Metrô: a face autoritária de Serra

Aos poucos, o atual governador de São Paulo e um dos presidenciáveis do PSDB, José Serra, vai tirando a máscara de “democrata” e revelando todo seu caráter autoritário diante dos movimentos sociais. No final da tarde de quinta-feira (25), a Polícia Milita

Mas a prova maior desta postura autoritária ocorreu no início da semana com a punição de cinco diretores do Sindicato dos Metroviários de São Paulo – dois deles demitidos arbitrariamente, numa afronta à própria Constituição. O motivo alegado, que relembra a retórica da ditadura nos seus estertores, é que a entidade classista liderou uma greve de duas horas em defesa do veto do presidente Lula à Emenda 3, que restringe a fiscalização nas empresas e incentiva a precarização do trabalho. A paralisação de protesto foi um dos pontos altos da jornada nacional unificada, que reuniu todas as centrais sindicais, contra esta regressão.


 


“Quebrar a espinha dorsal”


 


A atitude truculenta e ilegal do atual governador lembra um gesto de alto simbolismo do governo FHC, de quem Serra foi ministro, durante a greve dos petroleiros em maio de 1995. Visando “quebrar a espinha dorsal do sindicalismo” logo no início do seu reinado, o chefão dos tucanos acionou soldados do Exército para ocupar as refinarias de petróleo, impôs pesadas multas aos sindicatos da categoria e demitiu dezenas de lideranças daquela histórica greve. José Serra segue o mesmo receituário autoritário ao investir pesado contra uma das entidades mais representativas e combativas do sindicalismo paulista e brasileiro.


 


Sem apresentar provas concretas, a direção do Metrô acusou os cinco dirigentes sindicais de “sabotagem” e “destruição do patrimônio público”. Paulo Pasin, vice-presidente, Pedro Augustinelli, secretário-geral, e Alex Fernandes, diretor de esportes, foram afastados para “apuração de falta grave”. A punição é dura, já que durante o tempo do afastamento, que pode durar anos, o sindicalista não recebe seu salário e nem os benefícios, como o plano de saúde, e sua carteira de trabalho fica retida na empresa. Já Ronaldo Campos, diretor de saúde, e Ciro Moraes, membro do conselho fiscal do sindicato, foram demitidos por justa causa.


 


Resistência do sindicalismo


 


O Sindicato dos Metroviários de São Paulo já definiu sua estratégia para reverter a arbitrária decisão. Ele atuará no campo político e no terreno jurídico. No primeiro, as suas articulações já resultaram no apoio do próprio ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que se comprometeu a interferir nas negociações com o Metrô. A idéia é intensificar a pressão da base, não descartando a possibilidade de uma greve de solidariedade da politizada categoria. Já no terreno jurídico, Magnus Farkatt, advogado do sindicato, irá argüir a própria inconstitucionalidade das punições. “Vamos argumentar contra até no Supremo Tribunal Federal”, afirma.


  


Na avaliação da entidade, o endurecimento do governador José Serra, inclusive com a acusação leviana e fascistóide de “sabotagem”, tem vários objetivos. Ele estaria se cacifando como presidenciável confiável junto à retrógrada burguesia paulista e às altas camadas médias. Também visaria quebrar a resistência do sindicato ao plano de privatização do Metrô, através das famigeradas Parcerias Público-Privadas (PPPs), que ficou desgastado na sociedade com o desastre da cratera numa das estações da companhia. Serviria ainda para jogar água no moinho dos que defendem, inclusive no interior do governo Lula, restrições ao direito de greve dos servidores públicos e dos trabalhadores dos chamados “setores essenciais”.


 


Urgência da solidariedade ativa


 


Diante destes intentos, o sindicalismo brasileiro precisa dar uma resposta enérgica e rápida, garantindo a ampla e ativa solidariedade aos metroviários paulistas. CUT, Força Sindical, CGT, SDS, CAT, CGTB, Conlutas e Nova Central já assinaram manifesto conjunto condenando a violência. “A demissão de cinco sindicalistas metroviárias, anunciada pela companhia na última segunda-feira (23), é um ataque a todas as centrais e a todos os trabalhadores brasileiros ameaçados pela emenda 3 – o que inclui os passageiros do Metrô”. O documento exige a imediata readmissão das lideranças e solicita audiência com o governador.


 


Este episódio revela bem as intenções e a postura deste presidenciável do PSDB. Por seu distante passado de líder estudantil e de lutador pela redemocratização e também por suas erráticas posições em defesa do desenvolvimentismo, José Serra ainda seduz alguns setores progressistas da sociedade brasileira – como ficou patente na disputa interna que travou contra Geraldo Alckmin na escolha do candidato à sucessão presidencial de 2006. Não dá para se iludir com este cardeal do tucanato, esta raposa em pele de cordeiro.


 


Como afirma um texto assinado por Artur Araújo, Breno Altman e Ubiratan Santos, “a cada oportunidade concreta, Serra põe às claras o real conteúdo de seu programa: retomada das privatizações, repressão aos movimentos sociais, redução dos espaços democráticos, precarização dos serviços públicos e privilégios abertos ao capital”. É preciso combatê-lo, com firmeza e sabedoria política, antes que o atual governador se torne um perigo maior ainda. A demissão das lideranças metroviárias revela a urgência deste combate.

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