Desocupação do Iraque só em 2009

Já havíamos falado por diversas vezes em nossa coluna semanal, que a saída das tropas americanas do Iraque não se daria neste governo de George W. Bush, que vai até janeiro de 2009. Ele já o declarou isso por diversas vezes. Agora, um “novo” relatório com

Um novo relatório


 


 


Perder ou ganhar a guerra do Iraque tem muitos fatores que devem ser levados em conta, mas uma coisa é certa: não será por falta de relatórios. Na semana passada comentamos o fato de que o primeiro general de origem nos fuzileiros navais (marines) a comandar as forças armadas estadunidenses, David Petraeus, estava preparando o seu relatório de balanço da ocupação desse país árabe.


 


 


Agora, uma nova peça surge e tem uma data no texto: junho de 2009. Pela primeira vez, eu que tenho lido quase tudo sobre Oriente Médio e Iraque na grande imprensa, algum documento oficioso – não é oficial ainda – menciona uma possível data de conclusão da ocupação, ainda que não fale claramente em desocupação e não fixe um calendário.


 


 


 


O documento é assinado pelo general Petraeus em conjunto com o embaixador Ryan Crocker. O relatório menciona duas fases distintas. Uma delas vai até junho de 2008, fase essa que coincide com a intensificação do envio das mais cinco brigadas e regimentos militares, decisão essa tomada em janeiro passada, que visa reforçar a segurança em Bagdá. Nessa fase, falam-se em acordos políticos com lideranças locais e tribais, no sentido da unificação. Até ex-insurgentes e mesmo ex-membros do Partido Baath poderiam vir a ser reintegrado na sociedade, na vida política. Aliás, existem altos membros do governo que sempre defenderam aproveitar ex-integrantes do governo de Saddam Hussein.


 


 


 


 Uma segunda fase, o documento menciona uma espécie de “senso de segurança mais amplo”, que poderia vir a ser atingido em junho de 2009. Essa é a primeira data concreta que se viu nos últimos meses, sobre uma possível indicação de retirada mais organizada (1).


 


A posição do parlamento americano


 


O debate sobre a retirada das tropas vem sendo travado desde janeiro, quando os democratas conquistaram uma maioria folgada das cadeiras na Câmara dos Deputados e no sendo, uma maioria apertada, de cerca de três a quatro votos (a depender de cada votação).


 


Há cerca de dois ou três meses, os democratas da Câmara, presidida pela deputada Nancy Pelosi, votou uma moção pela retirada total e completa do Iraque até abril de 2008. Tal moção, aprovada por ampla margem (coisa assim de 60% a 40%), foi formalmente vetada pelo presidente americano. Claro que os democratas sabiam disso, mas impuseram um desgaste à Bush. Agora mais recentemente, foi a votação no senado, quando da discussão do orçamento dos Estados Unidos para 2008. Mais uma vez a moção foi aprovada. Ocorre que a maioria dos democratas é apertada nessa casa de lei e a aprovação foi da ordem de 53 a 47 e não se atingiu o quorum mínimo de 60 votos para ser aprovada, de forma que foi arquivada.


 


 


O que vimos notando é que não há solução a curto prazo para a ocupação. Não há a menor possibilidade de uma vitória militar dos americanos nesse processo. O que se debate hoje é como perder a guerra com o menor estrago político possível. Do ponto de vista econômico, o estrago já foi feito, pois os mais otimistas e apoiadores da guerra falam em gastos de até um trilhão de dólares (quase que um PIB do Brasil inteiro, um ano de toda a nossa riqueza, a décima do planeta). Outros, mais pessimistas e contrários à guerra, estimam em até 1,5 a dois trilhões de dólares.


 


 


Muitos de nós, que se lembram da famosa cena de helicópteros americanos retirando sul-vietinamitas e americanas do teto da embaixada americana em Saigon, gostaríamos de ver tais cenas novamente. Sei que isso não ocorrerá, por diversos motivos aos quais fica para um outro artigo. No entanto, esta claro que uma vitória militar dos americanos contra os insurgentes esta fora de qualquer possibilidade e todos os analistas internacionais, quaisquer que sejam suas posições a favor ou contra a guerra, descartam essa possibilidade.


 


E, como que para piorar as coisas, o presidente americano ainda tem a petulância de dizer que a invasão do Iraque tem relação direta no desbaratamento das ligações da rede Al Qaeda de Osama Bin Laden com o governo de Saddam Hussein. Nenhum órgão de inteligência estadunidense, nenhuma de suas agências nunca confirmou isso. Até pelo simples fato que Saddam era sunita e Osama é xiita e não se bicam.


 


 


Nota


 


 


(1) Ver artigo publicado no dia 25 de julho de 2007, no Jornal Estadão, página A8, de autoria de Michael Gordon, do The New York Times, onde ele é correspondente em Bagdá, cujo título é “Novo Plano americano prevê a permanência no Iraque até 2009”.

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