Heloísa perde ''voto bem informado'' para Lula, dizem analistas

Parte dos eleitores mais informados está desistindo do voto de protesto na candidata do PSOL à Presidência, Heloísa Helena, para voltar a apostar na reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmaram cientistas políticos.

Segundo a pesquisa Datafolha divulgada na terça-feira (5), a senadora oscilou negativamente em um ponto, para 9 por cento das intenções de voto no quadro geral, e despencou no segmento dos mais escolarizados, caindo de 20 para 15 por cento.


 


''Não vejo isso nas ruas. Não vejo isso em nenhuma classe social. Espero que essas pesquisas não correspondam à realidade'', rebateu Heloísa Helena, tentando negar a realidade.


 


Muitos colunistas de política da grande imprensa e alguns candidatos, entre eles a própria Heloisa Helena, tem utilizado um discurso preconceituoso e elitista afirmando que só os ''ignorantes e mal informados'' votam em Lula.


 


Ma senquanto a candidata do PSOL cai, Lula, que tem 51 por cento das intenções de voto, ganhou seis pontos entre os eleitores com curso superior, passando de 28 para 34 por cento. O segundo colocado nas pesquisas, o tucano Geraldo Alckmin, recuou de 37 para 36 por cento nesse grupo social.


Com a estagnação de Alckmin e a queda de Heloísa Helena no segmento de maior escolaridade, o favoritismo de Lula para vencer a eleição já no primeiro turno se amplia. A candidata do PSOL, que chegou a ser apontada como um fator com peso no resultado da eleição, está em queda há três rodadas da pesquisa Datafolha e dá sinais de ter atingido seu limite.


 


''Ela tem pouco espaço na televisão, mas quando se expõe, a fragilidade do programa de governo dela fica muito evidente, essas pessoas deixam de se identificar. Ela fala para os mais informados e paga um preço por isso'', disse à Reuters o professor de sociologia do Iuperj, Adalberto Moreira Cardoso.


 


De acordo com ele, a candidata do PSOL ficou com parte dos votos de protesto contra o governo Lula, envolvido em denúncias de corrupção, mas não soube ampliar a base além dos ex-petistas e demais indignados.


 


''Ela puxou os votos da esquerda que não é tão esquerda assim. Agora, esses eleitores voltam para o Lula pelas chances reais que ele tem de vencer as eleições'', avaliou.


 


Já para o professor de ciência política da Fundação Getúlio Vargas, Francisco Fonseca, os votos que teriam migrado dela para Lula representam a vontade desses eleitores de ''não dar a chance de ter um segundo turno''.


 


Mesmo assim, Fonseca vê com cautela o suposto ''esvaziamento de votos'' da candidata, considerando pequeno o recuo das intenções de 12 para 9 por cento na sondagem do Datafolha.


 


''De qualquer forma, essa queda que os institutos vêm passando parece mostrar que o discurso da Heloísa Helena tem um público limitado'', afirmou.


 


Discurso de desqualificação


 


O papel da senadora para a reeleição do petista é parecido com o do candidato nanico Enéas Carneiro (PRONA), em 1998, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito, segundo o professor de sociologia da PUC-SP Cláudio Couto.


 


Na ocasião, Enéas, que hoje é candidato a deputado federal, ficou com 4 por cento dos votos e terminou a eleição em quarto lugar, impulsionado pelo voto de protesto, além do ideológico.


 


''A Heloísa Helena é uma candidata com estilo menos caricato e levado mais a sério, com discurso sempre de desqualificação de todos os oponentes. Esse tipo de piada ficou velha, mas nesta eleição tem uma nova roupagem, uma roupagem de esquerda'', disse o professor.


 


Fonte: Reuters