Nepal vai criar governo interino com participação de maoístas
O líder rebelde maoísta do Nepal teve uma reunião histórica nesta sexta-feira com o governo, que concordou em dissolver o Parlamento e criar uma administração interina para incluir os rebeldes.
Publicado 16/06/2006 21:37
Após quase dez horas de conversações com o primeiro-ministro Girija Prasad Koirala e os líderes dos partidos políticos nepaleses, o chefe rebelde, Prachanda, disse que uma Constituição interina será redigida no prazo de três semanas e, depois disso, será formado um novo governo interino.
"Estou orgulhoso porque a decisão que tomamos é histórica", disse o líder rebelde a jornalistas.
Os maoístas também prometeram dissolver seus governos paralelos espalhados pelo país.
Prachanda falou numa coletiva de imprensa, ao lado de líderes de alguns dos principais partidos políticos do Nepal. Ambos os lados disseram esperar que o governo interino seja criado no prazo de um mês.
"Este consenso poderá desempenhar papel muito importante na solução dos problemas do país", disse o ministro do Interior e principal negociador do governo, Krishna Prasad Situala.
O governo interino vai supervisionar eleição para uma assembléia especial que redigirá a nova Constituição e revisará o papel da monarquia. Prachanda disse que essa eleição provavelmente acontecerá em março ou abril de 2007.
O líder rebelde, que viajou à capital num helicóptero particular, vindo do oeste do país, fez sua primeira aparição pública em Katmandu desde o início da revolta.
Protestos de rua
O processo de paz no Nepal começou quando o rei Gyanendra abriu mão do poder e restabeleceu o Parlamento, em abril, após semanas de protestos de rua.
Desde então, o governo multipartidário liderado por Koirala, concordou em um cessar-fogo com os rebeldes, destituiu o rei de quase todos os seus poderes e consentiu com a exigência dos maoístas de eleições para a redação da nova Constituição.
Mas a questão do desarmamento e desmobilização dos rebeldes ainda é um obstáculo potencial ao entendimento entre as partes, segundo diplomatas.
Em entrevista rara concedida à Reuters na quinta-feira, Prachanda disse que os rebeldes não querem depor suas armas antes das eleições. Em lugar disso, ele sugeriu que as forças rebeldes e também as do governo sejam obrigadas a permanecer em quartéis ou acampamentos durante a eleição.
Diplomatas e líderes políticos afirmam que não é possível realizar uma eleição à sombra de armas maoístas.
Não ficou claro se os dois lados reduziram suas divergências sobre essa questão, após as conversações da sexta-feira.
Em comunicado conjunto, as duas partes disseram: "Para conduzir as eleições à Assembléia Constituinte sem medo, os dois lados concordam em pedir à Organização das Nações Unidas que ajude a monitorar as armas de cada lado."
A insurgência maoísta já deixou pelo menos 13 mil mortos e prejudicou gravemente a economia do Nepal, dependente da ajuda externa e do turismo. O Nepal é um dos dez países mais pobres do mundo.
Os maoístas se propunham inicialmente a criar uma república comunista, mas agora Prachanda diz que eles aceitam o princípio de política pluripartidária.
Fonte: Reuters