CIA na Europa: Funcionários da agência admitem prisões secretas
ONGs também afirmam que centros de detenção secretos foram instalados pelos EUA em diferentes áreas do mundo após os ataques do 11 de setembro
Publicado 17/05/2006 11:30
O eurodeputado socialista italiano Giovanni Fava, membro da comissão parlamentar que investiga as atividades da CIA, assegurou nesta quarta-feira que fontes da própria agência lhe confirmaram que houve "entre 30 e 50" detenções e transferências ilegais de suspeitos de terrorismo.
As fontes, que Fava qualificou de "fidedignas", indicaram que os EUA criaram prisões secretas na Europa, na Ásia e na África após os ataques de 11 de setembro de 2001 para transferir os suspeitos, alguns dos quais foram detidos em países da UE.
Fava contatou as fontes — as quais se referiu como "altos funcionários da CIA até datas recentes" e como "fontes da inteligência" dos EUA — durante a visita de uma delegação da comissão do Parlamento Europeu a Washington entre os últimos dias 8 e 12.
Os eurodeputados reuniram-se com o secretário de Estado adjunto para a Europa, Dan Fried, o assessor legal do Departamento de Estado, Jonh Bellinger, o ex-diretor da CIA James Woolsey e as mencionadas fontes, que pediram para não ser identificadas.
"Todos os nossos interlocutores sugeriram ou confirmaram que o programa de transferências extraordinárias na Europa só pôde ser realizado com o conhecimento e o apoio dos governos nacionais europeus", apontou o presidente da comissão do PE, o conservador português Carlos Coelho.
"Os oficiais do Departamento de Estado disseram, de forma diplomática, que os EUA nunca violaram a soberania dos Estados-membros (da UE). Outros admitem o envolvimento dos governos europeus de uma maneira mais direta", explicou Coelho.
Fava relatou que uma "fonte da CIA" lhe disse que "não parece possível" que os serviços secretos italianos ignorassem o seqüestro em Milão, em 2003, do egípcio Abu Omar, pelo qual a Promotoria milanesa pediu a extradição de 22 agentes americanos.
A delegação da comissão temporária se reuniu também com advogados, especialistas em Direitos Humanos e representantes das ONGs Human Rights First, Human Rigths Watch e Anistia Internacional.
As ONGS afirmam que oito centros de detenção secretos foram instalados pelos EUA em diferentes áreas do mundo após os atentados de Washington e Nova York, e asseguraram que pelo menos um deles, na África, ainda está em operações, segundo Fava.
A comissão temporária da Eurocâmara investiga os vôos ilegais e prisões secretas estabelecidas pela CIA na Europa a pretexto da "guerra contra o terrorismo", assim como a possível cumplicidade dos governos da UE.
Com agências internacionais