Dançando para o nosso João

Homenagear o compositor maranhense João do Vale,
através de coreografias baseadas nos principais ritmos juninos locais. Este é o objetivo do espetáculo “São João”, que a Companhia Circuito Carona de Dan

Homenagear o compositor maranhense João do Vale,
através de coreografias baseadas nos principais ritmos juninos locais. Este é o objetivo do espetáculo “São João”, que a Companhia Circuito Carona de Dança apresenta amanhã, às 18h, no Sesc/Deodoro (Centro), com entrada franca.
Dirigido pelo bailarino Mano Braga, 31, que também é responsável por todas as coreografias, o espetáculo traz várias músicas de João do Vale, adaptadas a ritmos como bumba-meu-boi, cacuriá, quadrilha, tambor-de-crioula e divino. Outras foram mantidas sobre as bases originais de xote, baião e forró.
Ao todo, 35 bailarinos participam da montagem, sendo 16 da Companhia Circuito Carona de Dança. Os demais são convidados e integram brincadeiras como o Cacuriá de Dona Teté, Companhia Barrica, Piaçaba, Boi de Nina Rodrigues, entre outros grupos.
Com 45 min, São João consumiu um mês de ensaios e foi criado ano passado, especificamente para as festas juninas, tendo sido apresentado pela primeira vez durante o Projeto Vale Festejar, no Convento das Mercês.
Mano Braga conta que a gênese do espetáculo surgiu quando ele acompanhava a turnê italiana, de um grupo de dança do Rio de Janeiro. “O mês de junho estava se aproximando e eu senti muitas saudades do Maranhão, principalmente, do movimento das festas juninas”.
O bailarino acrescenta que ao chegar em São Luís, conversou com o figurinista Marcelo Nascimento – que assina as indumentárias de São João – e sugeriu a criação de um espetáculo nos moldes de Nordestinamente, montagem com ritmos do Nordeste, que durante alguns anos foi sucesso no Teatro Arthur Azevedo.
“Enquanto conversávamos, tocava um CD com músicas de João do Vale. Daí, imediatamente pensamos em fazer um espetáculo para homenagear o compositor”, lembra.
Além de Mano Braga, integram a Companhia Circuito Carona de Dança os bailarinos Carol Aragão, Carol Raquel, Érika Saiki, Érika Patrícia, Larissa Hilery, Bruno Jansen, Pedro Ciro, Lucena Marques, Flávio Licar, Carlos Eduardo, Mardem Mouzinho, Denise, Marisa Leão, Tatiane Soares, Larissa Saraiva.
Em São João, a música é tocada e cantada ao vivo por uma banda, especialmente recrutada para a montagem. Os cantores Guilherme e Taís são os responsáveis pelos vocais.
Outro destaque do espetáculo é o figurino. Marcelo Nascimento criou vestuários específicos para cada dança. Um detalhe é que a roupa do coco e do lelê traz referências da bandeira brasileira, mas o motivo não é a Copa do Mundo e sim a amplitude nacional da obra de João do Vale, autor de Carcará, Pisa na Fulô, Estrela Miúda, Minha História, entre outras clássicas da canção popular brasileira.

O DIRETOR
Mano Braga começou a carreira de bailarino em 1993, tendo participado de espetáculos de dança e teatro como Catirina, Nordestinamente e Uma Linda Quase Mulher. Como diretor, foi responsável pelas montagens de Mossoró, Sobre Pessoas e Manguda. Integrou a companhia de dança contemporânea Pulsar. Atualmente, ministra oficinas na Associação dos Amigos do teatro Arthur Azevedo.

O COMPOSITO
O artista homenageado, João Batista do Vale, nasceu em Pedreiras MA em 11 de outubro de 1934. Desde pequeno gostava muito de música, mas logo teve de trabalhar, para ajudar a família. Aos 13 anos foi para São Luís MA, onde participou de um grupo de bumba-meu-boi, o Linda Noite, como amo. Dois anos depois, começou sua viagem para o Sul, sempre em boléias de caminhões: em Fortaleza CE, foi ajudante de caminhão; em Teófilo Otoni MG, trabalhou no garimpo; e no Rio de Janeiro RJ, onde chegou em dezembro de 1950, empregou- se como ajudante de pedreiro numa obra no bairro de Ipanema. Passou a freqüentar programas de rádio, para conhecer os artistas e apresentar suas composições, a maioria baiões.
Depois de dois meses de tentativas, teve uma música de sua autoria gravada por Zé Gonzaga, Cesário Pinto, que fez sucesso no Nordeste. Em 1953, Marlene lançou em disco Estrela Miúda, que também teve êxito; outros cantores, como Luís Vieira e Dolores Duran, gravaram então músicas de sua autoria.
Em 1964, estreou como cantor no restaurante Zicartola, onde nasceu a idéia do show Opinião, dirigido por Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes e Armando Costa, que foi apresentado no teatro do mesmo nome, no Rio de Janeiro. Dele participou, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão, tornando-se conhecido principalmente pelo sucesso de sua música Carcará, que lançou Maria Bethânia como cantora.
Tem dezenas de músicas gravadas e algumas delas deram popularidade a muitos cantores: Peba na Pimenta (com João Batista e Adelino Rivera), gravada por Ari Toledo, e Pisa na Fulô (com Ernesto Pires e Silveira Júnior), baião de 1957, gravado por ele mesmo. Em 1982 gravou seu segundo disco, ao lado de Chico Buarque, que, no ano anterior, havia produzido o LP João do Vale convida, com participações de Nara Leão, Tom Jobim, Gonzaguinha e Zé Ramalho, entre outros.
No ano de 1994, Chico Buarque voltou a reverenciar o amigo, reunindo artistas para gravar o disco João Batista do Vale. João do Vale faleceu em São Luís, no dia 6 de dezembro de 1996.