O Presidente Arquivado

Na receita política dos EUA, os liberais são adversários do liberalismo econômico, do mercado desregulamentado. Roosevelt foi um deles. Bem mais que isso, um grande reformador, diz-nos o professor Luís Gonzaga Belluzzo.

O livro, “A Era Dourada”, escrito por Gore Vidal, trata de um período nos EUA, em especial os tempos de Franklin Roosevelt e o New Deal, a estratégia econômica e social que possibilitou aos Estados Unidos enfrentarem a recessão econômica mundial de 1929.


 


Um líder que sofreu graves adversidades na vida, inclusive uma poliomielite em fase adulta, dirigiu a nação em uma crise econômica aguda, vivia em uma cadeira de rodas, empurrada por um oficial, pelos labirintos da Casa Branca. Jamais perdeu a fé em sua causa, nem o senso de humor.



Um certo dia, os freios da cadeira de rodas falharam, o militar perdeu o controle e o presidente ficou desgovernando em um corredor inclinado. Estancou em um armário de arquivos, com a cabeça dentro de uma gaveta.



Aos poucos, com as mãos, recuperou o controle da cadeira, conseguiu sair do armário sem perder a presença de espírito diante do jovem soldado que estava totalmente paralisado com o acidente.



Aproximou-se da estátua humana fardada e gargalhando, disse-lhe: “eu já soube de presidentes assassinados, isolados, mas nunca um caso de um presidente literalmente arquivado”.



Na receita política dos EUA, os liberais são adversários do liberalismo econômico, do mercado desregulamentado. Roosevelt foi um deles. Bem mais que isso, um grande reformador, diz-nos o professor Luís Gonzaga Belluzzo.



Com as teses do economista Keynes, aplicadas à realidade dos EUA através do New Deal, o país viveu um tempo de grandes conquistas sociais e econômicas, de 1930 ao início de 1950. Antes, prevaleciam os poderosos barões da indústria, ao lado da extrema concentração da renda, generalização da miséria, no campo e nas cidades.
Comparando a “Era Dourada” de desenvolvimento, nos moldes capitalistas, com a época da deificação absoluta do mercado, implementada nos EUA,  a partir da década de 1970, concordamos sobre um espetacular retrocesso na grande nação do Norte. 



Roosevelt, no infortúnio pessoal, conduziu os EUA contra o nazismo em escala mundial. Soube flanquear os interesses exclusivistas e conviver em alianças com os adversários, inclusive a URSS.



Hoje, com os EUA num desastre econômico interno, a violência imperial externa, conclui-se que Roosevelt, além de estadista, foi um profeta do seu próprio futuro. Tornou-se, verdadeiramente, um presidente arquivado.

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