Um perfil do agronegócio na América Latina
Soja, eucalipto, tabaco, calçados… pesquisadores discutem as várias faces do agribusiness no continente para criar plano de resistência.
Publicado 01/07/2006 22:32
de Buenos Aires (Argentina)
Apesar de as economias e as culturas dos países latino-americanos serem distintas, o efeito destruidor do agronegócio é comum a todos. Argentinos, bolivianos, brasileiros, paraguaios e uruguaios traçaram um perfil deste modelo em seus países, a fim de encontrar as semelhanças e, assim, criar um plano de resistência em conjunto.
O engenheiro agrônomo Adolfo Boy relata que, somente entre os anos de 1990 a 2001, o agronegócio fez desaparecer mais de 100 mil pequenas empresas agropecuárias dos setores de leite, frutas, hortaliças e graos.
Esses grupos contrastam com os movimentos sociais camponeses, os quais historicamente resistem, desde a década de 1950, com a agricultura familiar. "Estes modelos não são complementares. No Brasil, provou-se que a existência do agronegócio depende do desaparecimento da agricultura familiar", analisa Camila.
Outra grande conseqüência deixada pelo modelo é a contaminação do solo, de rios e sobretudo das pessoas pelos agrotóxicos – químicos que, em sua maioria, são contrabandeados do Brasil. O uso destes aumentou com o plantio da soja transgênica no país, intoxicando principalmente crianças, que sofrem de problemas pulmonares e de pele.
Na Bolívia, são os sojicultores brasileiros, aliados às transnacionais, que lideram o avanço do agronegócio atualmente. A pesquisadora Sorka Copa Romero relata que, como os brasileiros não podem pedir a liberação da soja transgênica no país por serem estrangeiros, empresas como a Monsanto reivindicam junto ao governo boliviano a liberação do plantio.
"Transnacionais e latifundiários estão juntos no agronegócio", afirma. As terras bolivianas são controladas por apenas 100 famílias, as quais possuem fortes laços com políticos.
Celulose
Destoando dos outros países, o agronegócio no Uruguai iniciou com o plantio industrial de pinus e de eucalipto para a produção de celulose. Incentivado e financiado pelo Banco Mundial na década de 70, o governo uruguaio recebeu diversos empreendimentos de transnacionais. "Com o florestamento, 35 mil camponeses deixaram o campo nos últimos 30 anos, gerando desemprego para cerca de 80 mil pessoas", analisa Alberto Villareal, do grupo ambientalista Redes. Hoje, a monocultura das árvores cresce na média de 70 mil hectares por ano.
No agronegócio uruguaio, a soja surgiu somente nos anos 2000. "Em 2004, a soja já cobria 300 mil hectares do território do Uruguai, sendo que em 2000 eram apenas 14 mil hectares", compara.