Na apresentação do tema "O Brasil e um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento – Diálogo com o Executivo e o Parlamento Brasileiro", o diplomata brasileiro disse que o desafio do Brasil, que é visto como um possível pólo do desenvolvimento mundial, é o de construir seu potencial e reduzir sua vulnerabilidade externa.
O modelo de globalização da economia foi apontado pelo palestrante como a origem dos males que afetam os jovens do mundo todo – o desemprego. Para ele, o emprego é a principal preocupação da juventude, porque garante sobrevivência e existência digna, mas foi substituído pelas metas de inflação.
Grande meta
Para Samuel Pinheiro, "a grande meta deve ser a do emprego, porque a gente pode ter taxa de crescimento elevada, mas uma enorme concentração de renda". Também defendeu a construção de infra-estrutura, porque, segundo ele, não existe emprego sem investimento.
Para isso, "é necessário preservar a capacidade dos estados de desenvolverem políticas públicas". E explica, em linguagem fácil e acessível aos jovens, o porquê de suas preocupações, "que devem ser de todos nós", ressaltou. Com enormes disparidades existentes no Brasil – o País é campeão de desigualdades -, a massa de indivíduos fora do sistema é muito alta – sem educação, sem qualificação, desarticulados de famílias (cerca de 40% das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres) – e que precisam de políticas públicas para serem inseridas no mercado de trabalho.
Ele criticou o esquecimento de projeto nacional, resultante do processo de globalização, acrescentando que "já que o mercado substituiu a nação, não existe mais fronteira, não faz sentido falar em projeto nacional".
Regras negociadas
"A preocupação de todos nós, disse mais uma vez o diplomata, é de garantir aos estados que as normas internacionais negociadas não prejudiquem a adoção de políticas públicas", fazendo a defesa de um mundo multipolar, "sem hegemonia, com equilíbrio, porque a capacidade de articular alianças é difícil em um mundo unipolar", explicou.
Segundo ele, "tudo isso depende da existência da paz e repúdio à violência e à guerra, porque situações de conflitos impede tudo isso".
Para Samuel Pinheiro, hoje não se fala em desenvolvimento. A palavra foi substituída por crescimento, que representa aumento do produto; ao contrário de desenvolvimento que representa o estágio do sistema de produção.
Ele explicou como ocorreu o processo de globalização, destacando que não é um processo natural, como uma tempestade, é conduzido por países que tem interesse nos seus resultados, quais sejam uniformizar as regras para remover obstáculos e garantir a concessão de mais benefícios dentro dessa extra-territorialidade, colocando as empresas fora das jurisdição dos estados.
O diplomata enfatizou como característica da globalização "a concentração econômica que leva a concentração política que leva ao unilateralismo, que é diferente do multilateralismo, e que desrespeita as regras internacionais porque leva ao abuso dos países unilaterais".
A globalização fez com que migrasse a mão-de-obra e houvesse deslocamento de capital especulativo em busca de remuneração extraordinária. "Essa volatilidade de empresa, capital, mão-de-obra, cria instabilidade para os países da periferia, onde se encontra o Brasil, que era um país de imigrantes e tornou-se um país de emigrantes", explica Samuel, que classifica a situação como dificuldade, que não é de natureza política, mas de natureza econômica e gera uma reação de xenofobia, acrescida dos problemas de segurança.
Para ele, essa situação tem origem mais distante, que reproduz o sistema imperial existente para explorar recursos naturais e mão-de-obra, por meio da escravidão, dos países-colônias, que levou a concentração de poder econômico e político e mantinha relação com as elites do poder do sistema colonial. O sistema imperial foi sucedido pelas grandes potências, reproduzindo situação semelhante com os estados descendentes das colônias, hoje os estados periféricos.
Exemplo de Lula
No painel desta terça-feira também participaram o representante do Ministério da Educação, André Lázaro, que destacou dois importantes projetos de políticas públicas – Fundo de Educação Básica (Fundeb) e projeto de cotas – que estão sendo desenvolvidos pelo governo federal, para atender a população jovem.
O representante do Ministério do Esporte, Marcelo Ramos, também falou sobre os programas desenvolvidos na área do esporte como proposta do governo Lula para reverter a situação dos jovens brasileiros que são vitimados pelo modelo excludente e concentrador da economia globalizada.
O deputado Inácio Arruda (PCdoB-CE) destacou que o Brasil vem fortalecendo iniciativas para o surgimento de blocos econômicos e políticos que se contrapõem à hegemonia norte-americana. Com isso, o País, segundo ele, dá um passo para fortalecer o multilateralismo no mundo.
Arruda observou, no entanto, que essa política de fortalecimento do multilateralismo adotada pelo Brasil provoca fortes reações internas e externas. Ele ressaltou que nos primeiros anos do atual governo "a direita focou a oposição na política externa de Lula", no fato de se ter priorizado o relacionamento com países e regiões como a China, a América do Sul e a África.
Contra o imperialismo
Jovens de todo os continente – América, Europa, Ásia, África e Oriente Médio – estão participando do evento, que prossegue nesta quarta e quinta-feira (14 e 15), discutindo alternativas para os conflitos no mundo e a busca pela paz, o multilateralismo e os direitos da juventude.
A programação desta quarta-feira (14) prevê a realização do painel sobre "A juventude pela Paz e contra o imperialismo", com a participação da presidente do Conselho Mundial da Paz/Cebrapaz, a deputada Socorro Gomes (PCdoB-PA) e do Major do Exército da República Bolivariana da Venezuela, Alexander Herrera; Representante da Juventude Comunista Colombiana (JUCO), Cláudia Florez, seguido de depoimentos dos participantes.
No período da tarde, haverá painel sobre "As injustiças sociais e o unilateralismo: ameaças aos direitos da juventude", apresentado pelo Secretário Geral da Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD), Giovani Barrueta e representantes da Organização Ibero-americana de Juventude (OIJ) e do Centro de Estudos e Memórias da Juventude, seguido de depoimentos dos participantes.
Na quinta-feira (15), o evento será encerrado com uma mesa redonda sobre "Os Movimentos Sociais e a luta por um novo Brasil", com participação da Central Única dos Trabalhadores CUT); União Nacional dos Estudantes (UNE); Movimento Sem Terra (MST); União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES); Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG);
Confederação Nacional das Associações de Moradores (CONAM); Marcha Mundial de Mulheres (MMM); União dos Negros Pela Igualdade (UNEGRO); Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM) e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB).
De Brasília
Márcia Xavier