Genro: segundo mandato de Lula será “mais sólido e mais ousado”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer atrair o PMDB para uma coalizão de centro-esquerda com PT, PSB e PC do B, de forma a garantir a reeleição e uma base política estável no segundo mandato, disse à Reuters o ministro da
Publicado 12/05/2006 16:27
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer atrair o PMDB para uma coalizão de centro-esquerda com PT, PSB e PC do B, de forma a garantir a reeleição e uma base política estável no segundo mandato, disse à Reuters o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. Para o ministro, com uma coalizão estável, inflação baixa, estabilidade econômica e dirigentes políticos que não se envolveram no escândalo do mensalão, Lula "faria um governo mais sólido e mais ousado".
Segundo ele, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, governaria em instabilidade, "em choque permanente com os movimentos sociais", e também estaria sujeito a denúncias políticas, pois o tucano "não sabe dos vestidos que a mulher tem no armário".
Tarso Genro propôs à direção do PMDB um programa mínimo de quatro pontos para a coalizão: altos índices de crescimento da economia, redução da dívida pública comparada ao PIB, geração de mais empregos e políticas de inclusão social e educacional.
"O PMDB é o partido que pode nos dar um equilíbrio na direção do centro — e não se governa o Brasil com estabilidade sem uma boa conexão ao centro", disse o ministro, que trabalha para formalizar um acordo com o PMDB antes das eleições.
Partidos "do centro", como o PTB, poderiam aderir à coalizão, mas essa abertura não comporta reformas para reduzir o tamanho do Estado, embora Tarso Genro proponha "aprofundar o sentido da responsabilidade fiscal e fazer o saneamento da Previdência".
"Não vamos fazer reformas neoliberais, do tatcherismo, porque, no Brasil, a classe trabalhadora não tem nada a perder", disse o ministro na quinta-feira. "Um governo de centro-esquerda vai promover as reformas para tornar o Estado mais ágil, mais funcional, mais articulado", afirmou.
"O Estado brasileiro não é caro, o que temos é uma dívida pública alta em relação ao PIB", acrescentou. "É um Estado pouco público, privatizado em parte pela dívida e por setores oligárquicos, com um funcionalismo em grande parte desestimulado e mal pago."
Risco tucano
Com a fórmula da coalizão, Tarso Genro rejeita a tese de que um segundo governo de Lula seria marcado pela instabilidade política e pelo risco jurídico, presente nos desdobramentos das investigações e nos processos do escândalo do mensalão.
"Risco de governar na instabilidade teria um governo de Geraldo Alckmin, representando a centro-direita, que iria se chocar permanentemente com os movimentos sociais", argumentou o ministro.
"Qual seria a segurança de um presidente que não sabe dos vestidos que a mulher tem no armário?", provocou, referindo-se a denúncias de que a mulher do tucano, Lu Alckmin, teria recebido presentes não declarados de um estilista.
"Não vejo risco jurídico puro, mas risco político para quem quiser inventar alguma coisa contra o presidente Lula depois desse processo todo, em que ele nem sequer foi citado nas investigações das CPIs, do Ministério Público e da Polícia Federal", acrescentou.
"Governo melhor"
Tarso Genro acredita que "o segundo mandato do presidente Lula será muito melhor do que o primeiro", até como consequência da crise do mensalão.
"Foi até positivo esse processo (de investigação do mensalão) porque, se algumas das deformações apontadas não tivessem sido detectadas a tempo, elas comprometeriam o futuro do PT", disse Genro.
O ministro assumiu a presidência do PT em setembro, quando a antiga direção e o ex-ministro José Dirceu renunciaram aos cargos, acusados de comprar apoio de aliados no Congresso utilizando caixa dois e fraudes bancárias.
"A primeira razão para o presidente Lula ter um segundo mandato melhor é que o núcleo dirigente que se formou depois da crise e que se formará na campanha não tem nenhuma relação com os fatos que detonaram a atual crise", disse o ministro.
"Em segundo lugar, o país conquistou uma credibilidade internacional e uma estabilidade macroeconômica combinadas com inflação baixa inéditas na história do país", afirmou.
"Por fim, será um governo com uma coalizão de partidos e não um governo apoiado em personalidades regionais ou segmentos de partidos, algo que dificulta a ação programática", concluiu.
Acordo com PMDB
O PMDB faz uma convenção extraordinária neste sábado para decidir que não terá candidatura própria e tende a não formalizar uma aliança nacional nem com Lula nem com o candidato tucano Geraldo Alckmin.
O partido deve liberar seus dirigentes regionais para fazer as alianças mais convenientes em cada Estado.
"Mesmo que não seja possível uma coligação, queremos fazer um acordo programático formal, não estabelecido juridicamente, com a direção do partido, ainda no primeiro turno", disse Genro.
Essa fórmula, segundo o ministro, permitiria a Lula receber apoio de diversos setores do PMDB na campanha e, se for reeleito, garantir o apoio institucional do partido.
Embora venha nomeando ministros do PMDB desde 2004, Lula obteve apoio apenas parcial do partido no Congresso. Formalmente, a direção do PMDB nunca aderiu ao governo Lula.
Fonte: Reuters