Nova virada no México: Calderón passa Obrador por 0,32%

Depois de permanecer 20 horas à frente da contagem urna por urna, o candidato presidencial de centro-esquerda nas eleições deste domingo no México, Andrés López Obrador, foi suplantado por seu rival, o direitista F

No jargão político mexicano, “panistas” são os membros do PAN (Partido da Ação Nacional). Força de direita, pró-americana, a sigla chegou à Presidência há seis anos, com Vicente Fox, pondo fim a sete décadas de hegemonia do PRI (Partido Revolucionário Institucional).
Na análise “panista”, a diferença é ínfima mas irreversível, pois as urnas que faltam são do centro-norte do país, menos populoso, mais rico e mais ligado aos EUA, onde o PAN predomina. Guanajuato, Sonora, Querétaro, Nuevo León, Sinaloa e Chihuahua são alguns dos Estados onde ainda há urnas por apurar.
PRD contesta e quer voto por voto


López Obrador permaneceu em silêncio após a virada. Às 06h30, dirigiu-se à sede de sua campanha, onde se espera que fale a uma coletiva de imprensa, ainda pela manhã. Seu partido, o PRD (Partido da Revolução Democrática, uma cisão do PRI pela esquerda, de 1984), tem insistido numa recontagem voto por voto, dada a tradição de fraudes na história eleitoral mexicana e as “inconsistências” do resultado preliminar anunciado na terça-feira.

Nesta manhã (6), Jesús Ortega, coordenador da campanha de Obrador, insistiu na necessidade de contar voto por voto – enquanto o “reconteo” em curso está sendo feito urna por urna. Ele comentou que só assim “quem sair vencedor, nem que seja por poucos votos, deixaria o país satisfeito”.


O fator mobilização popular


Conforme o site do jornal mexicano El Universal, López Obrador exigirá a impugnação do resultado. E lançará mão da mobilização popular, convocando uma manifestação de protesto para este sábado, às 17 horas, no Zócalo – praça central de Cidade do México, no centro histórico da capital do país.

No ano passado, o PRD reuniu 1,5 milhão de mexicanos no Zócalo, e com isso reverteu o que parecia uma derrota consumada. A Câmara havia votado, em abril, por 360 votos a 127, o “desafuero” de López Obrador – o que impicava em torná-lo inelegível e até levá-lo à prisão, com base em uma acusação de irregularidade administrativa. Diante da mobilização, o governo Fox recuou do “desafuero”.


Calderón quer “paz e conciliação”


Calderón, que foi ministro de Energia de Fox (o país é o segundo maior exportador de petróleo das Américas, depois da Venezuela), adiantou-se, às 04h30 da madrugada, para proclamar a eleição de domingo (2) como “a mais democrática e a mais limpa da história do México”, contrastando com as denúncias de seu rival.

Ao mesmo tempo, o candidato “panista” acautelou-se face a uma sociedade socialmente dilacerada e politicamente instável. Propôs que, “a partir de hoje, façamos com que o México inicie uma nova etapa de paz, de conciliação”. Na véspera, oferecera um ministério a seu concorrente, embora agregando que na sua opinião López Obrador recusaria.


Dados sobre o Parlamento


Os dados parciais sobre o Parlamento, assim como o ainda incerto resultado presidencial, apontam para um quadro político novo. Passa a segundo plano a polarização PAN-PRI, que predominou nas eleições presidenciais de 2000. O candidato do PRI, Roberto Madrazo, ficou em um distante terceiro lugar, com 22% dos votos.

Para a Câmara, 140 dos 300 distritos eleitorais haviam concluído a apuração. A coligação Para o Bem de Todos, de López Obrador, figurava com 58 deputados federais, o PAN com 54 e a Aliança pelo México, do PRI, com 28. O Partido Alternativa Social-Democrata e Camponesa (cuja candidata à Presidência foi Patricia Mercado) obteve 2,7% dos votos, devendo superar a cláusula de barreira mexicana, assim como a Nova Aliança.

Com agências