Acordo do MCC com Incra e Ouvidoria Agrária desbloqueia rodovias em RO

A fazenda do “galo velho” em Candeias do Jamari, na grande Porto Velho, em Rondônia, foi palco de negociações entre o Movimento Camponês Corumbiara (MCC) e as autoridades federais do Incra e da Ouvidoria Agrária, que

 

Por José Barbosa de Carvalho, de Candeias do Jamari/RO

 

Durante três dias as vias de acesso à Rondônia ficaram bloqueadas em Candeias do Jamari e Nova Mamoré, causando irritação dos motoristas, principalmente caminhoneiros, e uma fila de 80 km, entre Candeias e Itapoá do Oeste. Em Porto Velho, Guarjará-Mirim, Ji-Paraná, Vilhena, Colorado D`Oeste e demais cidades ao longo das rodovias, milhares de passageiros “amontoaram-se” nas rodoviárias à espera da liberação do trânsito pelos sem terra do MCC.

 

Gercino José da Silva, Ouvidor Agrário Nacional, Odivício Queiroz, diretor nacional do Incra e Olavo Nienow, superintendente regional do Incra, ouviram atentamente as reivindicações feitas por Adelino Ramos, o Dinho, e Domingos Sávio, líderes dos sem terra, e Águia Azul, advogado do MCC. Na “pauta” constavam a formação de uma “Força Tarefa” composta por técnicos do Incra de outros estados para resolverem os problemas nas fazendas Urupá, em Candeias do Jamari, Gaínsa, em Nova Mamoré, Alegria do Rio Preto, em Itapoã  D`Oeste, e Jequitibá, nas margens do lago da hidroelétrica de Samuel. Todas  estas localidades foram destinadas à reforma agrária com projetos de assentamentos de sem terra pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Entretanto, grileiros, madeireiros, fazendeiros, funcionários públicos e outros considerados como não-clientes da reforma agrária vêm ocupando as parcelas e impedindo que os sem terra (verdadeiros clientes da reforma agrária, assegurado por lei) desenvolvam as suas atividades.

 

Ameaças de morte e depredação ambiental

 

Rogério Vargas, engenheiro agrônomo do Ibama, denunciou às autoridades de Brasília os crimes ambientais praticados por grileiros e madeireiros que vêm ocorrendo em todo  o estado de Rondônia. “O roubo de madeira das áreas de assentamentos, das reservas indígenas e extrativistas é rotineiro. Eles contam com a impunidade para suas ações ilegais. Rondônia transformou-se numa terra sem leis, quem manda aqui é o crime organizado”, denunciou Rogério. Dinho, do MCC, confirmou as denúncias do engenheiro e lamentou que “após quatro anos de denúncias, o Incra de Rondônia nada tenha feito pela reforma agrária. Fomos obrigados a radicalizar, fechar as BRs, porque o nosso povo (os sem-terra) não agüenta mais esperar. Na Urupá, os madeireiros depredaram 70% da floresta, o Ibama tem as imagens de satélite que comprovam e na Gaínsa não é diferente. Lá os madeireiros entraram com sete caminhões e quatro tratores e ameaçaram de morte os sem terra. Se as autoridades não tomarem providências ocorrerá em breve um novo massacre de Corumbiara. Sangue vai correr em Rondônia”, alertou Adelino Ramos.

 

Greve do Incra e sem- terra acampados

 

Devido a greve dos funcionários do Incra, que já dura 50 dias, Odivício Queiroz, diretor do Incra, pediu um prazo de oito dias, até quarta-feira (21) para o deslocamento de técnicos de outros estados para resolver os graves problemas agrários de Rondônia. Este prazo considerado “longo”, pelos sem terra do MCC, causou os “acampamentos” nas margens das rodovias BR-364 e BR-425, em Candeias do Jamari e Nova Mamoré. O Movimento Camponês Corumbiara (MCC) manterá os acampamentos nas margens das rodovias até que todos os acertos com o Incra nacional e a Ouvidoria Agrária sejam cumpridos.

 

Convênio com a prefeitura de Candeias

 

Durante a reunião, ficou acertado que a Ouvidoria Agrária repassará verbas de R$ 50 mil para o batalhão ambiental da PM reforçar a fiscalização na Urupá. E a prefeitura receberá R$ 21 mil para a recuperação e piçarreamento da estrada que dá acesso à Urupá. Chico Pernambuco, prefeito de Candeias do Jamari, agradeceu o repasse e solicitou um convênio com o Incra para educação, saúde e transporte da produção.