Para Niemeyer, Fidel abriu as portas ao homem novo
O diário cubano Granma publicou nesta segunda-feira (7/8) uma bela entrevista com o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, feita por Pedro de La Hoz. Abaixo, o Vermelho reproduz seus principais trechos:
Publicado 08/08/2006 08:51
Ele não é homem de muitas palavras. Talvez nunca o tenha sido e por isso preferiu levantar sonhos do tamanho de catedrais e desenhar linhas que se converteram em edifícios de beleza alucinante. Mas cada palavra sua pesa, como quando diz: ''A fome do estômago só se acalma com o pão da justiça''.
Em uma das paredes de seu estúdio, sobre um fundo branco, escreveu de próprio punho: ''Quando a miséria se multiplica e a esperança foge do coração dos homens, só resta a Revolução''.
Essa frase resume de algum modo o pensamento e a ação de Oscar Niemeyer, lenda mundial da arquitetura do século 20, mas, além de tudo, como ele mesmo gosta de se definir, ''alguém muito convencido de que o homem e a mulher só serão plenos quando conquistarem a verdadeira liberdade''.
Pequeno de estatura, ainda forte, de andar pausado e firme; rosto corado em uma cabeça forte e erguida. No próximo 15 de dezembro completará 99 anos. ''Não pensei que iria viver tanto, mas lhe confesso que ainda é insuficiente. Não costumo olhar em demasia ao passado, prefiro me esforçar por aquilo que ainda me falta fazer''.
Enquanto ele fuma alguns cubanos, tomo apressadamente notas de nossa conversa, amostras de seu pensamento:
''Por natureza, o imperialismo nunca deixará de ser bárbaro. Você está vendo o que acontece na Palestina e o no Oriente Médio. Ante a aliança entre Estados Unidos e Israel, o mundo não pode permanecer impassível''.
''A América Latina está vivendo um momento muito especial. Tenho fé nos novos líderes que vão surgindo e no resultado dos movimentos sociais. Mas as pessoas ainda não se levantaram à altura do que esperamos''.
''Aqui no Brasil, Lula ainda é a melhor opção. As pessoas se preocupam com a violência, o crime e a impunidade. Há que se pensar, no entanto, na origem de tudo isso. Se não se vai às raízes do problema, nada resolveremos. Enquanto existir a desigualdade, a degradação social e a fome, haverá violência''.
''Eu creio que Cuba poderá desenvolver muito mais sua arquitetura, situá-la à altura do talento jovem que foi cultivado na Revolução. Não é só um desejo; espero que a colaboração entre meu estúdio e os arquitetos e estudantes de Cuba dê frutos. Espero vê-los''.
''O imperialismo não perdoa a Cuba e a Fidel. Mas essas medidas que Bush e sua gente aprovaram contra vocês não vão tirar o sonho de Fidel e de Cuba''.
''À juventude eu peço que leia, que aprenda pela própria cabeça, que entenda o mundo a seu redor. Aquele que lê acaba por chegar à verdade''.
Perto do meio-dia, Niemeyer confessa alguns dos segredos de sua vida:
''Comer pouco, tomar um copo de vinho tinto por dia e estar atento a tudo. Trabalhar mantém a saúde. Fumo quatro ou cinco charutos por dia, mas não absorvo a fumaça''.
Ele diz também que teme os aviões, ama as curvas, o samba, a amizade, o contato com gente jovem e a paisagem brasileira. E quanto à principal figura de sua vida? ''Fidel Castro, sem dúvida. Ele fez algo fantástico: abriu as portas ao homem novo. Viva Fidel''.