Tristeza e revolta marcam ato por Jean Charles
Parentes e amigos de Jean Charles de Menezes fizeram uma vigília no aniversário do primeiro ano do brasileiro assassinado pela polícia londrina. A cerimônia deste sábado (22/7) foi marcada por tristeza e revolta.
Publicado 22/07/2006 14:04
Depois de rezarem uma oração em português, primos de Jean Charles acenderam velas para o brasileiro, em um pequeno oratório feito à entrada da estação.
Depois, eles desceram à plataforma e ali fizeram um minuto de silêncio. A família adiou um outro encontro que aconteceria no início da tarde por causa dos confrontos no Líbano.
“Na luz desses eventos, as famílias decidiram adiar o encontro. Nós acreditamos que o tributo mais adequado à vida de Jean é que você, seus amigos e sua família realizem ações pela paz”, disse o comunicado.
Jean Charles foi assassinado por policiais à paisana logo depois de embarcar num trem, um dia depois de um suposto ataque à bomba que falhou contra o sistema de transporte da cidade.
Protesto e indignação
O ato também foi um protesto indignado pela decisão da Promotoria Pública Britânica de descartar, por suposta “falta de provas”, que os policiais envolvidos no assassinato sejam processados pessoalmente.
Em vez disso, a Scotland Yard responderá a um processo por ter “infringido” regras de Segurança e Saúde. Para a promotoria, há um ano, os policiais não foram capazes de zelar pela segurança, saúde e bem estar de Jean Charles. A família do brasileiro considerou a decisão “inacreditável” e “ridícula”.
“Essa foi uma notícia muito estressante para a família aqui e no Brasil”, disse neste sábado o porta-voz da família, Asad Rehman. “Ele era um homem inocente que foi morto quando ia para o trabalho, como milhões de nós, todos os dias.”
Pessoas que manifestavam solidariedade também estiveram presentes. Mohammed Abdul Kahar, que foi baleado no peito em uma “operação antiterrorismo” da polícia de Londres em junho, vestia uma camisa do Brasil e prestou homenagem a Jean Charles. Kahar foi preso e libertado sem acusações.
Investigação
Embora nenhum dos envolvidos seja julgado pelo assassinato do brasileiro, a emissora britânica BBC disse que a Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC, na sigla em inglês) recomendou o indiciamento da comandante das operações com armas de fogo, Cressida Dick, e os dois policiais que efetuaram os disparos.
A IPCC investigou a morte do brasileiro durante seis meses. A comissão independente ouviu os 30 passageiros que estavam no metrô quando Jean Charles foi morto. O IPCC coletou ainda 600 declarações escritas.
A conclusão do relatório foi entregue pela IPCC à promotoria pública britânica em janeiro deste ano. O IPCC também está promovendo uma investigação sobre a conduta do chefe da Polícia Metropolitana de Londres, Ian Blair.