Fretilin levará milhares de militantes para capital do Timor Leste
Cerca de dez mil militantes e simpatizantes da Frente por um Timor Leste Independente (Fretilin) estão reunidos desde segunda-feira em Hera, uma localidade situada a 12 quilômetros de Díli, a capital de Timor Leste, esperando a autoriza&ccedi
Publicado 28/06/2006 14:45
Alkatiri esteve na concentração e convenceu os cerca de 10 mil membros reunidos a esperarem "um dia ou dois" antes de entrarem na capital de Timor Leste. "Nós ainda vamos a Díli, mas não hoje (terça-feira). É quase noite. Vamos voltar a Metinaro e esperar um dia ou dois", disse o secretário-geral do partido no poder e primeiro-ministro demissionário, que discursou aos seus simpatizantes no fim da tarde na zona de Hera, a cerca de 12 quilômetros a leste de Díli.
Mari Alkatiri e o presidente da Fretilin e do Parlamento Nacional, Francisco Guterres "Lu-Olo", foram ao encontro dos manifestantes, que se encontravam em Metinaro, a 40 quilômetros de Díli, mas que durante o dia se começaram a dirigir para a capital. Os dois dirigentes da Fretilin argumentaram que faltava segurança, além da hora tardia, para que os manifestantes pudessem se deslocar pacificamente para a capital.
Os manifestantes decidiram retornar a Metinaro. Alkatiri e "Lu-Olo" decidiram acompanhá-los e só depois é que regressarão a Díli. "Vamos esperar que outros simpatizantes se juntem a nós e depois nós (Alkatiri e "Lu-Olo") vamos encontrar vocês para conversar", disse o secretário-geral do partido, que foi forçado a pedir demissão do cargo de primeiro-ministro na última segunda-feira.
Alkatiri disse também que "só uma pequena parte dos loromonu — timorenses dos distritos ocidentais —é que está contra a Fretilin". "Quando a nossa manifestação entrar em Díli, alguns que lá se encontram vão se juntar a nós", garantiu.
Francisco Guterres "Lu-Olo", ao dirigir-se aos manifestantes, destacou que a legitimidade da Fretilin foi obtida pela via eleitoral. "Se alguém quiser ocupar os nossos lugares no Parlamento, tem de ser por via democrática", alertando a todos contra o desenrolar do golpe de estado que tem convulsionado o país nos últimos meses. A Fretilin tem 55 deputados no Parlamento, que conta com 80 vagas.
Os dirigentes da Fretilin revelaram aos manifestantes que acertaram, os militares das forças internacionais, que a entrada dos simpatizantes em Díli só deveria ocorrer depois da desmobilização dos manifestantes anti-governo, que tiveram livre trânsito na capital nos últimos dias.
Os manifestantes que estavam em Hera, provenientes dos distritos orientais do país, exibiam bandeiras da Fretilin e cartazes com frases de apoio a Mari Alkatiri e a "Lu-Olo". Um dos organizadores da manifestação, Francisco Faustino Vieira, disse à mídia portuguesa que os manifestantes pretendem entrar em Díli para "entregar uma petição ao presidente da república, exigindo a anulação da demissão do primeiro-ministro".
Exigem também que "os líderes timorenses se reúnam para falar e resolver a crise", disse Vieira, proveniente de Baucau, a segunda cidade de Timor-Leste, situada a cerca de 130 quilômetros a leste de Díli.
Emissora atacada
Dezenas de desconhecidos apedrejaram e tentaram invadir as instalações da Rede de Televisão do Timor Leste, em Caicoli, no centro de Dili, a capital do país, ontem às 10h30 (horário local — 0h30 de Brasília). O ataque aparentemente ocorreu em vingança à divulgação de imagens, ontem à noite, de uma concentração de milhares de militantes da Fretilin nos arredores de Díli. Apesar de ser uma área de atuação das tropas australianas, uma patrulha da Guarda Nacional Republicana de Portugal foi obrigada a intervir para dispersar os atacantes, tendo detido o líder do grupo. As forças australianas não intervieram no conflito, segundo o comandante operacional do contingente português em Timor-Leste, o capitão Gonçalo Carvalho.
Após o ataque, a direção da RTTL suspendeu as emissões, alegando "razões de segurança", declarou seu diretor-geral, Virgílio da Silva Guterres. "Após um encontro entre a direção e as redações da televisão e da rádio, decidimos suspender as emissões, porque alguns dos nossos jornalistas e funcionários foram ameaçados e estão em pânico", disse Guterres, sublinhando que "as emissões só serão retomadas quando as forças internacionais garantirem a segurança das instalações".
Guterres disse que cinco pessoas que se encontravam nas instalações da RTTL durante o incidente sofreram ferimentos ligeiros, quando tentavam fugir por uma zona cercada com arame farpado. No momento do ataque estavam no edifício cerca de 50 pessoas, entre jornalistas e familiares de funcionários que ali têm estado nos últimos dias, por razões de segurança.
Guterres, também presidente da Associação de Jornalistas de Timor-Leste, condenou o incidente, salientando que a notícia transmitida ontem sobre a intervenção do líder da Fretilin, Mari Alkatiri, junto dos seus seguidores se limitou "a relatar o que aconteceu". "A nossa notícia não tinha qualquer comentário. Apenas imagens e o discurso de Mari Alkatiri", sublinhou. A RTTL tem cerca de uma centena de funcionários, incluindo 36 jornalistas.