Parlamento Europeu quer acordo direto com Mercosul

O Parlamento Europeu (PE) quer que a União Européia (UE) intensifique as negociações para o acordo de associação com o Mercosul independente das conversas sobre a Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

“Deveríamos nos desligar logo de Doha. Se não o fracasso de uma negociação (Doha) pode arrastar a outra ao fracasso”, afirmou Daniel Varela Suanzes, vice-presidente da Comissão de Comércio Exterior do PE, que se reuniu na última terça-feira para debater o futuro das relações entre a UE e o Mercosul. Essa posição do PE contraria a postura defendida com firmeza pela Comissão Européia (o braço executivo da União Européia), responsável pelas negociações.
A Comissão insiste em esperar a conclusão da Rodada de Doha de liberalização multilateral do comércio, antes de retomar as conversas com o Mercosul. O fim da rodada lançada em 2001 estava previsto para 2005 e foi adiado para o final de 2006. O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, propôs nesta semana um novo encontro ministerial no final de junho, em Genebra, para discutir reduções tarifárias e subsídios para produtos agro-industriais.

 

Importância

 

Ao final de uma reunião informal dos chefes das delegações dos 149 países membros da organização, Lamy disse que julga oportuno o envolvimento dos ministros. Com o impasse na OMC entre os países em desenvolvimento – que querem abertura dos mercados agrícolas dos Estados Unidos e da UE – e demais países industrializados – que querem mais acesso a mercados dos países em desenvolvimento para produtos industriais e serviços –, existe uma desconfiança generalizada sobre as reais possibilidades de um acordo na OMC.
Para Varela Suanzes, “é preciso insistir no acordo com o Mercosul, porque se trata de uma associação de importância estratégica para as empresas européias, em um momento chave para a evolução política nesse continente”. “Ter um acesso uniforme a um mercado de 230 milhões de habitantes, com economias com potencial de crecimento cada vez maior, é essencial para nossas empresas”, ressaltou o deputado, que se definiu como “o intermediário para impulsionar o acordo” com o Mercosul.

 

Primeira vez

 

Carlos Márcio Cozendey, conselheiro econômico da Missão do Brasil junto à UE, que participou da reunião a convite dos parlamentares, citou outro motivo para desvincular as duas negociações.“O Mercosul está oferecendo à UE uma abertura industrial que não tem nenhuma comparação com o que se propõe em Doha. A Europa pode ganhar na negociação bilateral vantagens que não terá de outra forma”, afirma. Segundo Varela Suanzes, “quando se fala em Mercosul sempre se pensa em países pequenos, mas é preciso lembrar que estamos falando de Brasil, por exemplo, que é uma potência em ascensão e, portanto, muito competitiva”.
Esta foi a primeira vez que as relações entre os dois blocos foram discutidas no PE em uma reunião desvinculada da delegação parlamentar para o Mercosul, que trata especificamente do tema. “É um fato importante, que mostra que estão dispostos a dar novos passos. A Comissão de Comércio Exterior tem contato direto com Peter Mandelson, (Comissário de Comércio da UE) e esperamos que transmita de fato esta mensagem ao comissário”, disse Cozendey.

A informação é da
agência BBC Brasil