Pesquisa do IBGE mapeia a fome no Brasil

Em pesquisa inédita, a fome e a insegurança alimentar foram mapeadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A pesquisa, divulgada nesta quarta-feira (17), aponta que 14 milhões de brasileiros convivem com a fome:

O mapa e o gráfico ao lado mostram as porcentagens de domicílios brasileiros que sofrem diferentes graus de insegurança alimentar. No total, 72 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar, contra 109 milhões que vivem em domicílios considerados em condições de segurança alimentar.

Os mais e os menos atingidos

Os Estados onde o cenário é mais grave estão no Nordeste e no Norte do país. O Maranhão tem 69,1% de insegurança alimentar e 18,0% de insegurança alimentar grave. Segue-se Roraima, com 68,7% e 15,8% respectivamente. O Piauí registra 63,5% e 10,8% e o Rio Grande do Norte 60,4% e 13,9%.

No extremo oposto, Santa Catarina é o Estado mais bem situado em termos alimentares, segundo o IBGE. Apresenta 16,5% de domicílios com insegurança alimentar e 2,0% com insegurança alimentar grave. O segundo colocado é São Paulo, com 24,2% e 3,4%. Seguem-se o Rio Grande do Sul, com 24,8% e 4,0%, e o Distrito federal, com 24,9% e 4,1%. Sergipe, o Estado Nordestino mais bem colocado, aparece em sexto lugar no plano nacional: 26,1% e 3,7%.

Crianças passam mais fome

O estudo do IBGE, com dados de 2004, confirma a relação direta entre fome e pobreza. Das 14 milhões de pessoas que viviam em domicílios com insegurança alimentar grave, perto de 6 milhões moravam naqueles com rendimento mensal domiciliar per capita que não ultrapassava R$ 65 por pessoa.

Uma relação menos conhecida mostra que a fome atinge principalmente as crianças. Em todas as regiões, a prevalência de insegurança alimentar foi maior nos domicílios com pessoas de menos de 18 anos de idade. Também na média se registrou mais insegurança alimentar nos domicílios em que residiam menores de 18 anos de idade (41,9%) em comparação com a prevalência observada nos domicílios em que todos os moradores são adultos (24,2%).

Outra revelação mostra que a população rural ainda vive mais aguramente o problema. A percentagem de domicílios com insegurança alimentar grave foi em média de 6% nas zonas urbanas, chegando a 9% nas áreas rurais.

Outra condição que aparece associada à Segurança Alimentar nos domicílios é a cor ou raça da população. No Brasil, segundo o IBGE, vivem em 2004 em domicílios em situação de insegurança alimentar grave, 11,5% (10 milhões de pessoas) da população preta ou parda, sendo que esta proporção é de 4,1% (3,8 milhões de pessoas) entre os brancos. Por outro lado, a população com garantia de acesso aos alimentos em termos qualitativos e quantitativos, ou seja, que vivia em domicílios em condição de segurança alimentar era de 71,9% (67,3 milhões de pessoas) entre os brancos e de 47,7% (41,7 milhões de pessoas) entre os pretos ou pardos.

"Escala Brasileira de Insegurança alimentar"

Entre os domicílios em que algum morador recebeu dinheiro de programa social do governo, 66% estavam em situação de segurança alimentar, enquanto nos que não recebiam este percentual era de 28,8%. Observou-se que dos 8 milhões de domicílios em que algum morador recebeu dinheiro de programa social do governo, 52,1% situavam-se na região Nordeste, 22,7% no Sudeste, 10,7% no Sul, 8,0% no Norte e 6,5% no Centro-Oeste.

A pesquisa  produziu, pela primeira vez, informações sobre a condição domiciliar de segurança alimentar em âmbito nacional. Para isso empregou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, Ebia, que classifica os domicílios em quatro categorias: segurança alimentar (SA), insegurança alimentar leve (IA leve), insegurança alimentar moderada (IA moderada) e insegurança alimentar grave (IA grave).

Fonte: http://www.ibge.gov.br