Presidente da Funai contesta críticas à conferência indígena
O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira, disse hoje (14) estar "espantado" com a crítica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em relação à Conferência Nacional dos
Publicado 14/04/2006 20:27
O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira, disse hoje (14) estar "espantado" com a crítica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em relação à Conferência Nacional dos Povos Indígenas. Ontem (13), o Cimi divulgou uma nota dizendo que as 550 lideranças indígenas que participaram acampamento Terra Livre de 2006, realizado na semana passada em Brasília, não reconheciam a legitimidade da Conferência.
"Eu custo a crer que o Cimi solte uma nota nesse sentido. Me espanta muito essa teimosia do Cimi de criticar os próprios índios, na sua manifestação", disse Mércio Pereira. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário, a Funai teria agido de modo centralizador ao definir os temas e os participantes das conferências regionais que antecederam o encontro nacional . "A Funai estabeleceu a pauta e a forma de discussão dos temas por ele escolhidos e criou critérios para eleições dos representantes sem discutir previamente com povos e organizações indígenas, contrariando todas as indicações do movimento indígena", diz a nota.
Para o presidente da Funai "essa é a conferência mais legítima que pode haver. Quem é que está fazendo uma conferência que tem todos os 220 povos?", argumentou.
Autonomia e identidade indígenas são principais temas de conferência
s comunidades indígenas devem ser tuteladas pelo Estado brasileiro ou devem ter autonomia política? Mesmo morando na cidade, o índio deve manter seus direitos e sua identidade? Essas são as duas principais perguntas que as 800 pessoas presentes à Conferência Nacional dos Povos Indígenas querem responder.
A questão da tutela, segundo o índio Caboquinho Potiguara, um dos organizadores do evento, é um dos pontos mais polêmicos. "Muitos ainda entendem a tutela como sendo um dever do Estado". Segundo ele, outros já não tem essa opinião e preferiam que as aldeias fossem autônomas politicamente em relação ao Estado brasileiro.
No debate sobre a identidade civil, Potiguara afirma que os indígenas querem esclarecer melhor essa relação. "Saber até onde vai a proteção ao índio; se ela é igual para todos ou só para os índios que vivem nas aldeias".
"Não interessa se os índios vivem na cidade ou não. Eles nunca vão deixar de ser índios, desde que eles se reconheçam como tal", considera Maria Helena Paresi, da liderança indígena de Mato Grosso.
Já o índio Pirakuman Yawalapiti, da liderança do Xingu, avalia alguns índios urbanos estariam tomando a frente das comunidades indígenas sem autorização. "Muitos deles não conhecem mais a realidade dos índios que vivem nas aldeias", explica.
Por essa razão, Maria Helena Paresi acredita ser preciso tratar o assunto com cuidado, "para que os índios das aldeias não sejam afetados".Para o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira, parece haver uma tendência em dizer que índio é aquele que pertence a um povo ou uma etnia. "Índio não é cor, nem pele, nem Dna, é um sentimento de pertencimento. Essas discussões são importantes pois esclarecerão muito da política indigenista brasileira, da atitude que o Brasil deve ter com os povos indígenas"
Os 800 representantes dos povos indígenas que participam da Conferência estão reunidos em 10 grupos de trabalho para chegarem a consenso sobre as propostas apresentadas e discutidas ao longo do encontro. Os grupos são divididos de acordo com o seguintes temas: autonomia, território, educação, saúde e índios urbanos.
Fonte: Agência Brasil