Dulci: opção é entre projeto Lula e volta do neoliberalismo
Na eleição presidencial, a escolha será entre o projeto do presidente Lula, “que já vem sendo executado”, e “a volta do neoliberalismo”. A opinião é do ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), em entrevista ao jornal Folha de
Publicado 07/08/2006 11:43
Folha de S. Paulo – Como o sr. avalia o início do debate eleitoral e o tom adotado pela oposição?
Luiz Dulci – Alguns setores das oposições têm feito uma disputa radicalizada, com ataques pessoais. Faz parte do jogo. Mas no nosso modo de entender não prejudica o presidente.
Folha – Isso pode transformar o presidente em vítima?
Dulci– Os dois principais candidatos representam alianças políticas que já governaram o país. O governador Alckmin expressa o projeto neoliberal que deseja retornar, que o povo conhece bem, que tantos males causou ao país. O presidente Lula governou três anos e meio e os resultados do governo são reconhecidos pela população. Ataques pessoais não alteram a questão de votos. Na minha opinião, o eleitor não vai se decidir com base nisso. A pergunta central é: ele quer que governo Lula continue e possa avançar num projeto que já vem sendo executado, ou deseja a volta do neoliberalismo?
Folha – O sr. fala em modelo neoliberal no governo passado, mas a política econômica do governo Lula também pode ser classificada assim.
Dulci– A política monetária do nosso governo tem afinidades com a do governo anterior. Já a nossa política fiscal é diferente, porque é muito mais rigorosa e coerente. Ela é muito mais responsável, mas não é neoliberal. A do governo anterior foi frouxa, por isso quando o presidente Lula assumiu a dívida pública estava em 63% do PIB, havia uma crise de credibilidade.
Folha – Mas não parece a mesma política?
Dulci– Se a monetária é uma política tradicional e a fiscal é rigorosa, há uma série de outros aspectos na nossa política econômica que são completamente diferentes e a fazem desenvolvimentista, e não neoliberal. Por exemplo, a nossa política de crédito é completamente diferente da do governo anterior, que restringia o crédito para travar o crescimento. Da mesma forma na área de investimento social, que era medíocre no governo anterior. Nós demonstramos na prática que é possível crescer com inflação baixa. Vamos crescer 4% neste ano, com inflação baixa.
Folha – Mas no primeiro ano o crescimento foi muito baixo. No terceiro, não foi muito bom.
Dulci– O presidente Lula encontrou uma situação econômica desastrosa. Nós tivemos no final do governo FHC o “apagão”, não só o energético mas também o “apagão” econômico-financeiro do país. E o presidente Lula teve de recuperar a estabilidade, a credibilidade internacional e a própria confiança dos brasileiros num projeto de desenvolvimento.
Folha – O presidente Lula enfrenta hoje uma insatisfação do eleitor de classe média. A que o sr. atribui isso?
Dulci– Em primeiro lugar, o presidente Lula também lidera, em diversos Estados, em todos os estratos da classe média. A classe média brasileira, ao longo dos últimos 25 anos, se politizou muito. A cada eleição percebemos que ela escolhe seus candidatos não apenas com base em políticas específicas para ela mas também com base em valores. Aquilo que é feito para os pobres, para as classes populares. A classe média brasileira é muito progressista.
Folha – Não é essa politização da classe média que a leva a não aceitar a explicação do presidente no caso do mensalão e do caixa dois?
Dulci– Evidentemente, há segmentos importantes das classes médias que questionam o governo, não pelos seus resultados econômicos e sociais, mas pela chamada crise ética. Na minha opinião, o presidente Lula e todos nós devemos debater abertamente com esses setores, com toda a sociedade, a questão ética. Não há motivo para que o PT não reconheça seus erros, os verdadeiros, não as mentiras, os exageros, as tentativas da oposição de manipular de maneira eleitoreira a questão política, mas os erros verdadeiros.
Folha – Quais são esses erros?
Dulci– O financiamento irregular de campanha, é isso que está provado e que foi assumido naquela ocasião.
Folha – O que o senhor considera que a oposição usa como tática falsa na crise ética?
Dulci– A oposição, toda vez que há denúncia de alguma irregularidade no Parlamento, antes dos resultados aprofundados das investigações, já faz um juízo sumário sobre o governo. Vamos considerar, por exemplo, o caso dos sanguessugas. Pelas revelações feitas até agora, esse processo começou em 1998. Quem governava o país? O presidente Fernando Henrique. Quem era o ministro da Saúde? [José] Serra. Isso significa que Serra era automaticamente responsável por irregularidades que segundo as investigações já aconteciam quando ele era ministro da Saúde? Não. Porque o Ministério da Saúde é gigantesco, o controle de cada processo é difícil, muitos mecanismos de controle não existiam. Há distorções no funcionamento político brasileiro que são estruturais, mas a oposição, com uma volúpia eleitoral enorme, tenta artificialmente responsabilizar o governo por distorções que são do sistema político e que envolvem também as siglas hoje na oposição.
Folha – Vocês vão atribuir os erros do PT ao modelo?
Dulci– Cada partido deve assumir os seus erros específicos. Não faz sentido transferir os erros do PT a outros partidos. O PSDB e o PFL devem assumir os erros deles. Não é meu objetivo aqui, mas bastaria lembrar de que maneira a reeleição foi implantada no país. É só recapitular como era a relação do governo anterior com a sua base no Congresso. Agora, os erros da direita não justificam os erros que o PT cometeu.
Folha – O governo Lula, tal como o governo FHC, defendeu a reforma política, mas acabou adotando a negociação no Congresso com base na distribuição de cargos e liberação de emendas do Orçamento?
Dulci – É verdade. Todos os governos, desde a redemocratização, foram submetidos a essa lógica estrutural do modelo político, que só poderá ser superada por uma reforma política global. Eu pessoalmente não acredito que haja solução paliativa, tópica, precisa ser de uma reforma política global, que instaure no Brasil um novo modelo político. Todos os governos da redemocratização tiveram muitas dificuldades de assegurar a necessária governabilidade política.
Fonte: Folha de S. Paulo