme”, disse também Mike Campbell, excutivo-chefe do Regal. “Sentimos que não é apropriado mostrar o assassinato futuro de um presidente no cargo, não importa sua afiliação política.”


 


A Cinemark USA, do Texas, foi outra a vertar a exibição, segundo o porta-voz Terrell Falk. A rede opera mais ou menos 2.500 salas em 34 estados, conforme Falk disse ao jornal especializado The Hollywood Reporter. O circuito, que completou recentemente a aquisição da Century Theatres, da Califórnia, também não vai permitir que a empresa regional do norte passe o filme. “Não vamos passar em nenhuma de nossas telas. É um tema que não queremos exibir. Abrimos mão do filme”, disse Falk.


 


Já a National Amusements, de Boston, controlada por Sumner Redstone, chefe da Viacom Inc., ainda está debatendo se vai exibir o filme do diretor Gabriel Range, que teria recebido ameaças de mortes antes da estréia do filme em Toronto. “Estamos em debates com o distribuidor do filme”, disse Wanda Whitson, diretora de comunicações corporativas da National Amusements. “A disponibilidade do filme nos nossos mercados é um fator importante no nosso debate. Nosso departamento de filmes cogita todos os filmes, e já tivemos filmes polêmicos no passado.”


 


Problema mesmo?
O consultor de distribuição da Newmarket, Richard Abramowitz, insiste que não está enfrentando problemas para programa o filme, que vai ser exibido em centenas de lugares. “Todos os dias, nesse período ocupado, estamos pegando muitas telas”, disse, citando a cadeia de cinemas Landmark Theater.


 


Abramowitz recusou-se a comentar problemas para conseguir cinemas. “Estamos recebendo boa recepção em muitos lugares. Não importa se a tela é estreita. Quando o filme faz sucesso, é sempre mais fácil conseguir mais telas.” Apesar de um consórcio de distribuidores liderados pela Miramax Films, de Harvey Weinstein, ter levado rapidamente o filme Fahrehnheit, que provocou divisões políticas, para as telas em 2004, e da Paramount Vantage ter demorado apenas quatro meses para exibir o filme An Inconvenient Truth (Uma Verdade Inconveniente), de Al Gore, raramente um filme passa tão rápido do processo de aquisição para as telas.


 


Um executivo do setor de distribuição questionou a validade da pressa de se levar Death of a Presidente aos cinemas, antes da eleição. “Em meio a toda a polêmica parece fazer sentido aproveitar o momento. O filme é tão incendiário que você pensa que esperar é desperdiçá-lo. Mas o filme pode não ter tempo suficiente de gestação para conseguir os melhores cinemas. Eles estão vendo como o tema de determinar o momento de exibição é difícil e louco.”


 


Luta pelo mercado
O documentário marca a tentativa da Newmarket de recuperar o título de maior distribuidora. O setor de distribuição foi montado em 2000, com o lançamento de Memento (Amnésia), de Christopher Nolan, quando outras empresas abriram mão do filme. Amnésia arrecadou US$ 25 milhões na América do Norte – e a empresa manteve a sequência de vitórias com Whale Rider (Encantadora de Baleias) Monster (Desejo Assassino) e The Passion of the Christ (A Paixão de Cristo), de Mel Gibson.


 


O filme fictício é narrado como um documentário que relata o drama político por trás da investigação do assassinato do presidente Bush em outubro de 2007. Death of a President provocou polêmica por utilizar tecnologia digital para mostrar Bush sendo abatido a tiros.


 


“Não consideramos apropriado mostrar o futuro assassinato de um presidente, e por esse motivo não pretendemos exibir o filme em nenhum de nossos cinemas”, disse ele. Westerling disse que a Regal recebeu “numerosos telefonemas e emails” apoiando a posição da empresa e que, mesmo que o filme faça sucesso em outras salas, a Regal vai se ater a sua decisão.


 


Trajetória
Dirigido pelo britânico Gabriel Range, Death of a President estreou em setembro no Festival Internacional de Cinema de Toronto com grande cobertura de mídia. O filme recebeu um prêmio da crítica e foi comprado pela Newmarket Films para ser distribuído nos Estados Unidos. Ele está previsto para ser exibido na televisão britânica na próxima semana.


 


Abramowitz, que está assessorando a Newmarket na distribuição do filme, disse que Death of a President já foi reservado para mais de 100 salas e que ele prevê que esse número aumente. “Em determinados casos, ocorre uma avaliação precipitada”, disse Abramowitz. “O fato é que este filme não é sobre o que as pessoas sugerem que seja. É um filme que induz à reflexão e é um thriller político.”


 


Normalmente um filme como este seria exibido sobretudo em cinemas de arte, mas as grandes redes de cinemas vêm cada vez mais exibindo filmes independentes e de orçamento pequeno. Death of a President não é o primeiro filme controverso trabalhado pela Newmarket. Em 2004 a empresa distribuiu A Paixão de Cristo.


 


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