Caetano recua: “Por enquanto penso que vou votar em Lula”
O cantor e compositor baiano Caetano Veloso parece desistir, aos poucos, de sua cruzada contra Luiz Inácio Lula da Silva. Mais do que isso, admite até votar no presidente da República, candidato à reeleição pelo PT. A revelação ocorreu nesta semana e foi
Publicado 08/10/2006 14:52
Colunista do jornal Folha de S.Paulo, Mônica divulgou a novidade em nota da última quarta-feira (04/10). “Caetano Veloso sempre surpreendendo: declarou voto em Lula (PT-SP) no primeiro turno em 2002, e em José Serra (PSDB-SP) no segundo turno; agora, diz que votou no tucano Geraldo Alckmin no primeiro turno, mas já pensa em votar em Lula no segundo. Só que ainda pode mudar”.
Mas o “furo” jornalístico foi dado mesmo por Moreno, de O Globo, em seu blog. O jornalista entrevistou Caetano um dia após a confirmação do segundo turno. Além de declarar o possível voto em Lula, o músico também disse acreditar que o dossiê Serra não teve envolvimento do presidente. Confira os principais trechos da entrevista.
A imagem dos candidatos
“Não entendo de chances de vitória. Eu próprio posso votar num ou noutro, a depender do andamento das campanhas. Até há poucos dias, Lula era favorito. Alckmin cresceu. Pode ser que a tendência seja esse crescimento continuar. Mas até quando? Até onde? E o que é que eu prefiro, o que é melhor objetivamente? Lula continuar, acalmar mais os delírios salvacionistas da esquerda – tendo uma oposição do PSDB e do PFL em tom sóbrio e até colaborativo (mais ou menos como foram no primeiro mandato de Lula, ao contrário do PT durante o governo FH) – talvez seja o cenário ideal. Por outro lado, seria bom se Alckmin, presidente, se parecesse com ele ontem à noite na TV – e nada com ele na foto que fica na esquina do Jardim de Alah, com cara de carola de sorriso enjoado.”
O Dossiê Serra
“Não creio, por exemplo, que um homem como Tarso Genro tenha qualquer identificação com essas práticas. O PT não é isso. Mas parece que não só tem muito disso como é um ambiente propício para a germinação desses fungos. Lula era, antes de ser presidente da República, apenas o presidente de honra do PT. De certa forma, esse título diz muito, se o pensarmos à luz desses atos. Acho que ele aprendeu a fazer política. Só a fazer política. Então, ele é um chefe sob quem esse tipo de coisa pode acontecer. À pergunta “Lula sabia?”, podemos, para responder, usar esse episódio do dossiê como exemplo. É claro que ele não sabia desse projeto de compra: ele teria impedido. Mesmo assim, isso se deu. Quer dizer: ele é um chefe simbólico sob quem coisas assim acontecem. O importante é que ele, cada vez mais, tome consciência de que deve ser duro com os companheiros quanto a atos desonrosos. Acho que a campanha para o segundo turno pode ir bem se Alckmin resumir as referências ao caso do dossiê à exigência de compromisso, por parte de Lula, de não admitir essa baderna. Claro que as investigações policiais seguem – entrando pelo próximo mandato, seja de quem for – e podem trazer situações explosivas. Mas isso não deve ser puxado pelas campanhas. As campanhas devem ser humildes perante as investigações. Sinceramente, acho que tanto Lula quanto Alckmin podem segurar as coisas nesse tom.”
O prestígio de Lula
“Não é só o assistencialismo do bolsa-família. Há muitos indicadores de melhoras ocorridas nesse período do governo Lula. Eu acho que Fernando Henrique nunca chamou Delfim Neto ou qualquer outro economista ligado à ditadura porque Fernando Henrique é tirado a chique. Palocci ouviu Delfim e Lula foi encorajado por Delfim – o que resultou em crescimento das exportações, melhora da balança comercial. Não entendo de economia, mas até aí eu chego. Outros aspectos da economia cotidiana dos brasileiros também melhoraram. Muitos deles são efeito de gestos iniciados no governo anterior, outros se devem a ventos favoráveis na economia mundial. Seja como for, acho que esse governo não é simplesmente para se jogar fora. Não me sinto tão sem sintonia com o povo que votou em Lula (eu votei em Alckimin). O pobre percebe as melhoras, reconhece a origem pobre de Lula, conhece muito mais ele do que os outros candidatos: é natural que vote nele. Não sei se o povo tem certeza de que Lula não tem nada a ver com os desmandos. Mas é um clássico popular dizer que todo político é desonesto. O povo não ia ser mais duro com Lula do que com os outros. Seria preciso pressupor uma má vontade especial para com Lula, quando sabemos que é exatamente o contrário que acontece.”
O segundo turno
“Por enquanto penso que vou votar em Lula e em Denise Frossard (para confirmar o que disse de mim um crítico, julgando que fosse depreciativo: que sou “de centro”). Mas é apenas o primeiro dia depois do primeiro turno. E eu pretendo realmente deixar para decidir depois de acompanhar as campanhas. Pode ser que termine votando outra vez em Alckmin. E que alguma coisa – além da amizade com o pai dele – me leve a querer votar em Cabral.
Surpresas eleitorais
“Se é prognóstico que você quer, não tenho (assim como Lula) bola de cristal. Mas acho mais provável Alckmin ultrapassar Lula do que Denise ultrapassar Sérgio. Se bem que o Rio é useiro e vezeiro em surpreender. Mas surpresa mesmo foi na Bahia!”
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