Porto Alegre: emoção marca comício de Lula com 30 mil pessoas
Há muito tempo Porto Alegre não via uma festa como a da noite desta segunda-feira (25) no centro da cidade. Cerca de 30 mil pessoas, boa parte delas carregando bandeiras, lotaram a praça Montevidéu para ouvir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disc
Publicado 26/09/2006 07:51
''Eu ouço as vozes / eu vejo as cores /eu sinto os passos /de outro Brasil que vem aí'' começou declamando o presidente, enquanto as bandeiras dos candidatos da coligação A Força do Povo se agitavam na praça. ''Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil/ lenhador /lavrador / pescador /vaqueiro /marinheiro /funileiro /carpinteiro /contanto que seja digno do governo do Brasil'', diz um outro trecho do poema (veja a íntegra abaixo).
Antes do poema, o presidente destacou os problemas que seu governo e a campanha da reeleição vêm sofrendo justamente por causa do preconceito das elites. ''Hoje tenho noção do preconceito contra mim e o meu partido. No último comício eu levei um catador de papel até o palanque. Um sem teto me visitou no Palácio. Isso eles não admitem, que eu seja chamado de Lula. Querem que eu seja chamado de Vossa Excelência. Mas o meu nome é Lula'', afirmou ele, antes de ser interrompido pelos gritos de ''Lula'' vindos da platéia.
Citando o recente caso do dossiê sobre a participação do ex-ministro da Saúde, José Serra, na Máfia das Sanguessugas, Lula reafirmou seu desejo de ver tudo apurado pela Polícia Federal. ''Nós queremos saber quem foi o responsável, de onde veio o dinheiro, mas também queremos saber o que tem no dossiê. Queremos apuração total. Tem companheiros que erraram e temos que punir todos que erraram'', afirmou.
Mas o presidente também reclamou do tratamento diferenciado que a mídia e a oposição dão ao PT e a seu governo: ''Quando um companheiro do PT erra, parece que caiu uma bomba atômica. Quando eles erram, a notícia entra no jornal num dia e sai no outro. A nossa fica meses e meses''.
''Prefiro sofrer com a verdade do que dormir tranqüilo com a mentira. Agora, eles têm que elevar o nível do debate. Eles não querem discutir política econômica porque nós damos um banho neles, não querem discutir política social porque nós damos um banho neles, não querem discutir educação porque nós damos um banho neles'', disse o presidente.
Lula voltou a dizer que há plenas condições para que a reeleição seja confirmada no primeiro turno e que a vitória vai garantir ''um segundo mandato melhor, com uma melhor equipe, pois aprendemos com os erros e acertos do primeiro mandato''.
Ao fazer um balanço do seu governo, o presidente anunciou que o Brasil investiu muito mais na geração de energia que os outros governos. ''Em 3 anos e meio fizemos 22% do que foi feito em 22 anos'', disse ele, para depois anunciar o investimento de R$ 950 milhões na Usina de Candiota, no Rio Grande do Sul, junto com a China, para gerar 370 novos MW.
''Duvido que houve um presidente que fez em 45 meses o tanto de investimento que eu fiz no Rio Grande'', afirmou, citando em seguida as políticas sociais, o financiamento de R$ 1 bilhão para auxiliar a indústria de calçados em crise e de R$ 600 milhões para os agricultores familiares, para minimizar os efeitos da seca de 2005.
Candidatos proporcionais reforçam campanhas majoritárias
Antes do presidente, falaram os candidatos a deputado estadual e federal da Frente Popular. Raul Carrion (PCdoB), candidato à Assembléia Legislativa, denunciou a tentativa de golpe da direita. Relembrou que isso não é novo na história do Brasil, mas que o povo tem dado demonstrações de que não irá ser enganado pelos setores atrasados da mídia e da direita neoliberal.
Manuela (PCdoB), candidata à Câmara Federal, conclamou a militância e a população a irem pra rua nesta reta final de campanha, para defender os avanços que o governo Lula tem proporcionado e pela continuidade deste projeto de mudanças no país, bem como eleger Olívio e Jussara no Rio Grande.''Vamos reeleger Lula lá, e Olívio e Jussara aqui, para continuarmos avançando nas mudanças que o nosso país precisa, e fazer com que o nosso estado retome o seu crescimento, com mais políticas para a juventude, mulheres e trabalhadores. Com valorização do trabalho e distribuição de renda''.
Militância empolgada com Olívio e Jussara
O discurso da candidata a vice-governadora, Jussara Cony (PCdoB) entusiamou os presentes. Iniciou fazendo referência ao ex-deputado que deu nome ao largo do mercado público em Porto Alegre, onde se realizava o comício. ''Quero salientar aqui a importância que teve este lutador pela democracia que foi Glênio Peres. Neste momento, esta militância que está aqui presente compreende a importância de defender a democracia contra esta direita golpista e reeleger Lula para continuar mudando o nosso país''. Jussara também chamou a militância a ir para a rua e garantir a vitória da Frente Popular no RS. ''Temos que reconduzir Olívio ao Piratini, para que o nosso estado volte a crescer, sintonizado com o desenvolvimento do país. O Rio Grande do Sul não pode ficar para trás!''.
Olívio foi muito aclamado pelos presentes. Disse que nos últimos 30 anos, nenhum presidente fez tanto pelo estado como Lula tem feito neste governo. Enfatizou que o estado precisa voltar a crescer, com um projeto que tenha o governo federal como parceiro. ''Nosso estado não pode mais amargar crescimento negativo. E a culpa pelo atraso não pode ser do padroeiro do Rio Grande, o coitado do São Pedro'', disse, ao fazer menção ao discurso do governador Rigotto de que a culpa pela crise financeira do estado é da seca.
Olívio também chamou a responsabilidade dos militantes da Frente Popular, para conquistar o voto dos indecisos nesta reta final.
O comício recebeu a visita do candidato a governador pelo PSB, Beto Grill e do candidato a reeleição para a Câmara Federal, Beto Albuquerque (PSB). Também discursaram o candidato ao senado, Miguel Rosseto (PT) e o senador Paulo Paím (PT).
Colaborou: Clomar Porto
Veja abaixo o poema declamado por Lula:
O Outro Brasil que vem por aí
Gilberto Freyre
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças
terão as cores das profissões e regiões.
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil,
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.
Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
coragem de morrer pelo Brasil
ânimo de viver pelo Brasil
mãos para agir pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil
mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores
mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos,
sem Irineus
sem Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.
Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradores
de pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiras cozinhando
de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.
Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.