Antropólogo critica relação da mídia com a cultura popular
A mídia não conhece a variedade da cultura brasileira e está transformando-a em um espetáculo, um produto comercial. A crítica é do professor de antropologia da Universidade de Brasília (UnB) José Jorge de Carvalho, que participou neste sábado (16/9) do 1
Publicado 17/09/2006 11:48
De acordo com o professor, os profissionais da mídia não sabem lidar com as expressões populares e acabam por modificar o real significado dessas culturas. Para ele, a mídia precisa ouvir e aprender com os mestres (detentores da cultura popular).
“As pessoas chegam e filmam de qualquer maneira. Um editor, que nunca esteve em campo, é que vai escolher os aspectos mais espetaculares. De repente, uma parte, que é a mais significativa do ritual, não aparece porque não é vista como espetacular”, afirmou Carvalho, diante de uma platéia formada por artistas e artesãos de várias partes do Brasil e de outros países da América do Sul.
“A mídia no Brasil é muito ignorante em relação à diversidade cultural brasileira. Ela já tem um padrão do que os espectadores gostariam de ver. Dessa maneira, ela não educa e reforça os estereótipos”, acrescentou o antropólogo.
Canibalização
Além da transformação em espetáculo, Carvalho falou sobre outro problema enfrentado pela cultura popular: a canibalização, ou seja, ser contada, praticada por quem não a conhece. Segundo o professor, a elite é a principal responsável por esse processo.
“Você tem uma cultura imensa, variada e rica, mas de pessoas e comunidades pobres. É muito fácil quando uma pessoa de classe média, com poucos recursos, aprende uma tradição cultural porque o mestre vai ensinar. Depois, essa pessoa pode constituir o seu próprio grupo e, às vezes, se apresenta no lugar do grupo tradicional que a ensinou”, explicou.
A intolerância religiosa é também um entrave para a prática da cultura popular. Durante o debate, artistas de regiões diversas do país contaram que grupos religiosos impedem suas expressões porque as consideram ofensivas.
Na opinião do professor, essa questão precisa ser tratada dentro dos poderes Executivo e Judiciário “para que as vozes dos oprimidos e discriminados sejam ouvidas”.