Nacionalização na Bolívia: uma ousadia de sucesso
A nacionalização não pesa muito para a Petrobras, mas pode mudar a Bolívia
Publicado 06/05/2006 18:49
Por Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa, da revista CartaCapital
No Brasil, é hora de jogar água na fervura. Alguns editoriais e comentaristas de tevê, ansiosos por imitar seus colegas estadunidenses da Fox News, estiveram a um passo de exigir que o governo brasileiro acionasse o Exército e desencadeasse uma operação “Tempestade no Chaco” para promover uma mudança de regime no país vizinho e recuperar os campos nacionalizados. O tom indignado e apocalíptico do noticiário sobre a nacionalização do gás e petróleo boliviano chegou a dar a muitos a impressão de uma catástrofe iminente para a economia brasileira e para a Petrobras, o que está muito longe da realidade.
Medidas como essas foram tomadas várias vezes por outros países, latino-americanos ou não. Seu modelo é a nacionalização do petróleo mexicano, iniciada com a estatização do subsolo em 1917 e completada com a expropriação das empresas estrangeiras em 1938. O próprio Brasil não tem o direito de esquecer da campanha “O Petróleo É Nosso” e da nacionalização de 1953, quatro anos depois da Argentina. A Venezuela fez o mesmo em 1975.
Mas não se pode negar a ousadia da medida e sua importância para a Bolívia. Ao contrário das duas tentativas anteriores de nacionalização do petróleo, de iniciativa de ditaduras militares nacionalistas, esta partiu de um governo eleito democraticamente com ampla maioria. Resulta de dois anos e meio de intensa mobilização social, a partir da campanha contra a exportação de gás através do Chile, que derrubou Sánchez de Lozada em outubro de 2003. A popularidade da medida foi atestada pelo plebiscito de julho de 2004, no qual 92% apoiou a recuperação da propriedade do gás e petróleo na boca do poço.
Trecho de matéria de capa da
revista CartaCapital