Relatório da FAO/PAM alerta para risco de mortes por fome em Gaza

Segundo o relatório, até 1,1 milhão de pessoas – metade da população de Gaza – correm o risco de morrer de fome no próximo mês.

Metade de população de Gaza em risco de morrer à fome, alerta a ONU Mais de metade dos habitantes da Faixa de Gaza enfrentam "a fome e a morte" de acordo com a FAO e o PAM

Metade da população de Gaza está em risco iminente de enfrentar “morte e fome” em julho, de acordo com um relatório conjunto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e do Programa Alimentar Mundial (PAM). O documento, que destaca a crise humanitária na região, revela que o Norte da Faixa de Gaza já pode estar enfrentando uma situação de fome, conforme alerta a Rede de Sistemas de Aviso Prévio contra a Fome (FEWS NET).

Segundo o relatório, até 1,1 milhão de pessoas – metade da população de Gaza – correm o risco de morrer de fome no próximo mês. Este cenário crítico é atribuído ao “impacto devastador do conflito em curso”, “restrições de acesso e bens” e ao “colapso dos sistemas agro-alimentares locais”. A FAO e o PAM enfatizam que a cessação das hostilidades é essencial para impedir que a situação piore ainda mais.

A FEWS NET, em seu relatório divulgado no final de maio, indica que a fome pode já ser uma realidade no Norte de Gaza. A organização independente estima que mais de 80% da população nesta área pode estar enfrentando uma situação de fome catastrófica, mesmo com o aumento do acesso à ajuda alimentar em março e abril. Três critérios principais para a declaração de fome – consumo inadequado de alimentos por mais de 20% da população, desnutrição aguda em 15% ou mais de crianças menores de cinco anos e aumento da taxa de mortalidade – podem já ter sido atingidos.

Obstáculos à declaração formal de fome

A situação no Sul de Gaza também está se deteriorando, especialmente devido aos impactos da ofensiva israelense em Rafah. O relatório adverte que esta área pode enfrentar uma “catástrofe” alimentar se houver uma “disrupção sustentada e em larga escala” da ajuda alimentar.

Apesar das evidências preocupantes, a declaração formal de uma situação de fome pelo Comité de Avaliação da Fome enfrenta desafios significativos. A invasão militar e os bombardeamentos contínuos por parte de Israel, que começaram em outubro do ano passado, dificultam a coleta de dados necessários para confirmar oficialmente a fome na região.

Os relatórios da FAO, do PAM e da FEWS NET convergem em um ponto crucial: a necessidade urgente de cessar as hostilidades e garantir o acesso seguro e contínuo à ajuda alimentar. Sem uma mudança significativa nas condições atuais, o impacto sobre a mortalidade e a qualidade de vida dos palestinos de Gaza, agora e para as futuras gerações, será devastador.

A comunidade internacional é convocada a responder com urgência e determinação para evitar uma catástrofe humanitária ainda maior em Gaza.

21 países

As ramificações regionais mais amplas do conflito em Gaza estão exacerbando as já graves necessidades de segurança alimentar no Líbano e na Síria. O relatório conjunto da FAO e do PAM estima ainda que os custos dos alimentos no Iêmen devem aumentar diante da crise no Mar Vermelho, agravando ainda mais a situação na região.

De acordo com o relatório, o impacto dos conflitos no crescimento econômico e as tensões geopolíticas no Oriente Médio e Norte da África representam riscos significativos para a economia mundial. As previsões indicam que Myanmar (antiga Birmânia), Síria, Líbano e Iêmen são focos de grande preocupação devido à intensificação dos conflitos, que pode resultar em mais deslocamentos e restrições ao acesso a alimentos e assistência humanitária.

O Haiti foi adicionado à lista de locais que necessitam de “atenção muito urgente”. O país já enfrenta uma catástrofe ou está em risco iminente de tal classificação devido à escalada da violência. O aumento dos deslocamentos e a restrição ao acesso a alimentos são ameaças graves para a população haitiana.

Impactos Meteorológicos

Além dos conflitos, eventos meteorológicos extremos, como chuvas excessivas, tempestades tropicais, ciclones, inundações, secas e aumento da variabilidade climática, estão contribuindo para a insegurança alimentar. O fenômeno La Niña, previsto entre agosto de 2024 e fevereiro de 2025, pode melhorar as perspectivas agrícolas, mas também aumentar o risco de inundações em países africanos e no Haiti.

FAO e PAM destacam a necessidade de “assistência urgente e reforçada em 18 focos de fome para proteger os meios de subsistência e aumentar o acesso aos alimentos”. O relatório conclui que uma intervenção precoce pode reduzir as carências alimentares e proteger os ativos e meios de subsistência a um custo inferior ao de uma resposta humanitária tardia. Também defende “mais investimentos em soluções integradas” para enfrentar a crise.

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