Documentos revelam um Cristóvão Colombo escravista e assassino
Quando se comemoram 500 anos da morte do navegador genovês, neste dia 20 de maio, documentos encontrados no arquivo da cidade espanhola de Simancas, onde é guardada a documentação real, mostram um Colombo ávido, escravista
Publicado 21/05/2006 13:54
O documento histórico foi ilustrado pela primeira vez no mundo no convênio "Genova Europa Mundo" organizado pelos 500 anos da morte do descobridor da América.
Descoberto pela arquivista Isabella Aguirre no arquivo da cidade espanhola de Simancas, onde é guardada a documentação real, o documento é a ata do processo público realizado no castelo de Santo Domingo em setembro de 1500 pelo plenipotenciário Francesco Bobadilla enviado pela coroa espanhola. A sentença tirou de Colombo os títulos de vice-rei e governador de Santo Domingo e ordenou que fosse embarcado acorrentado para a Espanha.
Os historiadores tinham conhecimento do processo porque já era citado pelo dominicano espanhol Bartolomè de las Casas, mas pela primeira vez surge a documentação completa, como Varela ilustra no livro "A queda de Colombo. O julgamento de Bobadilla", que será publicado na próxima semana pela editora madrilena Marcial Pons.
"Bobadilla ouviu 22 pessoas, entre os quais servidores e amigos do navegador genovês, fazendo-lhes três perguntas: se Colombo era fiel à coroa espanhola, se permitia que os indígenas fossem batizados e se administrava corretamente a ilha. Das respostas, surge que Colombo estava organizando um governo paralelo ao espanhol; que não permitia o batismo dos índios para explorá-los como escravos; e que avidamente desviava as riquezas (inicialmente mais escravos do que ouro) destinadas à rainha Isabel de Castela e ao rei Fernando de Aragão", disse Consuelo Varela, pesquisadora da Escola de Estudos Hispano-americanos de Sevilha, autora de diversos livros sobre Colombo e a conquista.
Um Colombo violento portanto, que governava com mão de ferro, decepava línguas e narizes; e enforcava os que se opunham ao seu poder ou o desacreditavam, espalhando boatos que os Colombo tinham origens humildes.
Além disso nos documentos também estariam as provas de que Colombo foi o mandante de um assassinato: o do marido da cunhada portuguesa, Miguel Muliart, estrangulado por ter traduzido uma carta que um frade francês queria enviar à coroa espanhola para denunciar as falcatruas de Cristóvão Colombo.
"A imagem do Novo Mundo que surge deste documento é destruída pela crueldade da imposição em um mundo de fronteira onde predominavam a fome e as doenças. Por outro lado esta era a Conquista", conclui Varela.
"A história do descobrimento deita suas raízes em uma realidade complexa e muitas vezes incompreensível", escreve a historiadora Gabriella Araldi, presidente do Centro de Estudos Paolo Emilio Taviani que apresenta um outro livro escrito por ela e por Elena Parma, "A aventura de Colombo. História, Imagens e Mito", editado pela Fundação Carige. A pesquisa historiográfica dos últimos 15 anos só o confirma.
No encontro "Genova Europa Mundo", organizado por Fundação Carige, Centro de Estudos Paolo Emilio Taviani e Comitê Nacional para as celebrações de Cristóvão Colombo, participaram, entre outros, também o assessor regional da Cultura, Fabio Morchio e a assessora provincial Maria Cristina Castellani, além do presidente da Fundação Carige, Vincenzo Lorenzelli.
O grande navegador também foi lembrado na noite deste dia 19 de maio com uma missa na catedral de São Lorenzo, celebrada pelo arcebispo de Genova, cardeal Tarcisio Bertone, que, antes da revelação do documento, na sua saudação ao convênio, lembrou que a Igreja deu início a um processo de beatificação de Colombo que depois foi suspenso.
O cardeal também lembrou o lado positivo da personalidade de Colombo, a sua capacidade de olhar além e o seu espírito missionário. "É claro que também é preciso analisar os seus comportamentos e não só suas intenções", evidenciou.