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PCdoB/BA apóia Jacques Wagner contra o carlismo
Na Bahia, partidos de esquerda e progressistas mais uma vez vão se unir contra a tradicional elite baiana, chefiada pelo clã de Antônio Carlos Magalhães, em torno da candidatura de Jacques Wagner ao governo. Entre as metas do PC
Publicado 11/05/2006 17:02
Pelo país afora, o PCdoB deu a largada para a corrida eleitoral. Nos estados, já estão acontecendo convenções municipais e em junho as estaduais definirão o quadro geral das candidaturas em cada uma das unidades da federação. No dia 14 de junho, a convenção nacional decidirá os rumos nacionais que o partido irá tomar.
Na Bahia, o quadro será definido dia 11 de junho. Até lá, serão realizadas cerca de 220 convenções municipais. Por ora, a análise de Péricles de Souza, presidente estadual do PCdoB, indica que lá o pleito será polarizado, mais uma vez. De um lado, estarão as forças de esquerda e progressistas, que darão sustentação à candidatura de Jacques Wagner, do PT, ex-ministro da Coordenação Política. Ao que tudo indica, esta aliança será formada por PT, PCdoB, PSB, PMDB e PMN. Na trincheira oposta, estarão os partidos ligados à direita, liderados pelo PFL, que representa o carlismo e o que há de mais retrógrado na política nacional. “Outras candidaturas majoritárias devem surgir fora desta polarização. O PSDB, por exemplo, tem tradição anticarlista. O partido está sendo pressionado para apoiar Paulo Souto [atual governador baiano, do PFL] pelas cúpulas nacionais do PFL e do PSDB. No entanto, o mais provável é que PSDB não apóie formalmente o PFL na Bahia e fique dividido entre setores pró e contra Souto”, analisa Souza.
O cenário nacional hoje indica diferenças consideráveis com relação às eleições de 2002, no que diz respeito às posições assumidas pelos carlistas na Bahia. Naquela eleição, o grupo apoiou Ciro Gomes no primeiro turno e Lula no segundo, apesar do PFL ter fechado com José Serra. “Portanto”, pondera Souza, “a polarização nacional de então não afetou o eleitorado do PFL da forma como deverá acontecer neste ano”. A tendência, conforme explicou o dirigente, é que os baianos, que são o quarto maior eleitorado do país, desta vez se dividam entre Lula e Alckmin.
Carlismo em declínio
Não é de hoje que casos de corrupção e irregularidades rondam Antônio Carlos Magalhães e seus seguidores. O caso dos grampos telefônicos da Secretaria de Segurança Pública da Bahia e a violação do painel do Senado durante a sessão em que foi cassado o ex-senador Luiz Estevão em 2000 são apenas alguns exemplos mais recentes. Mas, neste ano, enquanto ACM Neto se esmerava como paladino da justiça na CPI dos Correios, veio à tona o escândalo da Bahiatursa. O Tribunal de Contas do Estado constatou que entre 2003 e abril de 2005 houve uma movimentação, por meio de conta bancária não registrada, de R$ 101 milhões, ou seja, o dobro do valor supostamente usado no chamado “valerioduto”.
Apesar do carlismo ser ainda muito forte na Bahia, por conta das denúncias da esquerda e dos movimentos sociais, a percepção sobre o grupo já vem mudando. “Houve um declínio do PFL na Bahia nas últimas eleições gerais. Eles já não tiveram os mesmos êxitos de antes, diminuiu o número de deputados, perdeu prefeituras no interior e, sobretudo, perdeu Salvador, que hoje é oposição ao governo estadual. Na região metropolitana, que concentra 1/3 do eleitorado baiano, cidades importantes como Camaçari e Lauro de Freitas têm prefeituras do PT em aliança com partidos de esquerda”, disse o dirigente comunista.
Aliança progressista
Nestas eleições, as disputas nos estados ganham cores mais fortes especialmente nas candidaturas majoritárias. Para os setores progressistas, um dos pontos a ser defendido com maior veemência é a reeleição do presidente Lula. “O PCdoB na Bahia está sendo orientado no sentido de lutar para impedir que a política tradicional regional se sobreponha à luta por um projeto nacional, o que significa reeleger Lula”, explica Souza.
Para o Senado, ainda não há nome definido unindo os partidos do campo à esquerda, mas há pré-candidatos fortes, como Olívia Santana, do PCdoB, ex-vereadora e ex-secretária de Educação em Salvador; o deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB/BA) e o ex-governador João Durval Carneiro, do PDT. ”A candidatura de Olívia contribuiria para fortalecer Lula. É uma candidatura de grande apelo eleitoral. Olívia foi a vereadora mais votada da esquerda na última eleição, sua gestão à frente da Secretaria de Educação foi muito exitosa, teve grande votação para deputada estadual nas últimas eleições e é uma importante liderança do movimento anti-racista na Bahia”, lembra Péricles de Souza.
Tática
Em coligação com o PT, o PCdoB terá de apresentar poucos candidatos para as eleições proporcionais. A meta é lançar para reeleição Daniel Almeida e Alice Portugal e, caso Olívia Santana não seja escolhida para a candidatura ao Senado, será a terceira opção do partido. Segundo Souza, “isso, para nós, é um problema porque o PCdoB é um partido relativamente grande no estado, com muitos nomes que se destacam e que poderiam ser ótimos candidatos. Mas, dentro da nossa tática de aliança, a solução é apostar em poucos nomes”.
Na disputa ao palácio que leva o sintomático nome de Deputado Luís Eduardo Magalhães, o PCdoB vai lançar de 12 a 14 candidatos. “Hoje temos três deputados estaduais e a meta é que consigamos eleger ao menos quatro. No âmbito federal, a perspectiva é de que vamos conseguir ultrapassar a cláusula de barreira”, diz Souza. Ele explica ainda que o êxito obtido em prefeituras como a de Salvador e do interior z– nas quais o PCdoB participa da gestão, além de São Sebastião do Passe, administrada pela comunista Tânia Portugal – somado ao papel desempenhado pelo PCdoB na base de apoio do governo federal contribuiu para aumentar o prestígio dos candidatos da legenda na Bahia. “O partido se expandiu e se consolidou em diversos municípios. Os mandatos de nossos deputados e vereadores foram muito bons. Aumentou também a inserção de nossos militantes em frentes importantes como o movimento sindical. Isso também se reflete numa melhoria com relação à percepção que se tem do trabalho do PCdoB”.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte
Priscila Lobregatte