Perfil de grupos de extermínio mudou ao longo dos anos, afirma promotor do Rio de Janeiro
Os grupos de extermínio da Baixada fluminense não atuam mais com o objetivo de "eliminar" da sociedade criminosos como assaltantes e traficantes, conforme acontecia no passado. Nos últimos anos, esses grupos, que sempre atuaram &agr
Publicado 12/05/2006 19:20 | Editado 04/03/2020 17:06
A afirmação é do promotor de Justiça do Tribunal de Júri do município de Nova Iguaçu, Marcelo Muniz, que atua na região há quatro anos. "Os grupos de extermínio surgiram como uma necessidade de suprir a ausência do Estado. Os grandes comerciantes e as pessoas da própria localidade tiveram a idéia que, diante dessa ausência, seria necessário contratar pessoas para gerir a segurança no local", disse. "E entendia-se, com essa segurança, que muitas vezes era necessário tirar a vida de algumas pessoas que se achava serem prejudiciais à comunidade", acrescentou.
As investigações de chacinas e assassinatos praticados por grupos de extermínio da Baixada fluminense desde 1999 revelam uma mudança no perfil dessas quadrilhas, mostrando, por exemplo, ligações de seus integrantes – a maioria policiais militares – com a disputa por pontos de venda de droga na localidade.
"À medida que o tempo vai passando, o grupo de extermínio, ante essa ausência do Estado, começa a praticar infrações penais. Esses grupos, que antigamente se contentavam com pequenas mesadas de comerciantes, começam a se sentir tão à vontade que começam a extorquir esse comerciante e a retirarem dos traficantes parcelas dos lucros auferidos", relata Muniz.
Segundo ele, um processo que tramita na Justiça desde 2000 mostra esse novo perfil dos grupos de extermínio. Em dezembro de 1999, policiais pertencentes a um grupo chamado de "Justiceiros" mataram seis pessoas em Cabuçu, Nova Iguaçu (RJ). Três dessas pessoas foram executadas por terem depredado o carro de um dos policiais e outras três foram assassinadas por terem presenciado um assalto a um estabelecimento comercial, cometido por esses policiais.
O processo do caso, que ficou conhecido como Chacina da Boa Esperança, aponta indícios de que alguns membros do grupo disputavam pontos de venda de droga na favela da Boa Esperança. "Não se pode mais dizer o que dizia antigamente. Quando determinada comunidade tinha um grupo de extermínio, ali não existiria tráfico, roubo, extorsão ou estupros", afirma Muniz. "Hoje o próprio grupo de extermínio, muitas das vezes, está inserido nessa atividade ilícita. A gente pode perceber isso, com nitidez, nesses últimos oito ou nove anos".
A Baixada fluminense é um conhecido local de assassinatos promovidos por grupos de extermínio. O episódio mais famoso ocorreu em 31 de março de 2005, quando 29 pessoas foram mortas em ruas de Nova Iguaçu e Queimados. Todos os cinco acusados são policiais militares e suspeitos de integrar uma quadrilha.
Fonte: Radiobrás