Gustavo Petta condena ''adesismo acrítico e esquerdismo infantil''
Para Gustavo Petta, presidente da União Nacional dos Estudantes, os movimentos sociais não devem “enveredar pelo caminho do adesismo acrítico nem pelo caminho do esquerdismo infantil”. A afirmação foi feita hoje dur
Publicado 15/06/2006 19:34
Ressaltando a necessidade de envolver os movimentos sociais na luta pelo desenvolvimento e contra o retrocesso neoliberal, terminou hoje (15) em Brasília o seminário internacional Paz Multilateralismo e Direitos da Juventude. A mesa de encerramento intitulada “Os movimentos sociais e a luta por um novo Brasil” recebeu representantes de algumas das mais importantes entidades da luta social. Mais de uma centena de jovens, que chegava à capital federal para o 13º Congresso da UJS, iniciado nesta tarde, lotou um dos auditórios da Universidade de Brasília para assistir o debate.
Durante sua intervenção, Gustavo Petta, presidente da UNE, salientou o seu apoio à “atitude corajosa e soberana da Bolívia de nacionalizar o petróleo, uma medida que visa contribuir para o desenvolvimento social”. Ele lembrou que a América Latina, que sempre foi o “laboratório do neoliberalismo” hoje reage e procura alternativas progressistas e autônomas que lhes permitam diminuir as injustiças sociais. “A política externa vai ao encontro dessa tendência e mostra-se uma das áreas mais avanças da gestão de Lula”, disse.
Ainda que haja contradições entre ações as voltadas para a melhoria de vida da população e a política macroeconômica que engessa o crescimento, na opinião de Petta “houve melhora nas condições de vidas das camadas mais pobres da população, que teve um aumento de 23% em sua renda”. Apesar de reconhecer avanços, Petta disse que os movimentos sociais “não devem enveredar pelo caminho do adesismo acrítico nem pelo caminho do esquerdismo infantil, assumido por setores ditos de esquerda dados a bravatas alimentadas pela grande mídia. Os movimentos sociais devem ser autônomos, mas não neutros”. Segundo Petta, para que se alcance as mudanças de que o Brasil carece, é necessário “pôr o povo nas ruas porque nenhuma mudança acontecerá sem mobilização e pressão”. No próximo dia 28, lembrou Petta, acontece uma grande mobilização em São Paulo com o objetivo de “barrar a direita e fazer o governo avançar”.
Contra o desgoverno tucano
Após Liége Rocha, presidente da União Brasileira de Mulheres e Julião, da União dos Negros pela Igualdade (Unegro) falarem sobre a importância da mobilização dos militantes feministas e negros no diálogo entre sociedade e poder público, foi a vez de João Batista Lemos, dirigente da Corrente Sindical Classista. Ele afirmou que “o sujeito da transformação social é o conjunto das massas populares. Sua atuação não deve estar separada do projeto de nação e da perspectiva do poder. Todas estas esferas devem estar relacionadas”. Para ele, “neste momento é essencial que os movimentos sociais lutem pela reeleição de Lula, mas que também se engajem para exigir um projeto nacional de desenvolvimento que leve em conta as necessidades do povo brasileiro”.
Em seguida, foi a vez de Thiago Franco, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). “Durante os oito anos de FHC a nossa luta foi para garantir os direitos adquiridos na área da educação e contra o desgoverno implementado pelo tucanato, que levou às privatizações, ao sucateamento da educação e à dependência do Brasil”, disse. Ele completou dizendo que “o que diferencia FHC de Lula é que agora podemos dialogar com o governo e passamos a ter condições de agir de maneira propositiva”. Após ressaltar algumas das principais vitórias obtidas na área da educação – como o Pró-Uni e o Fundeb – Franco ressaltou que, apesar dos pontos positivos da gestão federal, é “imprescindível a mudança da política macroeconômica que hoje impede o país de alcançar patamares mais elevados de desenvolvimento e isso passa por barrar o retorno da direita ao poder”. E, neste sentido, Franco destacou que “isso só será possível por meio da união dos movimentos sociais”.
Urgência da luta pela paz
Ao falar sobre a luta da humanidade contra a guerra e pela paz, a deputada federal Socorro Gomes (PCdoB/PA), presidente do Cebrapaz, ressaltou que um dos principais objetivos da entidade, criada há dois anos, é fortalecer a corrente antiimperialista que hoje está presente em todo o mundo. “Precisamos continuar denunciando o falcão da guerra, encarnado nos Estado Unidos, e nos solidarizar com os povos que sofrem pelas ações belicistas do império”. Ela alertou sobre os reais interesses do país, lembrando que “o que está por trás de suas ações não é o espírito democrático tão alardeado pelo imperialismo. O objetivo real é dominar nações e saquear suas riquezas naturais, especialmente o petróleo. Isso fica claro quando verificamos que há cerca de 800 bases militares estadunidenses espalhadas pelo globo e a maioria está assentada em locais ricos em recursos naturais”.
Além disso, destacou Socorro, “devemos contribuir para o fortalecimento da cultura da paz, compreendendo que cada país tem o direito de determinar o seu destino”. Para ela, “combater o imperialismo é uma luta revolucionária que se insere no processo de construção da via socialista”.
Depois, foi a vez de Wander Geraldo, presidente da (Confederação nacional das Associações de Moradores (Conam), falar sobre a participação popular no movimento urbano por moradia. “É preciso acabar com os latifúndios das grandes cidades e com a especulação imobiliária, que dividem as cidades entre ilhas de excelência e regiões de extrema pobreza e exclusão social”. Conforme destacou o líder comunitário, este é um problema enfrentado em diversos países, daí a importância da mobilização e da troca de experiências entre populações de países diferentes. “Para melhorarmos essa situação, não basta reelegermos Lula. Precisamos fazer com que os movimentos sociais atuem e exijam seus direitos e melhores condições de vida para nosso povo”, disse Wander. Neste sentido, destacou o presidente da Conam, “as eleições são o momento de não permitirmos o retorno ao poder de setores conservadores, representados por PSDB e PFL, cujo presidente nacional, Jorge Bornhausen, deixou clara sua visão elitista ao dizer que esperava ficar livre de nossa raça”.
Conscientização do povo
Ao iniciar sua fala, João Paulo, do MST, lembrou que da década de 90 até 2002, ganhou força no Brasil o movimento neoliberal, que pregava, como uma de suas principais bandeiras, o chamado “Estado mínimo”. “Na prática, essa política foi responsável pelo aumento das desigualdades e pelo fortalecimento das mobilizações populares que tentavam reverter aquela realidade”. Segundo João Paulo, “o povo precisa ser conscientizado para que seja capaz de lutar por terra, por saúde, por trabalho e por educação e para participar da vida política do país de maneira mais ativa”.
Antônio Carlos Spis, secretário de Comunicação da CUT, por sua vez, salientou que a Coordenação dos Movimentos Sociais consolidou-se após ir às ruas, em 1999, contra Fernando Henrique Cardoso. Para ele, “os movimentos sociais devem estar atentos e cobrar mudanças no governo atual. Há representantes do poder econômico na administração federal, ainda hoje há currais eleitorais pelo Brasil. Tudo isso faz com que a luta seja ainda mais difícil, mas é preciso continuar porque sem mudar a política econômica, não haverá mudanças estruturais no país”.
De Brasília,
Priscila Lobregatte
De Brasília,
Priscila Lobregatte