Centenas de jovens assistem a abertura do 11º Coneb, em Campinas

No primeiro dia do 11º Conselho Nacional da Entidades de Base da UNE, centenas de jovens se aglomeraram no auditório da Unicamp. Em pauta, a superação do neoliberalismo e a construção de um projeto nacional de desenvo

Enquanto caravanas trazendo estudantes de todo o Brasil ainda chegavam à Universidade de Campinas e outros tantos estudantes, extenuados pela maratona da viagem, dormiam pelos gramados, tinha início, hoje, 14 de abril, no ginásio da Unicamp, o 11º Coneb. A conferência de abertura, sobre o tema “Construir um projeto de desenvolvimento para o país”, recebeu nomes importantes da política, da intelectualidade e do movimento social brasileiro como Gustavo Petta, presidente da UNE, o economista Carlos Lessa, Altamiro Borges, secretário nacional do PCdoB, Plínio de Arruda Sampaio,  um dos fundadores do PSol, Gustavo Codas, representando a CUT, o deputado federal pelo PT Arlindo Chinaglia e o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral.
 
Num debate acalorado com sucessivas manifestações das correntes representadas no auditório, os convidados discutiram, durante cerca de duas horas, as diferentes visões da esquerda com relação às alternativas a serem adotadas para a implantação de um projeto de desenvolvimento nacional.
 
Para Carlos Lessa, é preciso denunciar a atual política econômica, que, segundo o economista, é “uma verdadeira tragédia”. “Cerca de 13% dos brasileiros vivem de emprego precário. A universidade brasileira é uma fábrica de desempregados”, denuncia Lessa. Para ele, é urgente que o crescimento no Brasil aconteça com justiça social. “Os brasileiros querem emprego com carteira assinada”, disse. O economista salientou ainda que a elite neoliberal quer cada vez mais diminuir o aparelho do Estado, completar o processo de privatização e impor um sistema cada vez mais letal para a sociedade brasileira. “O Brasil tem plenas condições de crescer em níveis altos, mas temos aqui uma elite predatória”. Segundo Lessa, é preciso discutir um projeto de nação com base em posições convergentes de maneira que se possa criar as condições para o crescimento com justiça social.

Elite predatória
 
Em seguida, foi a vez de Roberto Amaral. Em sua opinião, um novo projeto nacional deve ser pensado a partir da integração nacional do povo brasileiro. “Não se faz uma nação com o esgarçamento da miséria. Podemos sim pensar um projeto capitaneado pela esquerda com ampla participação popular”. Ele ressaltou que é a partir da união de setores progressistas que será possível vencer os conservadores. “Nossa  elite é predadora e não pensa em seu futuro de maneira vinculada com o crescimento da nação”. E completou: “temos a obrigação de lutar por essas mudanças porque a elite não o fará”.
 
Partindo da queda da União Soviética e suas implicações para o enfraquecimento da corrente socialista, Gustavo Codas, da CUT, falou sobre a ofensiva do imperialismo estadunidense contra países do Oriente Médio e da América Latina. Para ele, saímos da fase da dominação absoluta do imperialismo e entramos num período de contestação. A América Latina é palco de batalhas decisivas entre as forças de esquerda e o imperialismo. “Há um processo de libertação em curso. E o Brasil tem papel fundamental para a reversão do quadro atual, de hegemonia norte-americana”. Ele salientou ainda que é preciso combater visões sectárias que não consideram os vários movimentos latino-americanos como parte de um curso comum em nossa história. “Há setores ditos de esquerda que na verdade trabalham para destruir a unidade dos movimentos sociais nesta luta”, alerta.
 
Em seguida foi a vez de Plínio de Arruda Sampaio fazer sua intervenção. Segundo ele, um dos fundadores do PT e do PSol, “o maior problema desta conjuntura é que a esquerda não está unida”. Em sua visão, a política econômica do governo Lula não mudou substancialmente com relação àquela aplicada por FHC. Para ele, não é possível reformar o capitalismo, o que iria pressupor um pacto com o sistema. “O capitalismo não quer pactos”, disse, ressaltando que “a classe dirigente brasileira se preocupa em manter seus padrões de consumo”. Ao finalizar sua fala, defendeu a candidatura de Heloísa Helena, o que fez com que os estudantes pró e contra se manifestassem efusivamente.
 
Pacto na esquerda
 
O deputado federal Arlindo Chinaglia deu continuidade à conferência fazendo um balanço das realizações do governo Lula, sem deixar de admitir que houve limitações. Ele defendeu a integração latino-americana e lembrou das diversas viagens que Lula fez com o intuito de estreitar os laços entre os países da América do Sul. “Se quisermos entender a complexidade do atual momento vivido em nosso continente, não podemos deixar de considerar o papel importante que o Brasil vem desempenhando”, disse. Sobre o atual cenário nacional, Chinaglia declarou que a direita é golpista e não faz política dentro das regras do jogo democrático. “A direita corrupta vem tentando destruir tudo aquilo que foi construído pela esquerda e pelas entidades do movimento social, como a CUT e a UNE”. O parlamentar petista destacou ainda as realizações do governo federal em áreas variadas, em especial na área da educação, com a construção de cinco novas universidades e 42 centros de ensino tecnológico, segundo dados apresentados por Chinaglia. “Essa é uma maneira de contribuir também para a distribuição de renda”, explicou. Para ele, programas como o Fome Zero e o Bolsa Família, embora sejam de caráter assistencialista, beneficiam hoje milhões de brasileiros. “A esquerda precisa se unir em defesa do povo brasileiro e de um projeto de nação. Sabemos que há limitações, mas não vamos abdicar deste governo que, para mim, é uma plataforma para o lançamento de um novo Brasil”.
 
Fechando a conferência, Altamiro Borges, do PCdoB, não deixou ninguém sentado. Após destacar o papel do país na América Latina e na luta dos povos latino-americanos contra o imperialismo, Miro falou sobre o projeto eleitoral da direita. “A direita não escolheu um candidato palatável [Geraldo Alckimin]. Ele é representante de tudo aquilo que há de mais retrógrado na direita nacional. É da Opus Dei, uma seita fascista de origem espanhola”, disse, sob aplausos. O dirigente comunista destacou como principais pontos de um futuro projeto de desenvolvimento a busca contínua pela soberania nacional e integração com os países da América Latina, um projeto de desenvolvimento interno a partir da mudança na condução da política econômica, desenvolvimento com distribuição de renda e respeito aos direitos do trabalhador e consolidação de uma democracia real. “O movimento social tem papel essencial nessa luta pelas mudanças e a UNE tem assumido papel dianteiro nesse processo”. No entanto, ele salientou que para se alcançar unidade em torno de um mesmo programa “não devemos assumir uma posição de passividade acrìtica, mas ao mesmo tempo não se deve adotar o esquerdismo radical. É com autonomia e inteligência política que vamos superar a barbárie”.
 
De Campinas,
Priscila Lobregatte