Serra culpa migrantes pelos problemas educacionais de SP

Atualizada às 18h


 


O candidato tucano ao governo de São Paulo, o ex-prefeito da capital José Serra, fez hoje uma declaração eivada de preconceitos que certamente o obrigará a dar muitas explicações nos próximos dias. Ao participar

Questionado sobre o mau desempenho do Estado de São Paulo em avaliações nacionais de educação, o tucano creditou os maus resultados aos migrantes que vêm para o Estado. ''Diferentemente dos Estados do Sul [que foram os primeiros colocados na avaliação], São Paulo tem muita migração. Muita gente que continua chegando… Este é um problema'', afirmou. São Paulo tem uma grande população de migrantes nordestinos, especialmente na capital.


 


Segundo a avaliação Prova Brasil, realizada pelo Ministério da Educação no fim do ano passado, a 4ª série da rede de ensino da Prefeitura de São Paulo está entre as sete piores do país, quando comparada com a das demais capitais. Com média 160,42 em português e 166,86 em matemática, os alunos das escolas municipais da capital não alcançaram a metade do total de pontos possíveis nas provas (350).


 


Sobre sua permanência no Palácio dos Bandeirantes caso seja eleito, o tucano tergiversou. ''2010 está muito longe, nem você sabe onde você vai estar. Eu vou trabalhar bastante para corresponder à expectativa das pessoas'', disse, em resposta ao apresentador Chico Pinheiro. O tucano tem sido acusado de usar as eleições para governador como um possível trampolim para a candidatura à Presidência em 2010.


 


Os apresentadores Chico Pinheiro e Carla Vilhena abriram a entrevista questionando o tucano sobre sua saída da Prefeitura de São Paulo no início deste ano — em 2004, Serra assinou documento em cartório afirmando que cumpriria o mandato até o final se fosse eleito. ''Naquela época, eu disse totalmente a verdade do que eu pensava. O que houve de lá pra cá foi uma mudança nas circunstâncias'', afirmou. O tucano disse que, depois de sua experiência como prefeito, viu que é necessária uma integração maior entre governos municipal e estadual. ''O trabalho do Estado é crucial para a prefeitura. Eu achei que poderia ajudar muito mais a população tendo um prefeito parceiro, que é meu sucessor [Gilberto Kassab, do PFL]'', disse.


 


Sobre sua passagem pela prefeitura, Serra afirmou que colocou ''a casa em ordem''. Os apresentadores do SPTV rebateram, dizendo que ele não cumpriu as promessas de campanha.


 


Sobre a onda de ataques do PCC em São Paulo, que surgiu durante a administração do PSDB no Estado, o ex-prefeito acha que houve avanços na medida em, que a polícia passou a efetuar um número maior de prisões.


 


Ele recusou-se, por outro lado, a comentar se manteria ou não Saulo de Castro Abreu Filho à frente da Secretaria Estadual de Segurança Pública se vier a ser eleito. Declarou que só fala sobre sua equipe futuramente, pois está disputando a eleição para ganhar.


 


Fluxo migratório


 


Com base no censo do IBGE, o Estado de São Paulo contava no ano 2000 com uma população de 37 milhões de habitantes, sendo que 75,2% delas foram pessoas nascidas no próprio Estado e 25% (9 milhões) nascidas em outros Estados brasileiros e outros países.



Pela composição de estados, os mineiros são os que predominam (21%), seguidos pelos baianos (20%), paranaenses (13%) e pernambucanos (12%).


 


Entre 1986 e 1991, São Paulo recebeu 1,4 milhão de pessoas de outros Estados. Já entre os anos de 1995 e 2000, o número caiu para 1,2 milhão de pessoas.


 


Nordestinos


 


Apesar da diminuição do volume de migrantes com destino a São Paulo entre 1995 e 2000, o número de nordestinos que chegaram ao Estado sofreu uma pequena elevação. Os nordestinos, que no início da década de 90 representavam 52% do total dos migrantes no Estado, ocupam agora uma fatia de 58%.


 


Já o fluxo para São Paulo envolvendo as pessoas naturais das regiões Sul e Sudeste do país sofreu uma redução nos últimos anos. Os migrantes originários do Sudeste eram cerca de 22% no Estado entre 1986 e 1991. Essa percentagem caiu para 19% em 2000. Já as pessoas naturais do Sul representavam 18% dos migrantes no Estado no início dos anos 90. Agora, esse número passou a ser de cerca de 12%.


 


A capital recebeu quase 410 mil migrantes, praticamente 57% do total de pessoas que chegaram à região metropolitana de São Paulo, destacando-se os fluxos com origem do Nordeste (73,1%) e, em seguida, pessoas nascidas no Sudeste e Sul do país. Dos que se dirigiram para a capital, destacaram-se os provenientes da Bahia (30%), Pernambuco (13%) e Minas Gerais (10 %).


 


Mercadante: declaração foi “conservadora e odiosa”


 


O candidato ao governo de São Paulo pelo PT, Aloizio Mercadante, comentou as declarações de Serra. Para o senasdor, elas mostram um “posicionamento conservador e odioso”.


Mercadante demonstrou total desaprovação ao comentário de seu adversário na disputa pelo governo paulista. Em primeiro, ele apresentou dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio), do IBGE, que mostram que, entre 1999 e 2004, saíram mais pessoas do que entraram no Estado.


Além disso, segundo os mesmos dados, 58% da migração a São Paulo vem do Nordeste. Por isso, ele considerou a postura de Serra preconceituosa.


“Se expressa nessa declaração, mais uma vez, um preconceito inaceitável. Os nordestinos em São Paulo são solução, não são problema”, disse o petista após participar de um almoço com empresários na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).


Para o petista, Serra adotou uma postura de “discriminação contra brasileiros que ajudaram a desenvolver o Brasil”.


 


Da redação,
Cláudio Gonzalez