Evangélicos cogitam retirar apoio a Alckmin

Atualiza às 17h


 


O presidente Lula recebeu hoje no Rio de Janeiro o apoio da Convenção Nacional, uma das duas grandes correntes da Assembléia de Deus, que congrega 9 milhões de fiéis, 22 mil pastores e é a maior pentecostal do paí

O ramo da Assembléia de Deus que decidiu apoiar Geraldo Alckmin (PSDB) já cogita desembarcar da candidatura do presidenciável. ''Não sei se eles [os tucanos] estão jogando a toalha. A nossa palavra ainda é essa [dar apoio]. Mas o negócio, do jeito que está, pode ser que a gente discuta o apoio'', afirma Ronaldo Fonseca, presidente do conselho político da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil (CGADB), presidida pelo pastor José Wellington da Costa. Segundo Fonseca, 70% dos fiéis da Assembléia seguem suas orientações.


 


A manifestação de apoio foi transmitida diretamente ao presidente do PSDB, Tasso Jereissati, diz Fonseca. A convenção pediu um espaço na agenda de Alckmin para realizar um evento de apoio em Brasília com a presença de várias lideranças da igreja. ''Não entraram mais em contato e estamos aguardando'', afirma o presidente do conselho político. Ele diz que a CGADB vai esperar até o próximo dia 10. ''Está complexo, difícil. Na minha interpretação, empacou.''


 


 


Lula recebe apoio dos evangélicos


 


Ao mesmo tempo, outro ramo, mais representativo da Assembléia de Deus, pedirá votos para a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.


 


O líder da Convenção Nacional das Assembléias de Deus no Brasil (Ministério de Madureira) e presidente do Conselho Nacional de Pastores do Brasil, Manoel Ferreira, disse que a entidade vai entrar de corpo e alma na campanha de Lula.
A Igreja Universal do Reino de Deus, outra evangélica com atuação política, já apóia Lula.


 


''Recomendamos o apoio, os pastores levam a palavra [para os fiéis]. Geralmente eles estão três vezes por semana com os fiéis do país e já falam com os fiéis que a direção se manifestou favorável [ao apoio a Lula]. É mais ou menos por aí.''



Segundo Manoel Ferreira, a igreja ''vai manifestar apoio e recomendar o voto em Lula aos fiéis''. ''Apenas recomendamos, mas o voto é livre'', disse.


 


A ''decisão definitiva'' de aderir à campanha de Lula foi tomada pela Assembléia de Deus na segunda, mas o presidente recebeu o apoio oficial da igreja na tarde desta sexta-feira (8), quando foi recebido por cerca de mil pastores evangélicos de todo o país num evento em Santa Cruz, zona oeste do Rio.


 


Na solenidade, Manoel Ferreira destacou que a entidade apóia a reeleição de Lula em função dele “ser um presidente que veio do povo e que faz um governo voltado para o povo”.


 


No seu pronunciamento, Lula destacou que, em campanhas passadas, disseminou-se o boato de que ele, uma vez eleito, discriminaria as igrejas evangélicas. “O tempo se encarregou de mostrar que a realidade era bem diferente”, disse o presidente, lembrando a sua aprovação à lei 10.825, que garantiu às igrejas o direito de se organizarem como entes privados, com total liberdade de culto.


 


Citando programas de seu governo, como o Bolsa Família e o Luz para Todos, Lula afirmou que tem nos evangélicos “grandes parceiros, pelo extraordinário trabalho que fazem na área social”. O presidente também destacou que apoio, afeto e estrutura familiar são fundamentais para evitar que os filhos de famílias pobres enveredem pela marginalidade. E, em seguida, lembrou o exemplo de sua mãe que, mesmo pobre, criou os oito filhos com carinho.


 


Lula recordou também que, no seu governo, os investimentos em programas sociais saltaram de R$ 2 bilhões para R$ 22 bilhões.  “Governamos para todos, mas principalmente para os que mais precisam”, ressaltou.


 


No final do encontro, o presidente disse se orgulhar do apoio que recebe dos evangélicos e completou. “É muito bom estarmos frente a frente, porque somos todos brasileiros e todos queremos o melhor para o país”.


 


Correntes


 


A Convenção Nacional é uma das duas grandes correntes da Assembléia de Deus, que congrega 9 milhões de fiéis, 22 mil pastores e é a maior pentecostal do país.


 


A Assembléia de Deus detém um terço (21) dos 63 integrantes da bancada evangélica no Congresso Nacional -60 deputados e três senadores.


 


Questionado sobre a proibição de pedir votos em cultos, Manoel Ferreira explicou que a orientação política aos fiéis pode ocorrer em outros lugares.''Geralmente os pastores têm, além do templo, um salão social, onde se reúnem com os fiéis e têm a parte de assistência social. Eles também publicam uma nota, boletim informativo semanal, com a decisão que a igreja tomou, de apoiar o presidente Lula'', afirmou.


 


A ''razão maior'' do apoio da Assembléia de Deus a Lula, segundo o pastor Manoel Ferreira, é o fato de o governo ser o ''que tem dado comida ao maior número de pobres'', por meio do programa Bolsa-Família. Ele contou que a igreja realiza trabalho nessa área.


 


''Nossa igreja está no meio do proletariado, na classe menos provida. Temos a ''campanha do quilo'', por meio da qual todos os meses distribuímos toneladas de alimentos aos mais carentes, independentemente de credo'', afirmou.


 


Filiado ao PTB, partido da base de sustentação do governo Lula, Manoel Ferreira disse que a decisão é exclusivamente da igreja e não tem nenhuma relação com sua legenda política. Aos 74 anos, ele é candidato a deputado federal em outubro. Ele concorreu ao Senado em 2002 e obteve 1,7 milhão de votos. Ficou em terceiro lugar.


 


Da redação,
Cláudio Gonzalez