Araguaya tem pré-estréia em Brasília nesta Terça-feira
A pré-estréia do filme Araguaya, a Conspiração do Silêncio, que entra em circuito comercial este mês, será às 21 horas desta terça-feira (23), na Academia de Tênis, em Brasília. O longametra
Publicado 23/05/2006 11:51
"Essas projeções estão sendo feitas para platéias especiais formadas por educadores, estudantes e profissionais de comunicação. O boca a boca está sendo muito importante para o lançamento do filme", diz Duque.
O cineasta Ronaldo Duque, 50 anos, conta as dificuldades que teve para narrar a história que ainda está envolta em mistérios. "Foram quase 20 anos preparando a visão sobre uma região cujos habitantes até hoje parecem viver à sombra do medo", diz Duque. Centenas de depoimentos foram ouvidos de historiadores, sobreviventes, militares e parentes das vítimas ao longo de 10 anos de trabalho.
Orçado em seis milhões de reais, "Araguaya – A Conspiração do Silêncio" percorreu um caminho tortuoso. Como já era de se esperar, o cineasta não recebeu qualquer informação e muito menos ajuda das Forças Armadas para narrar a história do grupo de militantes que montaram na fronteira entre Pará, Tocantins e Maranhão (região conhecida como Bico do Papagaio) um foco de resistência socialista armada à ditadura militar.
Outra dificuldade encontrada pelo diretor foi a natureza – as locações para reproduzir a vegetação estavam devastadas – sobretudo a chuva torrencial, que acompanhou a equipe durante os 11 semanas de filmagens e inviabilizou uma estrada improvisada na mata pela produção para facilitar o trânsito. Isto sem falar nos mosquitos que infestavam a cidade paraense de Marituba, perto de Belém, onde foi construída, em 8 meses, uma cidade cenográfica com igreja, escola e cerca de 70 casas.
O filme participou do Festival do Filme Latino-Americano em Miami, Estados Unidos, em abril. Ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Gramado 2004 e o primeiro concurso de Roteiros do Pólo de Cinema e Vídeo de Brasília, além do Prêmio de Desenvolvimento de Projetos e o Prêmio Mais Cinema.
Personagens reais
Além do ex-deputado e ex-presidente nacional do PT,José Genoino, que no filme tem o codinome de Geraldo (Pablo Peixoto), outras figuras reais da luta armada do Araguaia serviram de inspiração para o diretor Ronaldo Duque. A personagem Alice (Rosanne Holland) se baseia na guerrilheira Criméia Alice, que engravidou na selva, conseguiu furar o cerco militar para ter o filho, e acabou sendo uma das poucas sobreviventes civis do conflito. Tanto Genoino quanto Criméia dão depoimentos no filme.
Outros personagens do Araguaya – A Conspiração do Silêncio também têm base real: Oswaldão (Northon Nascimento) é Oswaldo Orlando Costa, estudante de engenharia que fez curso de guerrilha na China. Velho (Cacá Amaral) é Maurício Grabois, dirigente do PCdoB que foi deputado comunista em 1946. Zé Carlos (Danton Mello) é André Grabois, desaparecido na guerrilha aos 27 anos. O padre Chico (Stephane Brodt) que narra o filme é inspirado nos dominicanos Aristides Camiou e François Gouriou, expulsos do país.
"É a história de uma juventude totalmente convencida do que estava fazendo. Seria leviano achar, 30 anos depois, que aquilo foi uma porra-louquice. Costumo dizer que Araguaia é um filme de ficção com argumento documental. No Brasil ainda são poucos", afirma o cineasta Ronaldo Duque.
Oswaldão é um dos eixos centrais da história. Os que conviveram com Oswaldão na época lembra do guerrilheiro como um herói. É o caso da professora aposentada Victoria Grabois, 60 anos, que perdeu o pai, Maurício, o irmão André e o marido, Gilberto Olímpio, no conflito.
"Oswaldão era uma pessoa de coração enorme e que deu a vida pelo seu país. Não sei se esse filme pode ajudar as famílias dos 60 desaparecidos a encontrar o paradeiro deles, mas pelo menos pode divulgar para quem viveu aquela época que houve um movimento de resistência no Brasil", diz Victoria.
Amor ao Brasil
A atriz Françoise Forton, que vive a guerrilheira Dora, define o filme Araguaya – A Conspiração do Silêncio como um hino de amor ao Brasil. Em quase duas horas de filme, os espectadores não só vão descobrir o quão real é essa história, como se encantar com o dia-a-dia de um grupo de pessoas dispostas a implantar na marra o socialismo no país. "Eles acreditavam que a guerrilha armada poderia acabar com a ditadura", diz a atriz, ao frisar que "não tomamos nenhum partido e conseguimos fazer um retrato ainda desconhecido do Brasil".
Fonte: Brasil Cultura