Rabelo: O que está em jogo nas eleições 2006
Publicado 31/05/2006 18:31
Hoje o país está numa encruzilhada. Pode seguir o caminho do desenvolvimento ou do retrocesso neoliberal. Para alcançar o primeiro, a reeleição de Lula é uma necessidade premente. Com uma ampla coalizão de forças formada por partidos de esquerda, progressistas e de centro, será possível realizar um segundo mandato sintonizado com as necessidades do povo brasileiro.
No entanto, se o país tomar o outro caminho, será a volta dos ditames neoliberais e um retrocesso para o país. Por não ter posição nem perfil definidos, seu candidato, Geraldo Alckmin, é uma espécie de curinga, com uma vestimenta capaz de adaptá-lo a qualquer tipo de discurso, conforme for mais conveniente aos caciques conservadores. Ele representa a burguesia paulistana, que esteve à frente do projeto neoliberal intensificado a partir dos anos 90, e o plano deste setor é a revanche. O tucanato espera voltar ao poder para dar continuidade às reformas neoliberalizantes e neocolonialistas iniciados com FHC e nem mesmo José Serra, que para alguns setores é uma figura desenvolvimentista, teria um objetivo diferente porque na essência ele é sustentado por estas mesmas forças, lideradas por PSDB e PFL.
Tradicionalmente, o Partido entrava nas disputas eleitorais a meio palmo, focando suas ações apenas nas disputas proporcionais, para deputados. Mas já em 2004 disputou diversas prefeituras, e hoje está presente na administração pública de 12 municípios. No pleito de outubro, vamos nos lançar ao desafio das candidaturas ao governo dos estados.
A disputa majoritária também será um campo de contradições. De um lado os comunistas vão aliar-se com forças progressistas, como tradicionalmente fazem, com PT e PSB, no enfrentamento das forças conservadoras e fisiológicas; por outro lado, o PCdoB poderá ter de enfrentar também obstáculos colocados por nossos próprios aliados, que não facilitarão a inserção comunista em seu flanco.
Condições para as mudanças
Quando passou a faixa presidencial para o ex-metalúrgico, Fernando Henrique Cardoso transferiu também oito anos de sucateamento do Brasil. A nova equipe encontrou um país à beira da insolvência. Empresas estatais estratégicas foram privatizadas e, embora tenham sido arrecadados cerca de 100 bilhões de dólares, não houve nenhuma contrapartida para a sociedade. Ao contrário: entregaram o país com um déficit de 80 bilhões de dólares, e nada foi construído.
Nem no regime militar houve tamanha farra com o dinheiro público. Daquele período, herdamos muitas dívidas, mas também houve investimento em obras públicas.
É preciso analisar a situação atual de maneira dialética, levando em conta esse espólio negativo da era tucana. Lula encontrou um país falido, e conseguiu mudar sua condução, levando o Brasil para o rumo do crescimento, mesmo sendo um governo com uma política econômica ortodoxa, que engessa investimentos públicos e prejudica setores produtivos. Seu governo implementou ações sociais que atingem milhões de brasileiros que viviam na miséria. Estima-se que haja no Brasil 72 milhões de pessoas nessa situação. Para estas pessoas, o mais cruel é a insegurança alimentar, o que o Fome Zero e o Bolsa Família tentam sanar. Acredito que o combate à miséria vai muito além disso; deve-se mudar a estrutura deste país. Mas Lula tem conseguido combater a fome.
Nas camadas pobres da população, tem chegado benefícios como o crédito consignado e a facilitação do financiamento propriedades rurais familiares. Ações como estas têm impacto social, assim como o aumento real do salário mínimo ocorrido em sua gestão. A renda per capita da família brasileira voltou ao nível da década de 70, considerado um dos melhores de nossa história. Resultados como esses são reconhecidos até mesmo por gente como Edward Amadeo, que foi ministro durante o governo de FHC: ele afirmou recentemente que boa parte do apoio que Lula tem na população é resultado da estabilidade e da distribuição de renda. Isso demonstra que a política federal tem surtido efeitos. Além disso, Lula tem relação fraterna com os movimentos sociais, dos quais se sente parte integrante por toda sua história de luta ao lado dos trabalhadores.
A política externa de Lula é outro ponto forte porque tem como norte um objetivo estratégico de alta importância: a integração dos países latino-americanos como alternativa de resistência ao imperialismo estadunidense. Trata-se de buscar uma nova conformação das forças mundiais, que hoje está centrada na potência norte-americana. Sinais positivos ajudam na busca dessa nova formatação. Os Estados Unidos começam a dar sinais de desgaste tanto na economia como na política interna e externa, que visa subjugar povos soberanos. A formulação neoliberal e neocolonialista, o caráter belicista e imperialista de suas ações suscitam a resistência dos povos.
Ao contrário da gestão tucana que apoiava a unipolaridade, e a política externa norte-americana, o Itamaraty busca hoje o diálogo com nações irmãs, de desenvolvimento semelhante, na África e Ásia, reforçando a busca pela multipolaridade. Enquanto FHC reverenciava o norte, Lula volta-se para o sul e, atualmente, o Brasil ganha status de liderança entre os países mais pobres.
Há um conjunto iniciativas que, obviamente, não são suficientes, mas sinalizam que Lula caminha no sentido distinto ao de FHC. A mídia, tão pronta a criticar duramente o presidente Lula, fecha os olhos para essas questões e encobre os êxitos do governo.
Instabilidade política
A verdade é que a elite brasileira, que tem seu braço político em setores conservadores capitaneados por PSDB e PFL, não aceita Lula, que tem se esforçado para dirigir suas ações em benefício de camadas sociais nas quais o establishment não se encaixa. Então, figuras tradicionais da política nacional, comprometidas com essa elite conservadora, agem de maneira golpista, vestindo a fantasia de cruzados moralistas. Eles, que há anos esbulham o dinheiro público pregam a moralidade, no melhor estilo udenista.
Cenário propício
É preciso aproveitar essa onda de resistência e ousar mais na política nacional. A condução de nosso país tem uma importância que transcende a sua fronteira justamente porque o Brasil despontou como uma das lideranças dos países emergentes.
Polarização
Do lado oposto, estão as forças comprometidas com o atraso e com os ditames neoliberais, mais notadamente PSDB e PFL, calcados em duas pilastras: neocolonização do país e o Estado mínimo, que serve para aprofundar ainda mais as desigualdades. Um outro pólo no centro da disputa não está no horizonte.
A orientação do PCdoB, é, portanto, continuar lutando e exigindo mudanças a partir da reeleição de Lula. Esta é a forma mais justa de barrar o retrocesso. Por isso, é preciso construir uma aliança forte que tenha um perfil de centro-esquerda com um núcleo de esquerda forte e bem definido. Por fim, é necessário elaborar um programa comum aos partidos desta coligação que sinalize para um novo pacto nacional. Desta vez, o foco seria firmar uma aliança social que tivesse como meta responder aos anseios dos trabalhadores e do setor produtivo, diferentemente da Carta ao Povo Brasileiro, de 2002, que acenou para o chamado mercado. O país tem condições de alcançar o crescimento com distribuição de renda. É neste sentido tático que o PCdoB se orienta.