Com espiã sensual e humor, livro de Augusto Boal ataca EUA
O dramaturgo Augusto Boal, idealizador do Teatro do Oprimido, estava na Argentina, no final de 1975, quando começou a pensar na novela A deliciosa e Sangrenta Aventura Latina de Jane Spitfire. Fugindo do regime militar brasileiro, encontra
Publicado 12/05/2006 01:46
Tendo como princípio supremo a defesa do sagrado american way of life, a heroína atende ao chamado de Washington para enfrentar seus inimigos, matando a torto e a direito, usando o sexo como sua arma mais eficaz e, como um McGyver de calcinhas, sacando seus múltiplos conhecimentos e PhDs para escapar de situações absurdas e ridículas.
Clássica, Jane Spitfire abusa da adjetivação exuberante, das explicações óbvias entre parênteses, dos heroísmos impossíveis, das coincidências incríveis e das frases deliciosas que só se escutam e se lêem nesse gênero — “Com os diabos!”, “Com mil demônios!”. Técnicas que Boal domina muito bem, graças à sua experiência de um ano como tradutor da revista de suspense e crime X9, em que ele trabalhou em meados dos anos 50, por indicação do amigo Nelson Rodrigues. “Eu havia acabado de voltar dos Estados Unidos e não queria trabalhar como químico, que é minha formação. Então esse foi o jeito que encontrei de ganhar dinheiro”, explica o autor. Como tinha liberdade para aumentar ou diminuir as histórias traduzidas, Boal foi treinando o jeito de escrever que desembocaria em A deliciosa e Sangrenta Aventura Latina de Jane Spitfire, duas décadas depois.
Após quase 30 anos de sua publicação, a história permanece atual — e agora sua denúncia chega a George Bush. “Não mudaria nada, se tivesse de escrevê-la hoje”, afirma Augusto Boal. “Porque o Iraque é apenas a última geração de uma lista em que o Brasil e a Argentina são alguns dos precursores desse golpismo ianque.”