Sanguessuga: deputados protestam contra mistura de nomes

A Comissão de Sindicância da Câmara dos Deputados iniciou, nesta quinta-feira (11), a análise dos processos contra os 16 deputados acusados de envolvimento na compra superfaturada de ambulâncias para prefeituras, investigada

Ciro Nogueira disse que a Polícia Federal está investigando os parlamentares, sem autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), o que contraria a lei. O corregedor também reclamou do juiz não ter pedido à PF que separasse os nomes dos envolvidos dos que foram apenas citados como tendo apresentado emendas.

A comissão recebeu a lista com os nomes de deputados apontados pela servidora do Ministério da Saúde, Maria da Penha Lino como beneficiados pelo esquema, em depoimento prestado em Cuiabá (MT). Nessa lista de 81 nomes, constam deputados já citados na lista anterior, em poder da Câmara, segundo avaliação prévia da Corregedoria.

Antes das eleições

A comissão de sindicância montou um calendário de depoimentos, que começa na próxima terça-feira (16). A estratégia será ouvir primeiro os delegados e promotores que investigam o caso, além de algumas pessoas que já foram presas pela Polícia Federal na Operação Sanguessuga, como a funcionária do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino.

A expectativa do corregedor da Câmara, deputado Ciro Nogueira (PP-PI), é encerrar essa fase ainda na semana que vem para, em seguida, convidar os 16 parlamentares que estão sob suspeita.

Segundo o parlamentar, é fundamental que as investigações terminem antes das eleições. Mas o relator da comissão de sindicância, deputado Robson Tuma (PFL-SP), lembrou que os poderes do grupo são limitados. "Tem sempre um prazo de 30 dias que pode ser prorrogado. Eu espero terminar dentro do prazo, o mais rápido possível. Porém, não tenho poder de convocar ninguém, só de convidar", explicou Tuma.

Vários parlamentares defendem a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias levantadas pela Operação Sanguessuga. Os deputados Raul Jungmann (PPS-PE) e Fernando Gabeira (PV-RJ) começaram a recolher as assinaturas de apoio. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o vice-líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), destacaram a dificuldade para uma CPI realizar investigações em um ano com Copa do Mundo e eleições.

Separar joio do trigo

O corregedor disse também que o juiz não teve a responsabilidade de pedir à Polícia Federal que separasse os deputados contra os quais há indícios de envolvimento dos que apenas foram citados por terem apresentado emendas ao Orçamento.

"O juiz foi irresponsável nesse caso", afirmou Nogueira. O documento encaminhado à Câmara é assinado pelo juiz federal da 2ª Vara de Mato Grosso, Jéferson Schneider.

Chinaglia defendeu que a Câmara realize audiência com representantes do Ministério Público, da Justiça e da Polícia Federal, que estão envolvidos na Operação Sanguessuga, para explicarem o vazamento de nomes de parlamentares e identificarem os que estão sob investigação no processo que apura o esquema.

A exemplo de Nogueira, Chinaglia também considerou uma irresponsabilidade a mistura de pessoas supostamente envolvidas com outras, contra as quais não há nenhum indício, na documentação enviada à Câmara pela Polícia Federal de Mato Grosso. "Se tiver culpa, tem que ser punido. Mas uma lista misturando os que devem e os que não devem compromete a imagem da Câmara e da democracia", afirmou.

Fazem parte da comissão de Sindicância, além de Nogueira, os deputados Robson Tuma (PFL-SP), Jorge Alberto (PMDB-SE), Odair Cunha (PT-MG) e Givaldo Carimbão (PSB-AL).

Afastamento dos cargos

O líder do PSB, deputado Paulo Baltazar (RJ), e o presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, deputado Isaías Silvestre (MG), se afastaram dos cargos. Os dois, que estão sob investigação da comissão de sindicância, responderão a processo na Comissão de Ética do PSB, de acordo com determinação da Executiva tomada em reunião realizada nesta quinta-feira.

A Executiva divulgou uma nota em que o presidente do partido, deputado Eduardo Campos (PE), manifesta apoio à apuração das denúncias com a punição de todos os responsáveis, mas destaca que "não tem conhecimento, na vida pública e partidária dos deputados Isaías Silvestre e Paulo Baltazar, de qualquer ato que os desabonem". O deputado Alexandre Cardoso (RJ) assumiu a liderança do partido.

De Brasília,
Márcia Xavier
Com agências