Serra se lança para governador, Kassab assume, Aníbal insiste
José Serra deixou nesta sexta-feira o cargo de prefeito de São Paulo para se lançar na disputa pelo governo de São Paulo, pelo PSDB. No seu lugar, assumiu o vice-prefeito, Gilberto Kassab (PFL).
Publicado 31/03/2006 14:29
O local do anúncio foi mudado às pressas para o Parque Anhembi, na Zona Norte da Cidade, pois a sede da Prefeitura, no Centro, estava cercada por uma manifestação de 10 mil professores e outros funcionários municipais, em campanha salarial. Apesar da alegada quase-unanimidade tucana em favor da candidatura Serra, o vereador José Aníbal reiterou sua decisão de disputar a indicação no partido.
Filosofias de um tucano
Os analistas tucanos avaliam que escolher qualquer outro candidato corresponderá a praticamente entregar o Palácio dos Bandeirantes ao PT — que decidirá em prévias, no mês que vem, se seu candidato é a ex-prefeita Marta Suplicy ou o senador Aloizio Mercadante. E mesmo com Serra, observam que a vitória da chapa PSDB-PFL não está assegurada, embora ele apareça como favorito nas pesquisas.
José Arthur Giannotti, um intelectual orgânico tucano, alegava ontem que, “se Alckmin perder, e a Marta ganhar no Estado, haverá a perpetuação do lulismo”, para argumentar que Serra não tinha "outra opção". O filósofo acrescentava que a opção de Serra é também arriscada, pois a sua sobrevivência política depende dessa eleição.
José Aníbal: "Não concordo"
A pesquisa Datafolha divulgada em 20 de março mostra Serra vencendo Marta por 50% a 14% e Mercadante por 58% a 12%. Já José Aníbal aparece com 65 contra Marta (20%) e 7% contra Mercadante (23%). Porém o vereador mais votado das eleições de 2004, um entusiástico partidário da candidatura presidencial de Alckmin vitoriosa sobre Serra na disputa intra-PSDB, manteve-se aparentemente inabalável na decisão de disputar o governo.
"Ele (Serra) vai colocar o pleito dele e eu tenho o meu", afirmou Aníbal a jornalistas no Palácio dos Bandeirantes, após a transmissão de cargo de Geraldo Alckmin (PSDB) para Claudio Lembo (PFL), também nesta sexta-feira. Os outros três pré-candidatos tucanos desistiram: são wlwa o deputado federal Alberto Goldman, o ex-ministro da Educação Paulo Renato e o secretário municipal de governo, Aloysio Nunes Ferreira.
"Não concordo com a idéia de que o PSDB só ganha o governo de São Paulo com o prefeito renunciando à prefeitura", insistiu ainda Aníbal, tocando um ponto vulnerável do seu concorrente. Serra deixou a Prefeitura depois de ter assinado em 2004 um documento onde se comprometia a ficar no cargo até o último dia de 2008. E deixou-a nas mãoes do vice, Kassab, de um PFL pouco expressivo em São Paulo e ele próprio um quase desconhecido, exceto pelo papel proeminente que teve como secretário da administração Celso Pitta (1997-2000).
Já o PFL exultava no plano nacional, por se encontrar agora à frente do governo paulista e da prefeitura paulistana. O orçamento do Estado de São Paulo é o segundo maior orçamento do país, com R$ 81,3 bilhões. Só perde para o orçamento da União, de R$ 803,3 bilhões. Já o orçamento da Prefeitura de São Paulo, de R$ 17,2 bilhões, é o quinto maior do país, atrás dos da União e dos Estados de São Paulo, Minas Gerais (R$ 27 bi) e Rio Grande do Sul (R$ 19,5 bi). Os números são das leis orçamentárias de 2006.
Serra nega três vezes chance presidencial
O anúncio assumiu a forma de uma declaração à imprensa, e descartou qualquer descartou qualquer intenção de reverter a decisão do PSDB do dia 14, quando perdeu para Alckmin a candidatura tucana à Presidência da República. "Não, não, não", negou. Disse que a candidatura de Alckmin, vai decolar (o seu nome é lembrado como alternativa caso ela não decole). E asseverou que "estamos nessa batalha conjuntamente. O jogo não admite substituição. Não posso dizer nem que é um compromisso. É algo que nem está no programa. Compromisso faz parecer que existe uma escolha", garantiu.
Outra preocupação do agora ex-prefeito e quase-candidato foi explicar porque não cumpriu o compromisso de permanecer até o fim na prefeitura. "Naquele momento (quando assinou o documento) eu disse a verdade. Ao longo desse tempo aconteceram muitas mudanças, inclusive as preferências e os apoios… As circunstâncias passaram a ser outras", alegou.
Marta e Mercadante reagem
Marta e Mercadante admitiram que a decisão de Serra torna mais difícil desalojar o PSDB do Palácio dos Bandeirantes, onde se encontra há quase 12 anos. Mas ambos sublinharam a quebra da promessa de 2004.
"Isso vai ser uma mancha na biografia de Serra. Ele largou tudo por ambições pessoais", comentou a ex-prefeita. "Serra está abandonando uma cidade com 11 milhões de pessoas e Gilberto Kassab, do PFL, será por três anos o prefeito da maior cidade brasileira", disse ainda.
Já Mercadante fez um jogo de palavras com o nome do agora prefeito de São Paulo. "A partir de hoje, com o Serra, a gente nunca sabe", ironizou. "Kassab nunca seria eleito em São Paulo, era homem forte do governo Pitta", disse. E sobre Serra: "Ele passou um cheque sem fundo à cidade. Acho muito grave o que ele fez e vai responder por isso."
Ao mesmo tempo, os movimentos na disputa paulista levaram os petistas a perceber que as prévias para decidir entre Marta e Mercadante, marcadas para 7 de maio, deixam o partido imobilizado até lá. Já há quem fale em antecipar a consulta, pelo menos para o dia 23 de abril.
Com agências