Degradação atinge até 25% da vegetação nativa no Brasil

Levantamento do MapBiomas destaca a situação crítica da vegetação nativa em diversos biomas brasileiros, com a Mata Atlântica e o Cerrado como os mais afetados

Incendios castigam Pantanal | Foto: Joedson Alves/AgBr

Um estudo realizado pela rede MapBiomas revelou que entre 11% e 25% da vegetação nativa do Brasil sofreu algum grau de degradação entre 1986 e 2021. Isso corresponde a uma área que pode variar de 60,3 milhões a 135 milhões de hectares. A pesquisa exclui áreas antropizadas, como lavouras e pastagens, além de regiões afetadas por desertificação e voçorocas, indicando que os números reais podem ser ainda maiores.

Degradação versus Desmatamento

A vegetação nativa brasileira, composta por florestas, savanas, campos e áreas pantanosas, enfrenta duas ameaças principais: desmatamento e degradação. Enquanto o desmatamento envolve a remoção total da vegetação nativa para dar lugar a atividades humanas, como a agricultura, a degradação refere-se à deterioração da vegetação existente. Esse processo pode alterar a composição biológica e o funcionamento dos ecossistemas.

Entre os fatores de degradação analisados pelo MapBiomas estão o tamanho e o isolamento dos fragmentos de vegetação, as áreas de borda, a frequência de queimadas e a idade da vegetação secundária.

“Essa é a primeira vez que a degradação pode ser avaliada de forma mais ampla e em todos os biomas brasileiros, mas sabemos que esse processo ocorre também em outras coberturas, como na agricultura e pastagem, além dos solos e da água”, explica Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas.

Mata Atlântica: bioma mais degradado

A Mata Atlântica é o bioma mais afetado pela degradação, com entre 36% (12 milhões de hectares) e 73% (24 milhões de hectares) de sua vegetação nativa remanescente comprometida. Esses números refletem a pressão crescente sobre um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo.

“A fragmentação na Mata Atlântica torna o bioma suscetível a pressões antrópicas que podem levar à degradação e ao colapso de áreas importantes para a conservação”, destaca Natalia Crusco, da equipe Mata Atlântica do MapBiomas.

Cerrado: maior área absoluta degradada

O Cerrado apresenta a maior área absoluta de vegetação degradada, variando de 18,3 milhões a 43 milhões de hectares. Isso representa entre 19,2% e 45,3% da vegetação nativa remanescente no bioma, que é crucial para a conservação da biodiversidade e a manutenção dos recursos hídricos do país.

“O Cerrado é muito fragmentado e as gramíneas invasoras diminuem a biodiversidade, favorecendo incêndios mais frequentes e intensos”, explica Dhemerson Conciani, pesquisador do IPAM.

Pantanal: o fogo como principal fator de degradação

No Pantanal, a área degradada varia entre 800 mil hectares (6,8%) e 2,1 milhões de hectares (quase 19%). Apesar de ser um bioma adaptado ao fogo, a alta frequência de incêndios nos últimos anos comprometeu 9% das formações florestais, áreas particularmente sensíveis ao fogo.

Eduardo Rosa, da equipe Pantanal do MapBiomas, destaca que a remoção de vegetação nativa nas áreas de planalto que circundam o Pantanal interfere na quantidade e qualidade da água que alimenta a planície. “A expansão agrícola e pecuária desprotege o solo e altera os fluxos de água e sedimentos”, detalha Rosa.

Pampa e Caatinga: vulnerabilidade extrema

O Pampa enfrenta uma situação alarmante, com mais da metade da vegetação nativa mostrando algum grau de degradação. A área degradada varia de 1,7 milhão de hectares (19%) a 4,8 milhões de hectares (55%).

Segundo o Eduardo Vélez, integrante da equipe, “o Pampa sofre forte efeito antrópico, aumentando a exposição a efeitos de borda e sobrepastejo”.

Já na Caatinga, os processos de degradação podem resultar em desertificação, afetando entre 9 milhões de hectares (18%) e 26,7 milhões de hectares (54%). O aumento da fragmentação da vegetação nos últimos 37 anos contribuiu para essa situação crítica.

“A degradação e condições climáticas áridas podem levar à desertificação e colapso do solo”, ressalta Deorgia Souza, da equipe Caatinga do MapBiomas.

Amazônia: segunda maior área degradada

Apesar de apresentar percentuais relativamente baixos de degradação (5,4% a 9,8%), a Amazônia, o maior bioma brasileiro, possui uma extensa área degradada que varia de 19 milhões a 34 milhões de hectares. Esses números colocam a Amazônia como o segundo bioma mais degradado em termos de extensão territorial, atrás apenas do Cerrado.

“A degradação na Amazônia pode ser maior do que o identificado devido a outros vetores como extração madeireira e mudanças climáticas”, aponta Carlos Souza Jr., da equipe Amazônia do MapBiomas.

A deterioração da vegetação nativa brasileira representa uma ameaça significativa à biodiversidade, aos recursos hídricos e à estabilidade climática. Por isso, medidas urgentes de conservação e recuperação ambiental são essenciais para reverter essa tendência e proteger os biomas.

Ane Alencar, diretora de ciência do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo, salienta que “a degradação é um processo que, se revertido, permite a recuperação da área. Mas se não for interrompido, pode levar a um colapso, ou seja, o ponto a partir do qual não é mais possível recuperar as características originais”.

Veja a íntegra do estudo aqui.

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