Juiz expulsa advogada de Hussein de tribunal
O "julgamento" do presidente deposto do Iraque, Saddam Hussein, e de sete de seus colaboradores pela suposta execução de 148 moradores de uma aldeia xiíta terminou hoje com a expulsão do tribunal de uma das advogadas de
Publicado 22/05/2006 15:48
Bushra al-Khalil, uma advogada de origem libanesa, compareceu ao tribunal após uma longa ausência — ela tinha sido expulsa no mês passado pelo juíz Rauf Abdel Rahman, que a acusou de "infringir" os procedimentos.
Nesta segunda-feira, uma nova disputa entre ela e o juiz o levou a expulsá-la mais uma vez. Ela foi retirada à força do tribunal, enquanto protestava contra a situação.
"Você tem de se ater às leis, você é uma advogada, você deve se comportar dentro das leis", retrucou o juiz. Enquanto a advogada era expulsa do tribunal, o presidente Saddam Hussein levantou-se e fez uma declaração contundente, como é do seu estilo desde que o tribunal foi instalado.
"Eu sou Saddam Hussein. Eu sou o presidente do Iraque", disse, erguendo o punho.
"Você foi o presidente, agora você é réu", esbravejou o juiz.
Testemunhas de defesa compareceram ao tribunal para depor a favor de Awad al-Bandar, um ex-juiz da Corte Revolucionária que julgou e sentenciou os 148 xiitas de Dujail à morte após o atentado contra a vida de Hussein em 1982.
Na semana passada, foram ouvidas testemunhas de defesa a favor de quatro representantes do outrora poderoso Partido Baas, acusados de envolvimento com a sangrente repressão que se seguiu à tentativa de assassinato.
Essa semana, os depoimentos seriam ouvidos os testemunhos de defesa de Awad al-Bandar, um juiz do Baas, Taha Yassin Ramadan, o ex-presidente que é meio-irmão de Hussein, Barzan al-Tikriti, e do próprio Saddam Hussein.
A sessão desta segunda-feira marcaria a primeira presença de uma das testemunhas de defesa. A testemunha Murshid Mohammed Jasim era um clérigo presente à corte revolucionária que determinou as sentenças de morte aos 148 xiitas.
Ele discorreu sobre o trabalho da corte, presidida por al-Bandar. Disse que a corte obedeceu estritamente a lei. "Não é verdade que todas as sentenças dadas pela corte revolucionária tenham sido sentenças de morte", disse a testemunha.
"Os acusados tiveram acesso a todos os direitos e foram defendidos por seus advogados, eu sou um juiz e minha mais profunda consciência não me permite sentenciar alguém que tenha menos de 20 anos à morte", disse.
Jasim tentou saudar e abraçar Hussein antes de deixar a corte, mas o juiz recusou seu pedido.
Al-Bandar perguntou às testemunhas sobre suas atitudes no tribunal, questionando se "eu, em alguma ocasião, expulsei qualquer um dos advogados de defesa que tentaram argumentar ou teriam sido frustrados por não poderem apresentar seus argumentos?" Jasim respondeu que "Não".
Um advogado de defesa egípcio presente protestou formalmente pela expulsão de sua colega libanesa.
"O direito à defesa é sagrado. Nós nunca vimos, em nossa carreira, um advogado ser expulso de uma corte como o que aconteceu hoje. Nós não deveríamos ser tratados assim, estamos defendendo homens que defenderam a honra do seu país, sim, eles são a honra de sua nação", disse ele.
O juiz replicou de forma jocosa: "Calma, fique tranqüilo porque tal nervosismo pode ameaçar sua saúde. Nós expulsamos sua colega de acordo com o artigo 154".
Outro advogado de defesa solicitou que fosse lido o tal artigo. "Solicito a vossa alteza que me permita ler o artigo 154, assim poderia apontar o motivo que o levou a expulsar nossa colega", solicitou.
O meio-irmão de Hussein, Sabaaui Ibrahim al-Hasan, também testemunhou nesta segunda-feira, a favor de seu irmão, Barzan. O acusado reclamou ao juiz que algumas das suas testemunhas de defesa não poderiam comparecer ao tribunal porque estavam presas em uma prisão militar americana no sul do Iraque. Ele descreveu como mentiras as acusação de que algumas pessoas de Dujail teriam sido torturadas até a morte por seus agentes.
Barzan fez Hussein murmuram um comentário de aprovação quando desafiou o juiz a falar do tratamento que os réus vêm sofrendo dos guardas fora da corte. pedindo que Abdul Rahman falasse "aos seus rapazes, os americanos", sobre isso, o juiz, um curdo, demonstrou grande irritação, terminando a sessão com um "Eles não são meus rapazes".
Com informações da Al-Jazira