Jussara Cony (PCdoB/RS): “A Varig é importante, a verdade também!”

A Varig, empresa brasileira, de capital nacional, com quase 90 anos, que realiza a maioria de nossos vôos internacionais, com mais de 10 mil funcionários, em decorrência de vários fatores, inclusive má administração, acumulou a g

Como analisa o especialista em aviação, Sérgio Lazzarini, “a Varig não se preparou para o aumento da competição, com a entrada de novas empresas mais eficientes, e por muito tempo foi gerida pela Fundação Rubem Berta, que não tomou ações para adequar a empresa a esse novo cenário de competição. Foi uma confluência de fatores.”

As análises são muitas, efetuadas através e pela imprensa, gaúcha e brasileira, onde a cronologia da crise passa pelas conseqüências da concorrência numa economia de mercado e da Guerra do Golfo, pela fragmentação das linhas de comando na Fundação Rubem Berta, pelo desperdício, por más gestões apontadas por auditorias, por contratos irregulares, por recordes de desmandos administrativos, como analisado pelo professor Antonio Henriques de Araújo Júnior, do Departamento de Engenharia de Produção da Unesp, que estudou a produtividade de empresas aéreas brasileiras, em tese de doutorado.

E análises que buscam transferir, como sempre, a partir da eleição do presidente Lula, a responsabilidade para o Governo Federal.

O Brasil, como sociedade e como governo, não está alheio ao problema. Autoridades do Governo Federal que se colocam refratárias à injeção de dinheiro público na empresa tem, ao longo do tempo, através das suas estatais, Infraero e BR-Distribuidora, garantindo o funcionamento da Varig.

A posição manifesta de Sérgio Lazzarini é esclarecedora: “O governo não pode fazer nada. Pela nova lei de falências, a Varig está em processo de recuperação, tem que honrar seus compromissos a curto prazo e se mostrar competitiva para ir solucionando a dívida. Um plano foi aprovado pelos credores, mas a empresa não cumpriu. O que tem que acontecer é a falência. Qualquer sinal do governo para ajudar é ruim, vai atrapalhar, atrasar ainda mais o processo. A única forma de ajuda do governo seria permitir o prolongamento da dívida da Varig junto às estatais.  Mas isso seria bastante complicado porque sinaliza falta de responsabilidade administrativa das estatais, o que complica para o próprio governo. A Shell, por exemplo, não deixa a Varig atrasar, mas a BR sim”.

Imputar a responsabilidade ao governo da República é, mais que uma inverdade, um erro estratégico. Não contribui para a busca de uma alternativa onde o governo vem contribuindo, sistematicamente, até pela consciência que demonstra de que é negativo aos interesses nacionais o fechamento da Varig, pois não interessa ao estado brasileiro que nossa aviação comercial, ramo importante para o desenvolvimento, seja desnacionalizado e cartelizado pelo capital estrangeiro , além do significado de preservar o trabalho de 10 mil pessoas.

Não se advoga que o dinheiro público seja usado para cobrir falências de empresas privadas, ainda mais quando auditorias apontam má gestão. Todavia, é inegável que a falência da Varig não eqüivale ao fechamento de uma firma qualquer. Tem de ser entendida, por todos, sob a ótica da situação dos trabalhadores e dos interesses nacionais, na busca de contribuir, sociedade, governo e empresa, numa negociação responsável, para buscar preservar, em moldes diferenciados e responsáveis, a companhia.

Uma importante contribuição vem do Ministro da Defesa, Waldir Pires, quando afirma que há uma grande preocupação no governo com a necessidade de preservação das linhas internacionais da Varig, que são fruto de acordos diplomáticos entre os países. “Há um patrimônio do país que precisa ser preservado. Precisamos manter a posição brasileira em todas as partes do mundo”. Uma das idéias que o ministro passou a examinar é a de separar as operações internacionais da empresa dos negócios domésticos. Quem sabe aí esteja uma importante maneira de o governo afirmar, mais uma vez, sua contribuição à Varig. 

Por Jussara Cony
deputada estadual do PCdoB/RS