por Geraldo Galindo*
O povo brasileiro vem acompanhado há mais de um ano o sucessivo bombardeio a quem vem sendo submetido o governo de Luiz Inácio. As poucas famílias que controlam o grosso dos mais importantes meios de comunicação não dão trégua, mesmo quando o PSDB e o PFL se complicam com a astúcia do PCC. O interessante é que não se trata apenas das colunas políticas dos jornais e dos telejornais. Programas como os de Tom Cavalcanti (cabo eleitoral de Tasso Jereissati), Hebe Camargo (malufista de carteirinha), Pânico na TV, Casseta e Planeta, Zorra Total, Jô Soares e outros funcionam como linha auxiliar na tática de ridicularizar e desmoralizar o presidente da república.
Neste primeiro semestre vem acontecendo um fato curioso. Um grupo de artistas, em seqüência, veio a público atacar o governo federal e pedir, velada ou abertamente, o voto na oposição de direita. Por que isso? Não soa estranho? O fato concreto é que depois de ser vítima de um massacre impiedoso, a popularidade do presidente continua em bons patamares e o coloca como franco favorito para a disputa eleitoral. Então, entraram em cena novos atores, ou melhor, alguns poucos artistas, que se prontificaram a fazer o jogo sujo da direita brasileira, que não conseguiu seus objetivos através dos poderosos instrumentos que dispõem.
Conseguiriam assim?
Em fevereiro, no carnaval de Salvador, Carlinhos Brown aproveitou os holofotes da festa e em frente ao camarote do ministro Gilberto Gil, responsabilizou o governo federal pela violência, em decorrência da” falta de investimentos em educação”. Criticou ainda os blocos de corda na folia momesca, logo ele, dono da Timbalada, que tem fama de recrutar os cordeiros mais violentos. O talentoso timbaleiro aparece em todas as campanhas eleitorais nos horários eleitorais do PFL de ACM, que domina a Bahia há cerca de 40 anos. Estes são os verdadeiros responsáveis pelos problemas de educação e violência num estado que ostenta os piores indicadores sociais do país e também os mesmos que estrangulam os poucos corajosos artistas que não se ajoelham aos ditames do coronel que infelicita a Bahia.
Depois veio Lima Duarte. Em entrevista à Folha, disse que o nosso presidente representa a glamourização da ignorância, da idiotice. A fala do ator pode até irritar os que rejeitam essa visão preconceituosa, elitista, mas tem o mérito de revelar com sinceridade o ódio de nossas classes dominantes pelo fato de termos um presidente de origem operária, sindicalista, nordestina e sem curso superior. Lembra aquele discurso do banqueiro catarinense que quer se livrar dessa raça pelos próximos 30 anos.
O programa de Ana Braga, onde se ensina a dobrar lençóis com plástico na borda e fazer torta de morango virou palco para Cristiani Torloni assacar calúnias contra o presidente, chegando ao ponto da moça tresloucada considerá-lo chefe de uma quadrilha, que incluiria ainda outros presidentes da América do sul.
Em entrevista a um jornal português, Daniela Mercury pediu ao povo brasileiro para punir os responsáveis pela corrupção e não reeleger o presidente Lula. Ela foi rebatida por uma das maiores revelações da nossa MPB, Zeca Baleiro, que em show na cidade de São Paulo perguntou se alguém que pede bênção a ACM tem o direito de criticar Lula. Fazendo justiça, Daniela é o único caso entre os artistas famosos originários do carnaval baiano que nunca pediu votos publicamente para o senador que tanto nos envergonha, mas por outro lado, ela nunca antes aparecera na imprensa cobrando punições para corruptos, porque se assim o fizesse, teria de bater de frente com o ditador da Bahia, coisa que nem de longe ela teria coragem.
Ganhou destaque nos jornais o irrequieto e polêmico Caetano Veloso, dizendo-se decepcionado com o governo,o que vem a ser normal, se levarmos em conta que o candidato dele, José Serra, fora derrotado. Fosse o contrário, estaria satisfeito. Diz ele que precisa haver renovação. Caetano diz “Qualquer Coisa” pra agradar os donos dos “Podres Poderes”; namora com o PSDB de “Sampa”e acha a Bahia de ACM “Beleza Pura” Porquê esse talentoso filho de Santo Amaro não usa “Outras Palavras” para cobrar renovação na terra onde nasceu?
A entrevista com Carlos Verezza no programa de Jô Soares, talvez tenha sido o que mais de repugnante se viu num programa de TV desde o início da crise política. Ele iniciou as duras críticas ao presidente Lula sem mesmo ser questionado sobre o assunto. Pediu licença para elogiar as quatro mulheres que torpedearam a esquerda durante várias semanas no programa e a partir daí promoveu insultos e agressões morais variados. Demonstrava tanto ódio, que parecia estar fora de controle. Jô Soares, que o concedera mais um bloco, se divertia em sonoras gargalhadas, enquanto parte do auditório aplaudia aquelas cenas grotescas. Verezza manifestou desprezo contra nordestinos pobres (parafraseou Lima Duarte sem citá-lo), repetiu os chavões da Veja, associando Lula a Ali Babá, por conta do indiciamento de 40 pessoas pela CPI (os quarenta ladrões, segundo ele) e tinha decorado na ponta da língua o discurso do PSDB e da extrema direita brasileira. Confesso que fiquei estarrecido ao presenciar tamanho descalabro de uma pessoa que pensava ser séria e equilibrada.
Pior é imaginar que ele interpretou o escritor Graciliano Ramos no filme Memórias de Cárcere e que no passado teve ligações formais com a esquerda.
Em meio a tanto desconforto provocado pelos prepostos das classes dominantes no meio artístico, muito nos orgulha ter uma figura do caráter de Chico Buarque de Holanda que, como sempre, assume posições equilibradas, progressistas, num momento da tanta hipocrisia, mentiras e provocações. Em entrevista à Folha, fez as críticas pontuais ao governo, via de regra, corretas, mas assegurou o voto em Lula e demarcou campo com a velha direita nacional. Enquanto alguns se corrompem moral, ideológica e pecuniariamente , outros se mantém firmes na defesa de avanços e na correção de erros.
Sobre aquela perguntinha solta acima, se eles conseguiriam através de “formadores de opinião” no meio artístico, derrubar a simpatia popular de Luiz Inácio parece ter resposta negativa. E só vai gerar desgaste para quem colocar a cara na tela. É bom que eles procurem um novo roteiro e atores mais originais.
*Geraldo Galindo é presidente do Comitê Municipal do PCdoB de Salvador