Latifúndio boliviano pega em armas contra reforma agrária
Se a nacionalização do petróleo pelo governo Evo Morales despertou um aplauso quase unânime na Bolívia, a proposta de reforma agrária promete ser bem mais conflituosa. Senhores de terras da província de Santa Cruz, coléric
Publicado 01/06/2006 11:26
Os latifundiários bolivianos anunciaram nesta quarta-feira (31) que estão formando “Comitês de Defesa da Terra”, assemelhados à UDR brasileira. Enquanto isso, declaram desejar que o governo “não nos obrigue a pegar em armas”.
“Previsíveis enfrentamentos”
O movimento é articulado pela Confeagro (Confederação Agropecuária Nacional). Em nota, a entidade dos proprietários fundiários diz que se mobiliza “para preservar o patrimônio produtivo consolidado ao longo de gerações e defender nosso modelo de desenvolvimento com os meios ao nosso alcance”.
A nota também responsabiliza o governo por “previsíveis enfrentamentos”, gerados “pelo clima de incerteza e confrontação gerado pelas autoridades governamentais”. A ameaça é evidente.
A resposta do governo
O governo respondeu horas depois, advertindo que os grupos de defesa, “armados ou não”, “estão no umbral da delinquência”. O vice-ministro de Coordenação com os Movimentos Sociais, Alfredo Rada, advertiu que “o uso exclusivo da força pública é uma atribuição das autoridades e não se pode formar grupos privados, grupos violentos, organizados por proprietários”.
O projeto de reforma agrária na Bolívia pretende distribuir 20 milhões de hectares, que equivalem a um quinto do território nacional.
O papel de Santa Cruz
O fulcro do conflito está no departamento de Santa Cruz, onde existem 36 milhões de hectares de terras cultiváveis, quase um terço do total nacional (grande parte do território boliviano é formado pela Cordilheira dos Andes, onde só se pode cultuivar algumas nesgas de terra nos vales). A propriedade da terra no departamento está concentrada nas mãos de sete famílias.
Em Santa Cruz se situa também a maior parte das 200 grandes fazendas em mãos de latifundiários brasileiros, que totalizam 11 milhões de hectares – uma média de 55 mil hectares por propriedade – e respondem por 36% da produção de soja do país. Outros 15 mil brasileiros instalados no país vizinho são trabalhadores assalariados, ou proprietários de lotes pequenos e médios.
Santa Cruz, na fronteira com o Brasil (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia), é a mais rica da Bolívia, graças ao petróleo e gás mas também à agropecuária, em especial a soja. É também o principal foco da oposição de direita a Evo Morales: nas eleições de dezembro, este foi suplantado no departamento por seu adversário, Jorge Quiroga, embora ficando com um terço dos votos. Parte da elite de Santa Cruz, branca e ultraconservadora, alimenta planos separatistas.
Com agências