O ponto nodal, e que serviu para a base do título, foram respostas dadas à um jornalista pelo professor do Instituto de Economia da Unicamp, o professor Antônio Carlos Buainain. Para Buainaim, "O problema não é a gestão das políticas de câmbio, de juros que foi um desastre. Isso só não adianta. Não se vai fazer retomar grandes volumes de investimento só com isso". Mais, “Os obstáculos ao desenvolvimento do país estariam no retrocesso institucional, dos marcos regulatórios, da segurança jurídica, coisas desse tipo".
Câmbio, juros e marcos regulatórios
O professor diz que nossa política cambial e de juros foi um “desastre” e que mudanças nesta política por si só não bastam. Primeira questão: é na política de câmbio e juros que está assentada a diferença chinesa. Segunda questão: quem imprimiu esta política à nossa realidade e pautada em que objetivo? Claro que esta resposta cairia nos ombros de FHC, da qual tem todo apoio de Alckmin que nunca escondeu sua face negra neoliberal e seu governo em SP é expressão disto. Porém nunca é demais lembrar que câmbio e juros são elementos indutores de indigenização de novas tecnologias, adensamento produtivo e viabilização de um mercado interno. Tais instrumentos da acumulação são centrais à qualquer projeto, ainda mais onde o investimento privado é parte do processo de retomada do investimento a não ser que se continue a evasão de divisas por conta da inviabilidade de se buscar dinheiro no mercado financeiro local.
Quanto aos obstáculos do crescimento (retrocesso institucional, dos marcos regulatórios, etc.), fica outra questão: em que lugar do mundo tais marcos são pré-condição para o crescimento ou a sua retomada? Na China em particular, o capital estrangeiro nunca teve grandes marcos regulatórios, muito pelo contrário, até a alguns anos atrás, os investidores estrangeiros investiam num país onde a propriedade privada era ilegal e onde – até hoje – uma série de regulamentos restringe a ação destas empresas no país. O principal destes regulamentos é a tal da transferência de tecnologia e a obrigatoriedade de associação com empresas chinesas. Enfim, conforme provou Luciana Acioly da Silva em sua tese de doutorado defendida na Unicamp (“Investimento Estrangeiro na China, Índia e Brasil”), o investimento estrangeiro só vai aonde existe possibilidade de crescimento e não o contrário.
Reformas “modernizantes” e a educação
O professor em sua entrevista refere-se acerca da interrupção de chamadas “reformas modernizantes” e a falta de investimentos em educação. Acredito que faltou dizer quais eram tais reformas interrompidas. Imagino quais sejam e acho que Lula fez bem em interrompe-las, entre elas o processo de desmonte do Estado com privatizações.
Não acredito que as “reformas modernizantes” interrompidas seriam capazes de engendrar crescimento econômico “chinês”, pois o pressuposto de tais era a compressão de demanda pela via do arrocho salarial (nem vamos comparar os índices de aumento de salário mínimo e a preço da cesta básica entre os dois governos), o controle de gastos pelo Estado e outros escalabros que levaram nosso país a conviver com índices de consumo africanos em determinadas regiões do país.
Com relação ao ensino não vale maiores comentários. Paulo Renato de Souza e sua par paulista – Rose Neubauer – deveriam explicar o que de bom nos trouxe o processo de educação continuada, que levou um jovem a chegar na oitava série sem as mínimas condições de escrever uma redação de 30 linhas o que na ponta do processo serviu para elitizar ainda mais a universidade pública. Deveriam também explicar o porque de se iniciar um processo de eliminação do mestrado como escada acadêmica rumo ao doutorado. Claro, que todos sabem a respeito das exigências do Banco Mundial para a consignação de empréstimos: melhores índices de educação. Os parâmetros geométricos se sobrepuseram sobre os parâmetros de qualidade. A explicação neste sentido deveria também se atentar aos salários dos professores em todos os níveis e sua relação com a inflação entre os anos de 1995 e 2002, anos estes marcados pelo aumento do custo e vida no Brasil e decréscimo salarial levando em conta algumas variáveis provocando êxodo de professores do ensino público ao privado, que por sua vez se estruturou absurdamente com empréstimos do BNDES.
Nada disso ocorreu ou ocorre na China.
Dá para acreditar?
Poderia ficar por aqui enumerando todos os tópicos levantados pelo professor. Mas o final da conversa – com o valor econômico – foi marcada por uma revelação tenaz: o caminho para o auferimento de um crescimento econômico “chinês” para necessariamente pela retomada de reformas iniciadas na década de 1990. Sobre isso não cabe maiores comentários.
A curva de crescimento e a mobilidade social nos dois países na década de 1990 respondem por si. Ah, esqueci de algo. A segurança pública nos dois países são quase iguais: Pequim e Xangai são as metrópoles mais seguras do mundo, enquanto que em São Paulo o Estado foi substituído por máfias. Está aí: PCC – obra dos tucanos…
Em tempo
Causou polêmica e até mal estar minha última coluna publicada neste espaço. Acho oportuno um pedido de desculpas ao leitor do Vermelho. Não somente pela minha última coluna, mas principalmente pela forma como venho me dirigindo a outros grupos e segmentos intelectuais, sem falar no aspecto subjetivo do afrontamento a posições de meu Partido – o PCdoB – em questões como a reforma agrária.
Fica aqui uma revisão particular de comportamento; a consciência de que polêmicas não se resolvem com “baixarias” e que tais “baixarias” podem beirar o fascismo intelectual, do qual me oponho. Mais: estou convencido que este espaço concedido a mim não é o melhor local para o tratamento de determinadas questões de fundo. Sob este prisma e como militante consciente do PCdoB, deixo claro – a quem interessar – a minha determinação em sustentar sua linha política sob todas e quaisquer circunstâncias, independente de minhas opiniões particulares acerca de assuntos que nada ferem o que é central. Trata-se de uma ação consciente e que de forma alguma houve apelações de outrem de tipo “enquadramental”. Apenas, dada a reação de muita gente, não poderia de forma alguma estar certo sozinho – independente da manutenção de minhas polêmicas opiniões – enquanto que uma imensa massa crítica de lutadores do povo estavam errados. Em nosso movimento não existe espaço para “iluminados”: erramos e acertamos no coletivo.
Ainda bem que acredito ter feito a melhor opção política possível naquela tarde de 12 de dezembro de 1991 e a forma como têm sido tratadas minhas opiniões por outros membros de minha organização política, leva-me cada vez mais a crer que faço parte do partido político mais democrático da história de nossa pátria.
Por fim, não gostaria de me remeter a este assunto, mas a quantidade de e-mails que recebi ontem por conta da última coluna do camarada José Carlos Ruy, obrigaram-me a dizer algo a respeito. Não aceito humilhações públicas. Apenas quero deixar claro que não sou um mistificador e nem tampouco escrevo sobre o que não conheço. Mas de qualquer forma, acho que o camarada Ruy exerceu seu direito e mesmo as opiniões sobre mim por ele expressas, por mais que tenham tocado fundo no meu ser pessoal, não serão suficientes para diminuir o respeito e a estima que guardo a ele.
Quero deixar consignado inclusive que tenho muito orgulho em assinar como Doutorando e Mestre em Geografia pela FFLCH-USP, pois se tratou de conquistas e que nunca fui privilegiado por nenhuma bolsa de estudo na minha vida, seja do Estado, seja da Fundação Ford. A única bolsa de estudos que tive foi por conta do 100% de aproveitamento que tive num concurso de bolsas para o Anglo Pré-vestibulares, pois com certeza meu pai não teria a menor condição de pagar um cursinho daquela qualidade. Prestei vestibular como qualquer filho de trabalhador, obtive o 3º lugar geral no vestibular mais concorrido do país, a FUVEST. Fui primeiro colocado tanto no exame de admissão ao mestrado, quanto de doutorado e a altíssima média de notas que auferi no curso de Geografia da FFLCH-USP respondem por si pela minha seriedade e no mínimo mereço algum mérito e respeito. Poderia muito bem seguir o caminho que alguns companheiros de curso trilharam de trabalhar para ONG`s suspeitas, mas preferi me entricheirar no campo daqueles que defendem a nação e o socialismo. Quanto a Ignácio Rangel, a história econômica do Brasil responde por si só. Não voltarei a tocar nestes delicados assuntos.
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