Israel intensifica ataques ao Líbano; protestos se espalham

Mais de cem pessoas já morreram e outras 250 ficaram feridas desde o início dos ataques da aviação israelense contra o Líbano e que foram intensificados em várias áreas do país, entre elas Beirute. Cresce o número de países que pedem providência

A aviação e a Marinha israelenses bombardearam vários portos de Beirute, assim como o farol da capital, além das cidades de Jounieh, Amchit e Trípoli. Os bombardeios também tiveram como alvo uma posição do Exército libanês em Talet el Jayar, na região de Batrun (norte), matando um militar e ferindo outras 11 pessoas, segundo um comunicado militar. Caças-bombardeiros israelenses atacaram também a maioria das posições de radar do Exército libanês no país.


 


As baterias antiaéreas do Exército libanês entraram em ação contra os aparelhos israelenses, mas não conseguiram alcançá-los. Os bairros do sul de Beirute foram bombardeados em pelo menos oito ocasiões. Um edifício de nove andares, onde o líder do Hisbolá, Hassan Nasrallah, tem sua sede geral, foi completamente destruído. A aviação e a Marinha israelenses bombardearam também o sul da capital e destruíram, entre outros edifícios, a residência e o escritório de Nasrallah. A aviação israelense atacou também, em oito ocasiões, a cidade de Baalbeck, onde destruiu a casa de uma autoridade do Hisbolá, Mohamad Yazbek, e deixou pelo menos 10 feridos.


 


Várias estradas perto da fronteira síria, no leste e norte, e de Sidon, também foram alvo dos ataques israelenses, assim como pontes, reservas de água, postos de gasolina e uma instalação para abastecimento de gás de cozinha. Cerca de 10 mil pessoas abandonaram suas casas fugindo dos bombardeios. Em meio à fuga de um dos grupos, um míssil caiu sobre uma caminhonete em Maruayin causando a morte de 17 pessoas, incluindo 10 crianças. Os israelenses, com alto-falantes, pediram aos habitantes da região sulina de Bint Jbeil que não saiam de suas casas depois das 19h30 (13h30 de Brasília).
 


Condenação Russa



O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, aliado incondicional de Israel, disse que a Síria deve “convencer” o Hizbollah a interromper os “ataques contra Israel”. Bush reuniu-se com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em uma prévia bilateral à cúpula do Grupo dos 8 (G-8) de São Petersburgo, e culpou o Hisbolá, que 'lançou ataques de foguetes a partir do solo libanês contra Israel e capturou dois soldados'. Para Bush, a melhor maneira de acabar com a atual crise é o Hisbolá “largar as armas” e entregar os reféns. Para isso, pediu à Síria que 'exerça sua influência' para que o Hisbolá “deixe as armas”.


 


Putin, no entanto, disse que 'o uso da força deveria ser equilibrado e o derramamento de sangue deve acabar imediatamente'. O presidente russo também respondeu à “preocupação” de Bush com a “democracia na Rússia. Segundo ele, seu país não precisa de uma democracia 'como a do Iraque', gerando gargalhadas dos presentes e um gesto contrariado de Bush. O presidente norte-americano se viu obrigado a resumir que 'o presidente Putin é um homem forte, que está disposto a escutar, mas que não quer que ninguém lhe diga como deve governar'. O Senado dos Estados Unidos adotou nesta sexta-feira uma resolução que denuncia o 'autoritarismo' na Rússia durante os seis anos do governo do presidente Putin.


 



Condenação espanhola


 


O presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, pediu a Israel o fim das hostilidades e ressaltou que a luta “antiterrorista” não pode levar à morte de inocentes. O primeiro-ministro disse que espera que a lição que se tirou dos conflitos no Oriente Médio evite mais intervenções militares como a do Iraque, e pediu que o governo de Israel 'respeite os direitos previstos na legislação internacional'. 'Qualquer luta contra a violência e contra o terrorismo não pode justificar sob nenhum conceito a perda de vidas humanas de seres inocentes', afirmou Zapatero.


 


O primeiro-ministro espanhol pediu à “comunidade internacional” que imponha a autoridade da ONU e faça todos os esforços para pôr fim à 'loucura das hostilidades e do confronto bélico'. Zapatero lembrou que aqueles que apoiaram a guerra do Iraque asseguraram que esta contribuiria para a estabilidade no Oriente Médio e um horizonte de paz. 'Espero que a lição aprendida com os conflitos e o desastre que representou essa intervenção militar, que só gerou radicalização, fanatismo, conflito e instabilidade, sirva para sempre e não volte a haver uma intervenção militar sem justificativa e ilegal', acrescentou.
 


Condenação cubana



O governo cubano condenou a 'selvagem agressão' israelense contra o Líbano e pediu à “comunidade internacional” que se mobilize para fazer com que Israel ponha fim a suas ações militares. Em comunicado publicado no jornal Granma, o Ministério de Relações Exteriores de Cuba considera que a ofensiva israelense é 'outra prova de sua conhecida política genocida contra os povos árabes'. 'Mais uma vez, Israel, violando todas as normas do direito internacional, agride militarmente um país soberano sob o espúrio pretexto de ''proteger sua segurança'', com o sustento econômico e militar e a cumplicidade flagrante e pérfida do governo dos Estados Unidos, que garante a impunidade do regime agressor', afirma a nota.


 



Cuba lembrou a atitude dos Estados Unidos de impedir com seu veto a condenação do Conselho de Segurança das Nações Unidas e criticou 'a vergonhosa e covarde passividade da União Européia' diante dos bombardeios, que deixaram dezenas de mortos e destruíram infra-estruturas do Líbano. 'O Ministério expressa sua mais enérgica condenação a esta selvagem agressão militar israelense contra a República Libanesa e pede à comunidade internacional e às forças que amam a paz que se mobilizem para exigir a Israel que ponha fim imediatamente a tais atos de barbárie', afirma o comunicado. Cuba pede também que Israel 'devolva os territórios ocupados ao Líbano e respeite as mais elementares normas do direito internacional'. 'Neste grave momento, Cuba reafirma sua plena solidariedade com o povo libanês, que junto ao heróico povo palestino sofre hoje novamente a agressão impiedosa e cínica do regime de Tel Aviv', conclui a nota.
 


Condenação venezuelana


 


A Venezuela reiterou sua condenação aos ataques de Israel e criticou os Estados Unidos por 'impedirem a consideração da crise' no Conselho de Segurança da ONU. Um comunicado com o título 'Venezuela condena os ataques do Estado de Israel contra os povos da Palestina e do Líbano', a Chancelaria reafirma o que foi dito pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, na sexta-feira, quando qualificou os ataques como uma 'loucura' de Israel da qual os Estados Unidos 'estão por trás'.


 


Além disso, acrescentou Chávez, Israel e Estados Unidos 'ameaçam a Síria e o Irã'. 'Até onde chegará essa loucura? Porque por trás dessa loucura está o desejo de domínio do império (norte-americano), um desejo que não tem limites e que pode levar o mundo a um holocausto. Deus nos livre!', disse. Chávez lembrou que Israel tem armas atômicas e de destruição em massa, 'mas ninguém diz nada porque o império está por trás'. O presidente venezuelano também condenou “categoricamente” os ataques ordenados pela 'elite israelense' contra o Líbano e o território palestino. “Aproveito para condenar da forma mais contundente possível a agressão que a elite israelense está promovendo contra inocentes', disse Chávez na cerimônia de posse do novo ministro da Defesa, o general Raúl Baduel.


 



A nota da Chancelaria destaca que a Venezuela 'rejeita e condena os ataques desproporcionados que o Estado de Israel desatou durante vários dias contra povoados e infra-estrutura tanto da Palestina como do Líbano'. 'O emprego indiscriminado da força já deixou numerosos mortos e feridos entre a população civil, incluindo crianças e mulheres inocentes', lembra. O documento acrescenta que 'nenhum pretexto pode justificar tais agressões' e que 'o fato de os palestinos terem decidido votar por uma das opções apresentadas durante suas últimas eleições, o que motivou a irritação de Israel, não é razão para o agravamento do presente conflito'.


 


Comunicado


 


Segundo comunicado, “menos explicável ainda é a destruição de importantes sistemas da infra-estrutura libanesa, assim como o bloqueio ao qual o país é submetido, criando um muito perigoso antecedente nas relações internacionais'. 'Da mesma maneira, o ataque aéreo da Síria põe em um risco cada vez maior a estabilidade de toda a região, com o perigo de um maior derramamento de sangue e piores penalidades para os povos que a habitam', alerta. O comunicado venezuelano ressalta que 'é inaceitável o veto do governo dos Estados Unidos para impedir a consideração desta crise no Conselho de Segurança'. 'A hegemonia que se exerce sobre esse organismo é a mais rotunda negação de tal organização como âmbito para a solução razoável dos conflitos', ressalta.


 



Por esse motivo, a Venezuela 'continua sustentando com firmeza a necessidade de democratização' da ONU e de seu Conselho de Segurança e 'trabalha para ocupar uma posição' nesta última instância, em representação da América Latina e como membro temporário. Na nota, a Chancelaria expressa sua solidariedade com 'os países agredidos' e 'as vítimas inocentes'. E pede que 'os povos e governos detenham esta agressão e trabalhem pela busca das vias da negociação que conduzam, finalmente, ao estabelecimento de um Estado palestino, ao qual tem inegável direito um povo que ocupou pacificamente, durante séculos, essas terras'.


 


Adolf Hitler


 


O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, afirmou que Israel utiliza os mesmos métodos de Adolf Hitler. 'Seus métodos se parecem com os de Hitler. Quando Hitler queria realizar um ataque, também inventava um pretexto', declarou. 'Condenamos estas selvagens ações. Se tomaram (o Hezbollah) como reféns dois soldados, vocês (os israelenses) fizeram reféns milhares de pessoas em suas casas', disse. O presidente iraniano qualificou de inaceitável a 'destruição de pontes, usinas elétricas e centros econômicos' nos bombardeios israelenses contra o Líbano. 'O regime sionista deve saber que se não renunciar a estes atos, a cólera dos povos explodirá e não se limitará às fronteiras da região', advertiu.
 


 


O representante especial da ONU, Terje Roed Larsen, se reuniu no Cairo com os ministros de Exteriores do Egito, da Arábia Saudita e da Jordânia, assim como com o secretário-geral da Liga Árabe, Amre Moussa. A reunião ocorreu na sede da Liga Árabe, onde os chefes das diplomacias deste organismo unificaram posturas em relação às agressões israelenses. Larsen disse que falou com os quatro responsáveis árabes sobre os passos que devem ser dados para conter a situação na região.


 


Os países da Liga Árabe consideram que o processo de paz para o Oriente Médio 'fracassou' e pedem a intervenção direta do Conselho de Segurança da ONU para pôr fim aos ataques israelenses no Líbano e na Faixa de Gaza. Os ministros, embora tenham criticado implicitamente o Hisbolá por 'falta de consultas' com o governo libanês, pediram que Israel ponha fim imediatamente a seus ataques no Líbano, para começar negociações 'sobre uma troca de prisioneiros', disse o ministro de Assuntos Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, Hussein al-Shaali.
 



Com agências