Palestinos pedem que resistência não liberte soldado capturado
Civis palestinos viram a mais recente invasão israelense da Faixa de Gaza, na quarta-feira, com uma mistura de desafio e desespero, tentando estocar alimentos e combustíveis enquanto a resistência se preparava, montando barricadas e prometend
Publicado 28/06/2006 11:25
Muitas pessoas preferiram ficar dentro de suas casas depois dos ataques aéreos lançados por Israel durante a noite. No ataque, uma estação de energia elétrica foi destruída e o fornecimento de água, interrompido.
"O que podemos fazer? Nos matar? Que valor têm as nossas vidas se não podemos alimentar nossos filhos?", perguntou Ali Abu Khaled, de 35 anos, funcionário do governo e morador de Gaza. "Peço à resistência que não liberte o soldado. Não temos nada a perder". O professor Ahmed Saadi acrescentou: "Parabéns, Israel. Outra geração vai crescer cheia de ódio por vocês".
Os palestinos têm enfrentado a violência econômica gerada por países ocidentais — principalmente EUA e União Européia — depois do Hamas assumido o governo, a partir da sua vitória nas eleições de janeiro deste ano. Devido à não transferência dos impostos, retidos ilegalmente por Israel, e ao boicote da ajuda econômica destinada ao governo palestino, funcionários públicos não recebem salários há quatro meses.
Tanques israelenses, com o apoio de helicópteros e da artilharia, invadiram o sul da Faixa de Gaza na madrugada de quarta-feira, sob pretexto de tentar libertar o soldado prisioneiro da resistência. Gilad Shalit, de 19 anos, foi feito prisioneiro durante um ataque realizado no domingo.
Ainda não houve confrontos diretos entre os israelenses e as resistência. Outras unidades de Israel estão de prontidão para invadir as áreas central e norte da Faixa de Gaza. A invasão ocorreu a menos de um ano da retirada israelense da região, invadida havia 38 anos.
Resistência preparada
Militantes exibindo fuzis de assalto e foguetes antitanque postavam-se nas ruas, nas vielas e atrás de montes de destroços. Outros armaram minas de fabricação caseira e colocaram arame farpado perto das áreas de fronteira do norte.
"Entrar na Faixa de Gaza não será nenhum piquenique. A Faixa de Gaza vai se transformar em um cemitério do inimigo", afirmou Abu Mohammad, das Brigadas de Mártires de Al Aqsa, ligadas ao partido Fatá (do presidente palestino, Mahmoud Abbas).
A mais nova agressão israelense contra os palestinos teve o efeito de reunir diferentes grupos da resistência, depois de desavenças internas em relação ao governo palestino.
Autoridades palestinas disseram que ataques com mísseis danificaram bastante uma usina de força da Faixa de Gaza. Cerca de 70% dos 1,4 milhão de habitantes da região ficariam sem energia elétrica por seis meses, afirmaram.
O Ministério da Saúde disse ter declarado estado de emergência em todos os hospitais e clínicas do território, mas acrescentou que os suprimentos de material médico podem acabar dentro de semanas.
Aviões de guerra israelenses sobrevoaram a região a baixa altitude e superando a velocidade do som, o que produz um ruído forte de explosão. O estresse provocado pela quebra da barreira do som provoca abortos e traumatiza crianças.
"O bombardeio das instalações civis de infra-estrutura, de pontes vitais e centrais e da usina de energia da Faixa de Gaza é um crime de guerra", afirmou o parlamentar Mushir al-Masri, do Hamas.
O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, disse que "Israel não hesitará em tomar atitudes extremas" para reprimir a ousadia da resistência palestina em efetuar a prisão de um soldado invasor.
Shalit, sem a necessidade de uma confrontação.
Abu Khaled, de 50 anos, pai de sete filhos e morador de Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza, mostrava-se temeroso.
"Tenho medo por minhas crianças, por meus vizinhos. O mundo é um lugar injusto. Somos abandonados sozinhos para enfrentar a besta israelense", disse.
Com agências internacionais