A crise entre PSDB e PFL começou com as queixas do governador de São Paulo, Cláudio Lembo, sobre o comportamento dos tucanos paulistas durante a onda de violência no Estado. Para acalmar os ânimos, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), aconselhou a todos "falar menos". Conselho que não foi seguido pelo prefeito do Rio, César Maia, que, em entrevista à rádio CBN/São Paulo, nesta Quinta-feira, voltou à carga nas críticas ao PSDB.
César Maia apontou erros da estratégia tucana e condenou a falta de um comando unificado dos dois partidos na campanha. O pefelista afirmou ainda que é preciso entender que a campanha é dos dois partidos e o governo será dos dois partidos. "O Alckmin não é Fernando Henrique, não se trata de uma personalidade internacional, que produza um quadro suprapartidário em torno dele mesmo, não é assim", destacou.
Roupa suja
Para Maia "a lavagem de roupa suja" em público se justifica, dizendo que enquanto não houver um comando unificado de PFL e PSDB na campanha, seu partido vai se sentir à vontade para se expressar como partido que está fora da campanha. "Quando isso for resolvido, nossas críticas passarão a ser internas. Até lá, não. Nós não temos nenhum compromisso com as decisões que são tomadas, nem acesso a pesquisas nós temos", queixou-se.
Maia disse que o PFL quer participar efetivamente do governo no caso de vitória. Para ele, a
aliança entre PFL e PSDB "precisa caminhar para uma "concertacíon" do tipo chilena, na qual os dois partidos estão juntos no governo", numa referência à coalizão de partidos que governa o Chile desde 1990.
O prefeito do Rio aponta como um dos principais erros não apostar no segundo turno. "Ontem mesmo, o presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati, estava conversando com o Roberto Freire, para tentar o apoio do PPS para a campanha do Alckmin. Isso é um equívoco. O ideal para a candidatura é que o Roberto Freire seja candidato, que o Cristovam Buarque seja candidato, que o PMDB tenha candidato. Se o PMDB tiver candidato, já tem segundo turno. Um segundo turno num quadro de reeleição desfavorece quem está no governo", afirmou.
Para ele, a construção do segundo turno se torna muito mais fácil quanto mais candidatos existirem.
Maia disse que o PSDB já errou quando evitou que se votasse o fim da verticalização, dois anos atrás". Segundo ele, se a verticalização tivesse caído antes do pleito de outubro, o segundo turno seria uma coisa absolutamente óbvia, facilitando o deslanche de um candidato que não sai competitivo, como sairia José Serra.
Na garupa
Para o prefeito do Rio existem outros problemas, além da estratégia de campanha. "O PFL não aceita mais a composição que fez no governo Fernando Henrique, ou seja, de entrar na garupa, viabilizar a eleição, ganhar uns dois ministérios, não sei quantas diretorias, um "espacinho aqui outro ali e ser traído", reclamou.
"Nós tínhamos o direito de eleger o presidente da Câmara dos Deputados no segundo governo de Fernando Henrique, mas o PSDB fez uma composição com o PTB, nos traiu, nos tirou da presidência da Casa, contrariando uma tradição", afirmou.
Por iniciativa do candidato a vice-presidente, senador José Jorge (PFL-PE), e do presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), será constituído o Conselho Político de campanha e, em seguida, o ato de formalização da aliança na quarta-feira (31), em Brasília, onde os dois partidos pretendem reunir grande número de políticos numa demonstração de unidade.
Os chefes dos dois partidos diagnosticaram a falta de organização política da aliança como a
origem dos desentendimentos verbais dos últimos dias. A criação do Conselho Político, conforme acredita Bornhausen, sanará essa deficiência. A idéia é transferir para esse órgão a tecnologia organizacional do PFL, o único partido brasileiro que reúne a sua Executiva Nacional uma vez por semana, toda quinta-feira.
Estresse de campanha
O pré-candidato à presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, atribuiu a
crise na sua campanha eleitoral, motivada pelas críticas entre PFL e PSDB, ao estresse. "Isso é estresse de campanha, é passageiro, não há razão para ficar maximizando isso", afirmou.
"Nossa pré-campanha é como Mandacaru: ela cresce na adversidade. Já estou acostumado e isso faz parte", disse Alckmin. Para ele, a aliança PSDB-PFL vai bem. E uma prova disso é o acordo fechado hoje com o ex-senador Albano Franco, que decidiu desistir de se candidatar ao Senado para atender ao PFL.
O governador de Sergipe, João Alves, do PFL, exigiu a vaga ao Senado para a mulher dele, Maria do Carmo, candidata à reeleição. Atendendo ao apelo do PSDB, Albano Franco desistiu de concorrer, e segundo Alckmin ele deve se candidatar à Câmara Federal.
Geraldo Alckmin disse que gostou do resultado das pesquisas da Datafolha, apesar de terem apontado o presidente Lula como vencedor já no primeiro turno. Alckmin disse que gostou porque cresceu dois pontos, mesmo sem poder fazer campanha. "Estou extremamente otimista", afirmou.
Com agências