Artigo: “A Juventude contra o Racismo”
Confira abaixo o artigo A Juventude contra o Racismo, de Alexandre Braga, militante da Unegro-MG.
Publicado 15/05/2006 19:49
A Juventude contra o Racismo
Por Alexandre Braga
“Irmãos da terra da América,
Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz…
Ai! soberba populaça,
Rebentos da velha raça
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, é povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.”
(Castro Alves)
Indigna-nos em todos esses episódios o fato de não saberem compreender e de não aceitarem as razões da rebeldia que movem os jovens. E o pior que na maioria das vezes adotam ações reacionárias contra a “onda de paz e amor” vinda do coração da moçada. Tentando anular os anseios da multidão conclamadora de um mundo melhor, a elite, parceira da burguesia, não só tenta invizibilizar o protesto juvenil, bem como desvalorizá-lo como proposta conseqüente e viável. Para isso usam a indústria cultural com seus meios de comunicação: televisão, rádio, internet, ou como diz Louis Althusser ( no livro Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado) fazem uma “ representação imaginária da realidade” para negar o engajamento juvenil e para que outros jovens não aderem à luta social. Ou seja, propagandeiam que o jovem não se interessa por política, que o jovem é alienado e que o jovem tem rebeldia, mas sem causa. Tudo no interesse de manter o atual quadro de exploração econômica do povo. As novelas, os anúncios publicitários, os programas destinados ao público jovem, o modo de vestir e o tipo de roupa, as igrejas e as escolas são espaços onde a lavagem cerebral visa a domar essa inata preocupação da juventude com as questões sociais. Algumas vezes, como está acontecendo recentemente, os meios de comunicação, cujos donos são os burgueses e empresários do setor financeiro, até chamam o jovem a se posicionar, mas o fazem de maneira enviesada, distorcida do real e fundamental centro da questão. Eles onguizam os jovens limitando-os tão somente ao universo da ONG, sem uma compreensão política mais ampla da realidade. A presença de jovens em milhares de Ong`s é salutar, porém é preciso mostrar os permeios e os novos caminhos para os problemas humanos, e como superar ambas as formas de desigualdade: a fome, o racismo, a violência e o desemprego, pois entre elas há uma fonte geradora comum, que é a divisão social entre as classes; que por seu turno mantém exploradores e explorados, possuidores e despossuídos, os com universidade e os sem-universidade, os com terra e os sem-terra, convivendo numa pirâmide social. A adesão dos adolescentes às ONG`s é um ótimo indicativo de protagonismo juvenil, todavia deve se realizar pautada num projeto novo tanto de nação quanto de novíssimas relações sociais que venham pôr fim a essa pirâmide social. Cenário que nos traz esperanças renovadas, já que apesar do problema ser um velho conhecido da gente, a presença de jovens nas frentes de atuação social sempre foi uma constatação marcante e de maneira diversificada. Seja numa CEB( Comunidade Eclesial de Base), no Movimento Sindical, Estudantil e Comunitário, nos movimentos juvenis dos anos 60; que começando na Universidade de Berkeley, se expandiram para a Universidade de Paris, em maio de 1968, e daí para o mundo. No Brasil materializou-se na Passeata dos Cem Mil, na Candelária, contra a Ditadura Militar. Mas também na contra-cultura, nos movimentos Hippie, de liberdades civis, do Black-Power e das Mulheres. Foram tais movimentos que abriram espaço para inúmeras vertentes políticas, inclusive o da defesa do Meio Ambiente. Nisso, contrariando a Opinião Pública, as adesões dos jovens a estes movimentos são cada vez maiores.
Quanto à juventude negra, que vem sofrendo desde 1850 um processo de favelizacão caracterizado pela truculência policial e pela cooptação da bandidagem, a tal ponto que um jovem negro de periferia ou no morro, toma porrada da polícia, nas batidas policiais, e do bandido, no dia-a-dia da comunidade onde vive. Tendo principalmente que ver-se descaracterizado pela mídia, em que esta exibe uma realidade completamente diferente desse dia-a-dia, pois o povo do morro trabalha e estuda arduamente, mas essa honestidade e esforço são jogados no lixo pela mídia feita pelos ricos e poderosos. Também é a parcela negra dos nossos jovens que sofre as piores conseqüências da exclusão capitalista e racista. Somente 2% dos negros fazem faculdade, 80% das negras não tem carteira de trabalho e quando conseguem emprego é para trabalhar como domésticas, ganhando no máximo 2 salários mínimos, além da Guerra Civil não declarada, em que crianças entre 10 e 14 anos estão morrendo nas mãos do tráfico, no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife ou outra cidade qualquer. Negras com essa mesma idade, portanto, meninas eram estupradas pelos fazendeiros escravocratas para proteger o cabaço das sinhás–moças; costume muito usado para defender a virgindade das filhas brancas dos senhores de engenho, enquanto os machos da família se deleitavam, à força, no meio das pernas das negrinhas que nem tinham entrando na puberdade. Isto é, desde os primórdios da formação do Estado brasileiro aos dias atuais foi usada a violência( física, militar, sexual e política ) contra a população negra. Por isso, no ano de Castro Alves, patrono da UJS( União da Juventude Socialista), conclamamos todos e todas a colocarem em prática os ideais desse poeta, se filiando à UJS e mobilizando-se contra o racismo e contra toda forma de preconceito, na defesa do Socialismo.