Fóssil revela elo entre peixes e animais terrestres
Fósseis encontrados no Canadá revelam o "elo perdido" que explicaria a passagem dos peixes para a terra, segundo estudo publicado na revista britânica Nature. Os fósseis, de 383 milhões de anos, são descritos co
Publicado 06/04/2006 10:09
Fósseis de animais encontrados no Canadá revelam o "elo perdido" que explicaria a evolução dos peixes em animais terrestres, segundo um estudo de paleontólogos americanos publicado na revista científica Nature.
As descobertas estão dando a pesquisadores uma visão inédita desse estágio fundamental da evolução da vida na Terra. Os espécimes, de 383 milhões de anos, são descritos como animais semelhantes aos crocodilos, com barbatanas ao invés de membros, e que provavelmente viveram em águas rasas.
Antes dessas descobertas, os paleontólogos sabiam que peixes de nadadeiras lobuladas (em forma de lóbulo, arredondadas) evoluíram para criaturas terrestres durante o período Devoniano.
Mas os registros de fósseis mostravam um intervalo entre o Panderichthys – um peixe que viveu há cerca de 385 milhões de anos e que mostra sinais de evolução para criaturas que sobrevivem em ambientes terrestres – e o Acanthostega — o primeiro quadrúpede conhecido, que data de 365 milhões de anos atrás.
Em 1999, os professores de paleontologia Neil Shubin, da Universidade de Chicago, e Edward Daeschler, da Academia de Ciências Naturais da Filadélfia, começaram uma exploração da parte ártica do Canadá na tentativa de encontrar o "elo perdido" que explicaria a transição da água para a terra.
Após vários anos de buscas, com pouco sucesso, eles tiraram a sorte grande em 2004. "A incrível descoberta aconteceu quando um dos membros da equipe achou o focinho de um animal, de cara achatada, despontando de um penhasco — e isso é o melhor que pode acontecer porque, se tiver sorte, o resto do esqueleto estará enterrado no penhasco", disse Shubin.
A equipe encontrou três fósseis da nova espécie Tiktaalik roseae, em bom estado de conservação e quase completos, em uma área do Ártico chamada Território Nunavut. O maior fóssil tem quase 3 metros de comprimento.
"Quando nós voltamos ao laboratório, retiramos a rocha do osso e começamos a achar coisas realmente significativas", disse Shubin.
O fóssil tem algumas características dos peixes, como barbatanas e escamas nas costas. Mas ele também tem várias características em comum com criaturas terrestres. O fóssil tem uma cabeça chata com os olhos no centro e no alto, vagamente parecido a um crocodilo, e o início de um pescoço, o que não existe em peixes.
"Quando nós olhamos dentro da barbatana observamos um ombro, um cotovelo e uma versão inicial de um pulso, o que é muito similar a animais que também habitam a terra", afirmou Shubin.
"O que temos é, essencialmente, um animal feito para poder se sustentar no chão." Os cientistas acreditam que a posição dos olhos da criatura revela que ela provavelmente viveu em águas rasas.
"Essa é uma evidência de uma transição muito significativa em um momento-chave. O que é importante nesse animal é que se trata de um fóssil que não tem a distinção entre duas formas de vida — entre um animal que vive na água e um animal que vive em terra."
Andrew Milner, um paleontólogo do Museu de História Natural do Reino Unido, disse que é raro encontrar um fóssil em condições tão boas.
"Esse material é incrível porque inclui um esqueleto quase completo — o que é sempre útil porque ao invés de montar o fóssil a partir de pedaços podemos ver o esqueleto inteiro e ter certeza de que se trata da forma como o animal era composto."
A professora Jennifer Clack, da Universidade britânica de Cambridge, disse que a descoberta pode acabar virando um "ícone evolutivo" tão importante quando o Archaeopteryx, um animal que marca a transição de répteis para aves.
Um molde do fóssil está em exibição no Museu da Ciência de Londres.
Com informações da BBC Online